Capita falava alto e grosso

De briga com Tostão a defesa de Adriano, as histórias de Carlos Alberto Torres

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"Ser capitão" como estilo de vida

“Capitão” era mais que o apelido que Carlos Alberto Torres carregou até sua morte - na manhã desta terça (25), ele estava em sua casa ao lado do amigo Ricardo Rocha quando sentiu-se mal e sofreu um infarto fulminante. Simbolicamente, o maior lateral direito de todos os tempos nunca deixou de usar a faixa que eternizou ao levantar a taça Jules Rimet em 1970. Mesmo depois de deixar os gramados, ele sempre brigou pelo que acreditava, ainda que nem todos acreditassem na mesma coisa que ele. Boquirroto, impulsivo e enérgico, Carlos Alberto Torres não entrava em discussões pela metade.

Alguns temas, mais que outros, lhe eram caros. Para ele, por exemplo, era impossível ficar alheio à seleção brasileira. Como podiam, afinal, fazer aquilo com o time que ele defendeu tão bem? Carlos Alberto Torres era especialmente duro com Neymar, em quem não via um capitão à altura. Nada pessoal. Pelé, seu grande companheiro no futebol e na vida, também foi alvo quando se absteve de participar de um evento para ajudar campeões do mundo em necessidade.

O pleito por pensões aos jogadores mais necessitados foi uma bandeira para a vida. À custa de amigos e muitas críticas, ele sempre defendeu uma ajuda àqueles que deram títulos ao Brasil. O futuro do futebol nacional também mexia com o ex-lateral. Carlos Alberto Torres foi embaixador de eventos no país, sempre se colocou à disposição para debates e mais de uma vez tentou colocar as mãos na massa, como quando aceitou ser ouvidor do Brasileiro sem nem saber quanto ganharia por isso.

Não que ele precisasse. Desde que estourou no futebol, Carlos Alberto Torres foi um privilegiado, com projeção internacional e respeitado até o último minuto de vida. Eternizado no esporte mais popular do planeta, era ouvido em diferentes cantos do mundo e sempre esteve próximo do dinheiro que circula no meio. Só que contentar-se com isso nunca foi uma opção. Quando sentiu que era hora, foi para a arena como comentarista, técnico e até político. Não acertou todas as vezes, mas nunca se furtou de tentar. O “Capita” viveu e morreu no front de batalha.
 

Carlos Alberto se metia com tudo e todos

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Xingamentos a Tostão

Carlos Alberto Torres defendia pensão para ex-jogadores pelos serviços prestados. Tostão, colega no tri de 1970, não concordava com a proposta e expôs sua opinião. O "Capita" foi duro no revide: "É um demagogo, pode escrever aí. O Tostão não precisa ficar falando. Ele teve mais sorte do que os outros, é médico, não sei nem se é ele que escreve aquela coluna lá no jornal. Mas tem gente que não foi preparada. Esse filho da p... deveria falar algum tipo de verdade"

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"Sim" sem pensar muito

Em 2003, por força do Estatuto do Torcedor, a CBF teve de designar um ouvidor para o Campeonato Brasileiro. A função do escolhido era reunir as críticas sobre o torneio e encaminhar soluções com a entidade. Carlos Alberto Torres foi convidado e aceitou o cargo sem nem saber quanto receberia ou como poderia trabalhar. O importante era ajudar. Em poucos meses, descobriu-se sem estrutura ou liberdade para tomar atitudes concretas e pouco pôde fazer.

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Respeitem a seleção

Quando o Brasil levou o 7 a 1, não faltou quem colocasse a seleção e sua história em xeque. O "Capita" se chateou e foi pedir a Luiz Penido, narrador da Rádio Globo e influente no Rio, que ajudasse a mudar o cenário. "Ele ficou indignado. Falava para não achincalharem a seleção. Mesmo que a seleção não devolva nunca o 7 a 1, ele dizia que a seleção nunca deixaria de ser o que é. Ele me pedia para usar meu prestígio", disse Penido.

Craque por onde passou e autor de gol antológico

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Em 01, salvou Fla da degola e foi paizão de Adriano, Pet e Athirson

O time mais popular do país nunca foi rebaixado, mas poderia ter sido não fosse pela liderança de Carlos Alberto Torres no final da temporada de 2001. Substituindo Zagallo, o Capita conseguiu unir o elenco contra a queda. O lateral Athirson lembra bem: “O Torres sempre foi um cara sensacional”, disse ele. “Foi um pai pra gente, e nós víamos um espelho nele. Éramos muito jovens e tentávamos tirar todo o proveito da inteligência que ele tinha.”

Torres também deu segurança e conforto a alguns jogadores que despontavam da base e precisavam enfrentar a pressão de jogar pelo Flamengo. Um dos que se firmaram no time sob a batuta do técnico mais tarde se tornaria o principal centroavante do futebol brasileiro. “Torres foi um dos grandes responsáveis por lançar o Adriano no profissional, no momento certo para não queimar o atleta”, disse Athirson.

“Devo muito a ele”, reconheceu Adriano. “Foi muito importante no início da minha carreira. Estou muito triste com a morte do Capita. Oro para que esteja em paz e que Deus conforte sua família.” Torres também foi apontado como o responsável por amenizar a guerra de egos entre os atletas mais experientes daquele time. Petkovic e Edilson, dois dos expoentes do elenco, fecharam com o “Capita” na reta final do Brasileiro e ajudaram a evitar que o Flamengo vivesse o maior vexame da sua história.

“O Carlos Alberto foi importantíssimo pro Flamengo não cair”, disse o então vice de futebol rubro-negro Walter Oaquim. “O Pet, eu gosto muito dele, mas era uma figura difícil. Quando entrou o Carlos Alberto, o Pet melhorou muito seu comportamento. O Carlos Alberto ficava jogando gamão na concentração e, com esse estilo dele, ajudou a melhorar o clima entre os jogadores.”
 

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Campeão em 83, expulsou torcida e peitou imprensa no Fla de Zico

O capitão do tri mundial teve sucesso logo em sua primeira empreitada como técnico. Carlos Alberto Torres foi campeão brasileiro com o Flamengo em 1983. E fez jus ao status ao se tornar um líder do time: aboliu a concentração, expulsou torcedores e até peitou a imprensa para proteger seus jogadores. Em um episódio curioso, Carlos Alberto foi criticado por escalar o iniciante Bigu. Sem titubear, bancou o novato, mesmo tendo um estrelado elenco com Júnior e Zico.

“O Bigu vinha dos juniores e ele viu a necessidade de colocar. E todo mundo criticou na época: ‘mas o Bigu vai jogar?’. Aí ele falou: ‘meu time é Bigu e mais dez’. Isso demonstra muito bem quem ele era, não fez isso por ele ou pelo Flamengo, fez para valorizar o Bigu. E o grupo entendeu”, conta o goleiro do time na época, Raul Plassmann.

Foi também pelos atletas que Carlos Alberto chegou a expulsar torcedores de um ônibus. Eles acompanhavam o time na disputa do Mundialito em 1983, na Itália. “A Terezinha [Sodré, atriz], que era a mulher dele na época, viu que alguns torcedores reclamaram de alguns jogadores: ‘pô, tem de tirar fulano’. Na volta do jogo, os caras pediram uma carona no ônibus para irem do estádio ao hotel. Ele ficou sabendo dentro do ônibus. Mandou parar o ônibus na hora, descer os torcedores e esbravejou: ‘Fiquei sabendo agora que vocês estavam xingando os jogadores’”, conta Raul aos risos.

Naquele ano, o técnico assumiu o Flamengo já com o campeonato em andamento e o time formado. Preferiu fazer o simples e ser apenas o maestro da orquestra.  Mas ainda atendeu as solicitações dos jogadores e aboliu a concentração.  “Ele acabou com a concentração, fazendo algumas inovações que mostrava que você podia fazer o seu trabalho digno sem precisar ficar trancafiado”, conta o Júnior, ex-jogador e hoje comentarista da TV Globo.
 

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No Botafogo sem dinheiro para coletes, o maior título

Capitão da seleção brasileira na conquista da Copa de 1970, Carlos Alberto Torres foi personagem de alguns dos momentos mais revisitados na história do futebol. Em nenhum deles, contudo, ficou tão nervoso quanto na decisão da Copa Conmebol de 1993. Na época, o ex-jogador era treinador do Botafogo, que jamais havia vencido o torneio e bateu o Peñarol nas penalidades na partida final. “Ele dizia que cansou de ganhar títulos internacionais quando era atleta, mas nada tinha a emoção daquela Conmebol. Foi o dia em que ele ficou mais tenso – principalmente por causa dos pênaltis. Ele não tinha hábito de roer unhas, mas naquela noite comeu até os dedos”, relatou Luiz Penido, companheiro do "Capita" na época em que o ex-jogador foi comentarista da Rádio Globo.

O título da Conmebol era o mais citado por Carlos Alberto quando falava sobre a carreira como técnico. “A gente tinha um time limitado, considerado um dos piores que o Botafogo já montou, mas ele conseguiu tirar leite de pedra”, disse Sinval, autor de oito gols e artilheiro daquele torneio. “Na base da motivação, ele conseguiu que um grupo de jogadores pouco expressivos levantasse um título muito importante”, adicionou Marcio Guedes, jornalista que na época acompanhava o cotidiano do clube para a publicação “O Dia”.

Duas histórias de Carlos Alberto foram especialmente marcantes naquela campanha. Durante o torneio, o treinador reclamou do nível de um coletivo. Parou a atividade com apenas 15 minutos, pediu que os jogadores fossem embora e que preferiu recomeçar no dia seguinte. Na decisão, expôs novamente o estilo passional e foi expulso. “Sobrou uma bola na lateral, e ele deu um bico para a arquibancada”, disse Sinval. “Ele era um pouco rude e bem nervoso. Foi para cima do árbitro na reclamação”, continuou o artilheiro.

Jogadores que fizeram parte daquele elenco do Botafogo mantêm contato até hoje. Ajudados pela tecnologia, trocam mensagens pelo aplicativo WhatsApp e até agendaram um encontro para o dia 17 de dezembro. Carlos Alberto havia confirmado presença. “Foi meu pai no futebol. Quando cheguei ao Botafogo, tinha sido vice-artilheiro do Paulista pelo Novorizontino. Fiz um coletivo de manhã e não treinei à tarde porque não tínhamos camisas. No dia seguinte, atividade cancelada porque faltavam bolas. Ele tirou dinheiro do bolso para termos o mínimo de estrutura”, afirmou Sinval.
 

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Casamento com atriz e vida na high society

O status de ídolo depois do título de 1970 e a experiência de morar nos Estados Unidos sofisticaram a vida social de Carlos Alberto Torres. No entanto, o ex-jogador se habituou às páginas de celebridades depois do relacionamento com a atriz Terezinha Sodré.

O casal Carlos Alberto e Terezinha permaneceu 17 anos junto e, durante os anos 80, esteve entre os mais requisitados entre as personalidades badaladas pela mídia. Com a esposa, Capita protagonizou comercial de TV e frequentou festas da alta sociedade, entre outros eventos.

O antigo lateral apreciava o melhor da vida. Um exemplo disso aconteceu em um episódio quando treinava o Flamengo. Durante uma excursão pela Itália, Carlos Alberto repreendeu um jogador que vestia um calçado simples em “plena terra da moda”.

Nos últimos anos, mesmo depois de parar como treinador, o campeão mundial preservou seu status de celebridade do futebol internacional. Em 2006, na Copa da Alemanha, Carlos Alberto esteve entre os convidados VIPs de festejos na cidade de Colônia, que duraram todo o torneio.

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Carlos Alberto foi determinante para fazer Pelé campeão nos Estados Unidos

Carlos Alberto Torres foi um dos principais companheiros da carreira de Pelé. Juntos, ganharam a Copa de 1970 no México e assombraram o mundo no auge do Santos. Mas, além do amarelo da seleção e do branco santista, a dupla de ídolos também vestiu o verde do New York Cosmos por alguns jogos.

Quem acompanhou a saga do New York Cosmos na década de 70 assegura que sem Carlos Alberto Pelé jamais teria sido campeão nos Estados Unidos. O rei já havia sido frustrado nos playoffs de 1975 e 1976 e disputava seu último torneio na liga americana, pois havia programado a aposentadoria definitiva para 1977. Naquele ano, o time fora reforçado pelo craque alemão Franz Beckenbauer e ainda contava com o goleador italiano Giorgio Chinaglia. Mesmo assim, a equipe oscilou bastante durante toda a disputa e dava sinais de que poderia repetir as frustrações anteriores.

Carlos Alberto chegou aos Cosmos neste momento, em julho de 1977, bem na reta final da temporada da NASL (North American Soccer League), faltando apenas quatro jogos para o desfecho do torneio. A adição do brasileiro acabou sendo decisiva para melhorar a performance do time. O título veio com vitória sobre o Seattle Sounders, na última partida de Pelé como jogador profissional.

"Agora nós temos Pelé, nós temos Beckenbauer, nós temos Chinaglia. Mas, o resto... nós precisamos de mais", afirmou Beckenbauer, especificamente sobre a contratação de Carlos Alberto, em depoimento para o filme "Once In A Lifetime - The Extraordinary Story of The New York Cosmos".

"Na minha opinião, a mais importante contratação do ponto de vista de time foi Carlos Alberto", relembrou Raphael de la Sierra, vice-presidente do Cosmos na década de 70, em testemunho para o mesmo documentário sobre o título de 1977.

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Beckenbauer só trabalhou na Copa de 2014 por causa de Carlos Alberto

Campeão mundial como capitão e técnico, Franz Beckenbauer é um dos maiores nomes da história do futebol alemão. Também foi um fã incondicional de Carlos Alberto Torres.

A relação de alemão e brasileiro não era apenas de amizade, e isso ficou claro num episódio vivenciado pelo jornalista Luiz Penido, companheiro do capitão do tri na época em que ambos trabalhavam na Rádio Globo. "Beckenbauer veio ao Brasil e ligou para ele. Eu fui junto ao aeroporto, e aí me chamou atenção a deferência com o Carlos Alberto. O Beckenbauer era fascinado por ele e se comportava como um fã, mesmo", relatou.

Carlos Alberto foi um dos alicerces do programa "É Campeão", principal atração do canal fechado Sportv para a Copa de 2014. O programa reunia o brasileiro, Beckenbauer, o italiano Fabio Cannavaro, o argentino Daniel Passarellla e o alemão Lothar Matthäus, que também venceram o Mundial como capitães. E a presença deles tem relação direta com o dono da braçadeira de 1970.

Beckenbauer, especialmente, só aceitou participar do programa porque Carlos Alberto era um dos protagonistas. "Verdade que houve contrato e pagamento, mas ele não estaria se não fosse o Capita", relatou o apresentador André Rizek.

A também apresentadora Domitila Becker passou um dia com cada capitão e notou que todos "babavam" por Carlos Alberto: "Beckenbauer e os demais ficavam olhando com admiração para ele. Ali eu vi o tamanho daquele homem para o futebol mundial".

Na última terça-feira (25), Beckenbauer fez questão de homenagear o brasileiro. "Heidi e eu estamos profundamente chocados. Carlos Alberto era como um irmão para mim. Um dos meus melhores amigos", escreveu o "Kaiser" na rede social Twitter, relatando o impacto da notícia para ele e a atual esposa.

Todos esses exemplos contribuem para mostrar o tamanho do personagem Carlos Alberto Torres em âmbito internacional. "Ele é muito respeitado. Vivia recebendo convites para participar de coisas lá fora. Muito mais do que no Brasil, até. Lá fora ele sempre foi considerado um jogador espetacular e uma figura muito bacana", ponderou o jornalista Marcio Guedes, que manteve um convívio próximo de Carlos Alberto desde 1993.

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Flu ou Botafogo? Carlos Alberto Torres escondia time até de filhos e netos

Após um dia inteiro de dor e silêncio, o ex-zagueiro Alexandre Torres só encarou microfones e perguntas para falar sobre a morte de seu pai já na madrugada desta quarta-feira (26). Tímido e com a já conhecida voz baixa, ele não escondia a emoção durante o velório na sede da CBF. A tristeza também deixava os olhos marejados. O leve sorriso só apareceu quando questionado sobre o time de coração de Carlos Alberto Torres.

Na primeira tentativa da reportagem, ele apenas riu. Na segunda, deixou o silêncio de lado. "Tá aí algo que nunca vou saber", se esquivou. Perguntado se o Capita torcia para Fluminense ou Botafogo, brincou. "Ele falava lá em casa que torcida para o Cosmos [time de Nova Iorque que defendeu no final da carreira]".

O mistério passava por gerações na família Torres. "Meu filho perguntava e ele não falava, os netos nunca sabiam. Era uma dúvida geral. Ele deixava esse assunto quieto. Não sei mesmo. Mas agora deixa para lá", comentou Alexandre Torres.

No velório, a família também evitou qualquer ligação com clubes. Filhos, esposa e netos solicitaram que nenhum símbolo de time fosse colocado sobre o caixão, que ficou coberto apenas com uma bandeira do Brasil.

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Morte causa choro no Sportv e faz Rizek improvisar no ar

André Rizek tinha acabado de sair do ar quando a notícia da morte de Carlos Alberto Torres chegou ao Sportv. Em cinco minutos, estava de volta, em frente às câmeras, dando a informação. “Não preparei nada. Conhecia a carreira do 'Capita' de cor e fiz um depoimento pessoal”. Passadas três horas, o apresentador ainda tinha dificuldade para falar. Lembrou que o ex-jogador pedia para entrar na escala de programas do Sportv, mesmo naqueles que não estavam em seu contrato. Ele não era o único triste. Domitila Becker voltou com a programação normal apresentando o “É Gol” com lágrimas nos olhos e voz embargada (veja a cena aqui).

O Carlos Alberto Torres dos bastidores era bem diferente da persona mal-humorada que ele apresentava na TV. A lista de pessoas chorando com a notícia incluía camareiras e maquiadoras, que sempre tiveram contato próximo com o ex-jogador. Domitila conta que o “Capita” levava biscoitos para todos, principalmente nos fins de semana, em que não há restaurantes abertos. Pequenos mimos e carinhos constantes com os colegas. Bárbara Coelho, outra jovem apresentadora do canal, era próxima a ponto de ter um almoço marcado com ele para esta terça-feira.

O ex-jogador era um grande incentivador da comandante do “Tá na Área”. Ligava para dar parabéns e dava moral na frente de outras pessoas: “Essa menina gosta muito de futebol”, dizia ele. Para Bárbara, é um exemplo de generosidade e carinho para quando ela for mais madura. “Eu quero ser, como pessoa, a pessoa que ele foi. Sem dúvidas, uma das melhores que conheci”.

No ar, o "Capita" batia duro. Veja o que ele dizia:

  • Geração atual da seleção

    "Quando chegam lá (na Europa), são todos profissionais e aqui ficam de oba-oba. Enquanto não mudar comportamento extracampo, não vai mudar nada. Os caras não estão nem aí se o Brasil vai ganhar ou não. Antigamente, dependiam da Seleção para fazer um bom contrato. Agora jogam lá fora, que se dane"

    Imagem: Pedro Martins/Mowapress
  • Neymar

    "Primeiro eu pediria a ele que tivesse a humildade de devolver a faixa de capitão, porque não combina com ele. Todo mundo no meio fala, não sou só eu que tô falando. O Pelé nunca foi capitão, nem Garrincha, Ronaldo, Rivaldo. Por que ele tem de ser capitão? Livra ele dessa responsabilidade e deixa ele jogar"

    Imagem: AFP PHOTO / RODRIGO BUENDIA
  • David Luiz

    "O Felipão vai ter que dar um puxão de orelha nesse zagueiro David Luiz, que é metido a xerife. Ele faz coisas fora da área, já fazia desde o Campeonato Inglês, que a gente assiste aqui. E tem que dar uma chamada, se não ele vai deixar o time na mão"

    Imagem: Xinhua/Lui Siu Wai
  • Ronaldinho Gaúcho

    "Vai completar agora dois anos da Copa de 2010 e, desde que terminou a Copa, nós sabíamos que a seleção ia precisar de uma renovação, mas cadê a renovação? A gente vê alguns novos nomes, mas não há renovação. O que a gente vê é um Ronaldinho convocado para ser capitão da seleção. Eu que já fui capitão me sinto desprestigiado"

    Imagem: Wagner Carmo/VIPCOMM
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Aos olhos do mundo, Carlos Alberto foi grande escudeiro de Pelé

Pelé esteve ao lado de muita gente ao longo da mais vitoriosa carreira que o esporte já viu. Carlos Alberto Torres não foi só um deles. Para um estrangeiro, foi o lateral-direito o maior parceiro do Rei em um campo de futebol, dividindo honras com ele em Santos, seleção brasileira e NY Cosmos. O “Capita”, diga-se, sempre fez por merecer, brigando as brigas do amigo ao longo de uma vida inteira – na biografia da dupla, entreveros nunca passaram de problemas pontuais. Quando o legado real foi de alguma forma questionado, seja na comparação com Maradona ou na repercussão de alguma gafe do amigo, lá estava o fiel escudeiro.

A imagem construída tem a ver com o valor simbólico de 1970. Carlos Alberto Torres ergueu a taça mais importante da história e ainda marcou um dos gols mais belos das Copas – com passe de Pelé. Foi ele, mais que craques como Gérson, Tostão, Rivellino ou Jairzinho, quem soube aproveitar aquele furacão.

Carlos Alberto Torres criou laços importantes durante a aventura nova-iorquina e passou a ser a cara do futebol brasileiro em determinados circuitos. Foi garoto-propaganda de marcas como Coca-Cola e Visa e sempre soube explorar, tal qual Pelé, sua imagem de ex-jogador. Na Copa de 2014, por exemplo, era o tricampeão mais visível e reverenciado dos tricampeões mundiais. Se Pelé era o cume da experiência futebolística, o “Capita” estava poucos degraus abaixo.

A cronologia de Carlos Alberto Torres

  • O início no Fluminense

    Nascido no Rio de Janeiro, Carlos Alberto começou no futebol como jogador do Fluminense, time que defendeu de 1963 a 1964. Chamou atenção por ser um lateral com ofensivo, algo raro na época.

  • O primeiro título com a seleção brasileira

    Aos 18 anos, já titular do Flu, Carlos Alberto recebeu pedido da CBD: adiar a assinatura do 1º contrato profissional para ser elegível ao Pan de 1963, em São Paulo. Seguiu amador e conquistou o ouro.

  • A consolidação no Santos

    Carlos Alberto já era considerado um dos melhores do país na posição em 1965, quando trocou o Flu pelo Santos. Na Vila Belmiro, estabeleceu-se como referência em um dos times mais vitoriosos da história.

  • O capitão do tri

    Em 1966, Carlos Alberto foi convocado para a Copa e acabou cortado. Quatro anos depois, voltou a ser chamado para o Mundial e se tornou o último capitão a erguer a taça Jules Rimet.

  • A rápida passagem pelo Botafogo

    Em 1971, Carlos Alberto trocou o Santos pelo Botafogo. Fez apenas 22 jogos em três meses pela equipe carioca. Sofreu lesão no jogo que definiu o título estadual daquele ano e o Flu ficou com a taça.

  • A volta ao Santos e a volta ao Rio

    Depois do Botafogo, ainda em 1971, Carlos Alberto voltou ao Santos. Permaneceu na Vila Belmiro até 1974, quando fechou com o Fluminense. Em 1977, trocou o time tricolor pelo rival Flamengo.

  • O fim da carreira nos Estados Unidos

    Carlos Alberto deixou o Brasil em 1977, quando saiu do Flamengo para defender o New York Cosmos. Passou pelo California Surf em 1981, mas voltou ao Cosmos no ano seguinte para encerrar a carreira.

  • O histórico de títulos

    Foram três Estaduais do RJ (64, 75 e 76) no Fluminense. No Santos, uma Recopa Sul-Americana (68), cinco Paulistas (65, 67, 68, 69 e 73), uma Taça Brasil (65), um Robertão (68) e um Rio-São Paulo (66).

"Um dia muito triste para o Brasil"

  • BBC

    A emissora inglesa chamou Carlos Alberto de lenda, chamou o gol dele na final da Copa de 1970 de icônico e ressaltou que o dia era muito triste para o futebol brasileiro

    Imagem: Reprodução/Twitter
  • L'Équipe

    O gol de Carlos Alberto na Copa de 1970 foi lembrado na França. Foi chamado de lenda, além do fato do gol dele ter sido eleito o mais bonito dos Mundiais várias vezes.

    Imagem: Reprodução/Twitter
  • El Pais

    O El Pais foi além do gol e dos elogios ao chamar Carlos Alberto de lendário. O jornal destacou sua passagem por Fluminense, Flamengo e Santos e disse que ele atuou em uma das melhores seleções da história.

    Imagem: Reprodução
  • Marca

    Morre Carlos Alberto, autor de um gol que fez história. Assim manchetava o espanhol Marca para falar sobre a morte do brasileiro. A publicação ainda exalta que Carlos Alberto deixou imagem positiva pelos clubes que passou.

    Imagem: Reprodução

Juca Kfouri: "O Capita não morreu"

O lance está imortalizado na história do futebol. Tostão desarma um adversário e dá para Gérson que entrega a bola para Clodoaldo na intermediária brasileira. Clodoaldo se livra de três rivais com dribles secos e passa para Rivelino no meio de campo, quase na linha lateral esquerda.

Riva estica para Jairzinho que jogava pela direita, mas que estava no lado oposto. Jair parte em diagonal para a cabeça da área onde está Pelé que gira o corpo sem olhar e toca para o vazio do lado direito. O vazio é preenchido por Carlos Alberto Torres que, de primeira, rasteiro, forte, faz o quarto gol do Brasil.

Tostão é o primeiro a abraçá-lo. Final da Copa do Mundo de 1970, Brasil 4, Itália 1, última vez em que a Taça Jules Rimet esteve em disputa. Minutos depois do gol, o troféu mais cobiçado da Terra está erguido ao céu pelas mãos do capitão da Seleção Brasileira, pelas mãos do Capita, pelas mãos de Carlos Alberto Torres.

Imortal.

Análise: Carlos Alberto tem lugar definitivo na história do futebol mundial

Milton Neves: "Carlos Alberto Torres foi o Pelé da lateral"

Eu sou um ‘pelezista’ desde 6 de agosto de 51, mas sou o maior Carlos Alberto FC do futebol brasileiro e não é de agora não. Na minha coluna eu dei um pau, um cacete no Carlos Alberto Torres. Porque ele escolheu o maior do mundo de todos os tempos e ele falou do Pelé, do Maradona. Garrincha, do Cruyff, no Beckenbauer, o grande amigo do Carlos Alberto Torres,  que o chamava de Carlos. O Franz Beckenbauer deve estar muito triste hoje. Eu falei: ‘Carlos Alberto, como você coloca esses caras, Maradona, Pelé...Você não entende nada de futebol. Você esqueceu de Carlos Alberto Torres’!

Como pode esquecer de Carlos Alberto torres? Tem que falar dos cinco maiores e tem que colocar o Calor Alerto Torres! O maior lateral de todos os tempos. Meu ídolo do Santos, titular da seleção. Quantas entrevistas fiz. O Pelé da lateral direita. É o mais completo lateral de  todos os tempos melhores da hitória do Santos, Flamengo, Fluminense, Botafogo e seleção brasileira. Não estou falando isso agora. O Djalma Santos também era grande, mas o  Carlos Alberto era perfeito. Morre Carlos Alberto Torres, o Pelé da zaga e da lateral-direita. Ele passava por mim no alambrado, era um trator. Ninguém conseguia parar o Carlos Alberto. É meu ídolo, grande jogador.
 

Milton Neves, em seu comentário na Rádio Band News FM. 

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Opinião dos outros blogueiros

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Ser capitão de Pelé, Gérson, Rivellino, Tostão, Jairzinho, Piazza, Clodoaldo. Ser lateral da maior seleção de todas, essa de 1970. Ser um dos maiores laterais-direitos - se não o melhor - de todos. Precisa falar mais do que ele falava mais alto e mais grosso?
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