Enquanto milhares de pequenos cursos d’água se buscam para começar a formar o São Francisco, o maior rio inteiramente brasileiro, Juliana Tozzi lança os olhos sobre a trilha de pedras pensando em um jeito de chegar ao alto da montanha sem cair.
A trilha tem pedras muito grandes e outras muito pequenas que rolam montanha abaixo. Árvores do Cerrado se agarram à roupa e aos braços, mas Juliana não pode superá-los sozinha porque perdeu parte dos movimentos e a capacidade de se equilibrar. Para vencer a montanha, ela precisa da ajuda de três homens.
Atrás, empurrando a cadeira que ele mesmo projetou, Guilherme Simões também carrega nas costas o filho do casal, Benjamin. À frente, se revezam o guia da expedição, Hélder, e seu amigo Boca, um paulistano que trocou a vida agitada na zona norte por uma pousada rústica no interior de Minas.
Quando o grupo chega aos 300 metros de altura, Mariana, a outra guia da expedição, avisa que a trilha ficará ainda mais íngreme. Um paredão se estende por alguns metros até chegar ao mirante de onde se tem uma vista exuberante da serra. Desafiando o paredão, Juliana sorri em silêncio e se agarra a sua cadeira, que balança ao lutar contra as pedras.
Em algum lugar ali perto, invisível por trás da montanha, o São Francisco se derrama em uma cachoeira de 186 metros, a sexta maior do país.