"Tropa de Elite" se tornou o filme brasileiro mais visto em 2007 e ampliou o fenômeno para além dos cinemas. O público deixava as salas fazendo eco das falas do Capitão Nascimento e levava para as mesas de bar a discussão sobre corrupção, descriminalização das drogas e as táticas violentas da polícia. De um jeito ou de outro, Nascimento personificou um sentimento real da população: justiça e segurança a qualquer preço.
Pimentel conta que acompanhou sessões de "Tropa" de Bangu ao Leblon. Em todos os lugares, a mesma cena se repetia: "Pessoas aplaudiam as cenas de tortura. Quando o policial do Bope fazia menção de enfiar um cabo de vassoura no ânus de um bandido e o bandido confessava, as pessoas davam gargalhada no cinema, independente da classe social, do bairro, da formação acadêmica", lembra. "O cara tomava Rivotril, e era um herói." Pouco antes da estreia, ao ter seu Rolex roubado no Rio de Janeiro, o apresentador Luciano Huck pediu por mais segurança: "Chamem o comandante Nascimento!".
Para Padilha, o público ignorou o comportamento "inaceitável" do personagem por conta da "relação diária que a população tem com criminosos violentos e policiais corruptos". Alguns viam o filme como o retrato cruel da corrupção sistêmica, enquanto outros enxergavam em suas duas horas um panfleto para o fascismo.
A "Folha de S.Paulo" chamou o filme de "desumano e autoritário": "Não dá para aplaudir nem sob tortura". Uma ONG de direitos humanos entrou na Justiça para proibir a exibição por "espetacularizar" a tortura. Policiais também agiram para censurar o filme, mas por denunciar práticas da corporação.
"Ganhamos todas as ações", diz Padilha, que, após "Tropa de Elite 2" (2010) sofreu uma tentativa de sequestro. "Me vi forçado a ter segurança em tempo integral. Depois de um tempo, e apesar de amar o meu país, achei melhor viver de outra forma". O cineasta mora em Los Angeles há três anos.
Silêncio e prêmio em Berlim
Foi com a polêmica na bagagem que "Tropa" estreou no tapete vermelho do Festival de Berlim em 2008. Após a última cena, em que Mathias mira na cara do traficante Baiano, não houve aplausos nem vaias. Era como se a plateia não soubesse como reagir a um filme tão forte e impactante.
Nos dias que se seguiram, o filme foi duramente atacado pela crítica e se tornou um dos competidores mais comentados daquela edição. Sem unanimidade, o presidente do júri, o cineasta franco-grego Constantin Costa-Gravas, ícone cultural da esquerda e do cinema político, bancou o prêmio máximo. O Brasil levava para casa seu segundo Urso de Ouro.
Hoje, a acusação de ser um filme fascista ainda incomoda Padilha. "É [uma visão] equivocada, com fortes tendências de patrulha ideológica".