E Leia não seria Leia se não fosse por Carrie Fisher. Mesmo desconfortável com as exigências que a indústria fazia em relação à sua aparência e em colocar sua vida ainda mais sob os holofotes (ela era filha dos atores Debbie Reynolds e Eddie Fisher), a jovem Carrie se apropriou da personagem, já sabendo que sua trajetória estaria para sempre ligada à personagem.
"As pessoas me perguntam por que decidi voltar. Sempre estive em 'Star Wars'. Nunca não estive em 'Star Wars', mas agora talvez eles voltem a me pagar", contou a atriz, rindo, em uma entrevista à revista "Rolling Stone" antes do lançamento de "O Despertar da Força", em 2015. "Eu estou eternamente em 'Star Wars'".
Eu sou Leia, e Leia sou eu. Nós nos sobrepusemos porque minha vida foi muito caricata, parece um filme de super-herói. Nessa idade, seria ridículo se eu tivesse um problema com isso.
Carrie Fisher, à revista "Time Out", em 2015
Uma das maneiras das quais sua vida se confunde foi o caso que a atriz e o ator Harrison Ford tiveram no set de "Uma Nova Esperança", revelado pouco antes da morte de Fisher. Outra é o modo como a pessoa real também inspirou muita gente, tanto quanto sua personagem, ao lidar com fama, problemas com drogas e o transtorno bipolar de forma pública. E sem perder o bom humor.
"O que eu acho incrível da Carrie é que ela tinha todos os defeitos do mundo, mas ela não se levava a sério. Ela lutou contra o vício, contra os problemas mentais que teve, e não perdeu o humor, não perdeu a garra. Eu acho que ela é um exemplo por causa disso", acredita Marcelle Mello Suazquita, que fez uma tatuagem de Leia pouco depois da morte da atriz.
O sentimento reverbera também entre o elenco que conviveu com Fisher no ser de "O Despertar da Força" e de "Os Últimos Jedi".
"Sempre tivemos Carrie, não apenas Leia", concorda Laura Dern, 50, que se junta ao "Episódio VIII" como uma aliada de Leia, a Vice-Almirante Holdo. "A gente fala de pessoas corajosas ou destemidas e, por sorte, conheci quem se encaixasse nessa descrição, mas não que conseguissem fazer isso sem se envergonhar. E é o que me emocionou mais sobre o ícone que ela nos deu, tanto a personagem quanto a atriz. Que é: se apresentar de maneira tão transparente e fazer isso sem vergonha, e dividir sua história. E esperar nada menos do que isso de todas nós".
"Tem tantas memórias que é difícil dizer que exista uma que sobressai", revelou ao UOL Adam Driver, 34, o novo vilão Kylo Ren --e filho de Leia e Han Solo. "Apenas quem ela era como pessoa, e como lidou com esse trabalho com um forte senso de ironia e personalidade. É algo raro, especialmente em pessoas da minha geração. Isso te lembra de não levar as coisas tão a sério".
"Algo da Carrie que realmente me inspira, e que é algo que só percebi recentemente, é quanta coragem é necessário para ser você mesma quando você ocupa uma posição pública", completa Kelly Marie Tran. "Ela fazia isso sem remorso, e de forma tão aberta, e é algo que estou tentando fazer, e é difícil. Acho que ela sempre será um ícone como Leia, mas também como Carrie. Eu tive muita sorte de conhecê-la, e acho que ela vai viver mesmo para sempre".
Mesmo que a imagem de Fisher continue gravada na memória das fãs por muitas gerações, com a morte da atriz é difícil imaginar como os produtores e cineastas vão resolver o desfecho da general Leia. Ela havia finalizado as filmagens do "Episódio VIII" e o diretor Rian Johnson decidiu não modificar a história, mas ainda falta um filme para concluir a trilogia, e a chefona da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, já anunciou que Leia não voltará.
Sem muitos spoilers: a presença de Fisher é uma das melhores coisas de "Os Últimos Jedi", e ela com certeza fará muita falta no "Episódio IX". Mas, ao que parece, o futuro das mulheres de "Star Wars" está em boas mãos.