Na manhã do show em Porto Alegre (dia 13 de outubro), embora o clima estivesse tranquilo, o lobby do hotel reunia muitos fãs. Enquanto eu esperava a liberação de um quarto, observava o movimento de equipe (boa parte de caras conhecidas de outras turnês) e seguranças. Você precisa saber quem são as pessoas próximas e os hábitos de seu ídolo. Há mais de 20 anos Paul é escoltado por Mark Hamilton, um cara que parece o Clint Eastwood e virou seu apelido. Se o "Clint" estiver por ali certamente o Paul está.
Outros dois funcionários da escolta pessoal do Paul também podem dar bons indícios de que o "boss" (como eles o chamam) está por perto. A dupla Mike e Chris (dois grandalhões veteranos) também é velha conhecida e está sempre na cola de Paul. Já passava de meio-dia e seguranças do hotel iniciaram um cordão de isolamento próximo aos elevadores. No lobby surgiram Mike e Chris. Seguranças ficaram em volta e nenhum fã chegou perto. A essa altura já havia cerca de 30 pessoas por ali, muitos com camisetas de Paul e Beatles, segurando capas de discos e sempre com celulares e câmeras.
Os músicos da banda passaram pelo lobby sem interagir com o público. Lá fora já se formava uma aglomeração, separada por grades de contenção. Dentro do hotel, a tensão aumentava. Amigos de fãs hóspedes entravam sem grandes problemas e iam se enfileirando. A segurança do hotel já restringia a circulação de pessoas no corredor.
Somente essa inquietação denunciava que Paul deveria estar no hotel. Já tem sido praxe ele desfilar pelo lobby de onde está hospedado, numa espécie de ritual incomum a celebridades de sua categoria. É um protocolo que ele faz questão de cumprir antes do show, assim como abrir a janela do carro chegando ao estádio, devidamente escoltado por batedores da polícia, que chamam ainda mais a atenção.
A segurança então reforçou o isolamento dos fãs no lobby, criando cordões com fitas. A essa altura a ansiedade já era imensa. Um grupo de amigas bem informadas me convidou para almoçar em um restaurante ao lado do lobby. “Não saio daqui por nada”, disse a elas, que tranquilamente deram uma informação preciosa: conseguiram saber por uma camareira que Paul pedira almoço no quarto às 14h30, ou seja, antes das 15h ele não desceria.
Mas decidi ficar por ali mesmo, alimentando meu estresse. Outra informação relevante que as seguidoras mais assíduas de Paul em hotéis me falaram: enquanto os seguranças estivessem de camiseta, bermuda e moletom, o "boss" não desceria. “Eles precisam estar vestidos de terno, ou de camisa polo e calça. Nunca estão perto de Paul sem estarem mais bem vestidos", alertou-me uma delas. De repente os seguranças sumiram, o carro (um sedã Mercedes preto, usado por Paul um dia antes), parado na porta do hotel não estava mais ali e a desconfiança era de que ele tivesse decidido sair pela garagem.
A suspeita durou pouco tempo. Minutos depois surgiram Mike e Chris, agora sim, de camisas polo, calças sociais, todos de preto. O clima foi ficando ainda mais apreensivo, enquanto cerca de 50 a 60 fãs se aglomeravam no pequeno lobby. A segurança resolveu então trazer lá de fora algumas grades, iguais àquelas que colocam em shows, para isolar os fãs. Não havia mais dúvidas. Eu me coloquei em posição bem estratégica, quase na saída, e poderia me apoiar na grade.
Chamar a atenção do ídolo diante de tantos fãs não seria tarefa fácil. Levei um urso Rupert, que só um fã das antigas sabe que o Paul gosta. A ideia não era entregá-lo a Paul, queria apenas usá-lo para chamar a atenção. Já próximo das 16h um dos elevadores estava “estacionado” no 21º andar, o da suíte presidencial. Grande movimento de seguranças e isolamento anunciavam a passagem próxima de Paul pelo lobby. A gritaria veio ao abrir a porta do elevador e era preciso aproveitar todos os segundos.
Opto por não filmar, até porque todos em volta estavam com celulares a postos. Paul aparece a passos largos, iluminado pelos flashes. Passa pelo balcão e se aproxima de fãs, dando a mão a vários. Balanço freneticamente o urso vestido de vermelho e amarelo. Quando passa à minha frente, Paul vê o Rupert e o puxa pelo pescoço. "Para mim?", pergunta, em inglês. Digo que não, tento um autógrafo, mas ele apenas diz, “Não? Ok!”.
Foram milésimos de segundos que nunca esquecerei. Na sequência continua cumprimentando fãs e sai pela porta. Sim, esse foi o dia que eu disse “não” a Paul. Mas eu não quis dar o urso que comprei em Londres e guardo com tanto carinho. Já faz tempo que Paul aceita presentes, mas é sabido que ele os dispensa em uma caixa com tudo o que recebe pessoalmente. Alguns dizem que são doados, outros dizem que seguem para o lixo.