Do descaso ao recomeço

Prefeitura de Salvador dá novo sentido à vida de 257 famílias que viviam em barracos com teto de plástico

oferecido por Selo Publieditorial
Reprodução/Divulgação

Sobrevivente de um incêndio que destruiu o antigo barraco em que morava, Vanderlice Reis, 76, nunca perdeu a fé. Assim como familiares e vizinhos, que pouco puderam salvar no fatídico episódio, a aposentada levava consigo uma certeza: mais cedo ou mais tarde, o futuro reservaria dias melhores.

A reviravolta não tardou. Aconteceu em 6 de abril de 2018. Naquela data, as primeiras 125 famílias da não mais inóspita ocupação receberiam da Prefeitura de Salvador as chaves de unidades habitacionais que, enfim, devolveram o direito de viver com dignidade. Vanderlice, a senhora sorridente e de conversa solta, comemorou a transformação que estaria por vir.

E não sem motivo.

A partir de então, a antiga Cidade de Plástico - invasão que perdurou por longos 14 anos - deixaria para trás lembranças de um passado precário, em que não havia sequer acesso ao mínimo para sobreviver. Faltava de rede de esgoto à luz elétrica. Isso em pleno século 21.

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Nasce um sonho

Totalmente revitalizado, o lugar que abrigava um emaranhado de barracos cobertos por lonas plásticas renasceu. Ganhou identidade e um nome que se confunde com a trajetória das mulheres que ali resistiram: Conjunto Habitacional Guerreira Zeferina, em homenagem à líder quilombola que, segundo historiadores, lutou pela liberdade de escravos na mesma região nos idos de 1826.

Encravada às margens de uma via férrea que a separa da baía de Todos-os-Santos, a nova comunidade deu outro sentido à vida das 257 famílias agora com um lar para chamar de seu.

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Um drama que virou filme

Envolta em luta e resistência, a história de transformação social dos moradores da antiga Cidade de Plástico virou filme. Lançado no dia 13 de maio, em sessão especial no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, em Salvador, o documentário "Zeferinas - Guerreiras da Vida" traça um paralelo entre a trajetória da brava quilombola e as agruras por quais passaram as moradoras da comunidade homônima.

O filme, com cerca de 25 minutos - e disponível em zeferinas.com.br - é uma realização da Prefeitura de Salvador, com produção da agência de publicidade baiana Propeg.

Sob um enredo permeado pelos mais diversos dramas vivenciados tanto pela Guerreira Zeferina quanto pelos moradores da hoje inexistente Cidade de Plástico, nada melhor que o filme fosse narrado pelas protagonistas da vida real: Cassileide, Vanda, Tâmara e Miriã.

Todas, incluindo a atriz Edvana Carvalho, que interpreta a guerreira Zeferina, marcaram presença na pré-estreia do documentário. Acompanhadas por familiares, emocionaram-se ao verem suas vidas realçadas na tela do cinema.

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GRAVANDO!

Diretor do documentário, o cineasta Marcio Cavalcante contou que todo o processo de produção durou cerca de três meses. "Foi bem rápido. O primeiro processo foi de pré-produção, de achar as guerreiras, já que a ideia é cruzar a história da guerreira Zeferina do século 19, a quilombola que lutou contra a escravidão, com a história das guerreiras que lutaram lá na Cidade de Plástico. Elegemos quatro mulheres fortes que moram lá e construímos essa história junto com elas. [o documentário] Tem um pouquinho de ficção, tem reconstituição histórica da própria Cidade de Plástico, num episódio de incêndio, e tem a parte do quilombo, com atriz, com guerra, com arco e flecha, com tiro", explica o cineasta.

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"Feliz. Olha o sorriso, que não sai daqui. Ter um lugar pra ir. Ter um lugar pra chamar de seu, de seu lar. Graças a Deus, eu tenho um lar. Quando se tem fé e espera, as coisas acontecem. " Tâmara Duarte, 29 anos

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"A vida é isso aí: nós passamos por luta e, sem luta, não há vitória. É muito lindo ver as crianças indo pra escola, tudo arrumadinho. Antes não tinha isso. Continuarei aí, lutando pelos meus filhos". Miriã Santos, 37 anos

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"Gostei muito. Vim assistir com meus netos, meus filhos. Minha família toda. Agora eu tenho a minha casa. Todo mundo passa falando: "Ô, Vanda, mas está lindo. Fico assim, andando, pra lá e pra cá". Vanderlice Reis, 76 anos

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"Somos verdadeiramente guerreiras, por vivenciar o que a gente passou, pra chegar onde a gente chegou. Agradecemos à prefeitura, que nos ajudou bastante nisso. Agora estamos no paraíso." Cassileide Bonfim, 42 anos

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