
Uma viagem até o ano de 1969, época em que os jovens pregavam o amor e a liberdade, existia o movimento dos hippies, e foi o ano do Festival de Woodstock - considerado o maior evento de rock do mundo. E ainda tinha Charles Manson (que se dizia a reencarnação de Jesus Cristo), um guru à frente de uma seita, conhecida como "The Family", que se transformou num assassino. Uma de suas vítimas foi a atriz e musa Sharon Tate, esposa do diretor Roman Polanski.
Todo esse cenário e muitos outros costuram a história do novo filme do badalado diretor Quentin Tarantino: "Era uma vez em... Hollywood", um dos menos violentos da sua carreira, com estreia marcada para o próximo dia 15. Essa é a nona obra do diretor, que já escreveu roteiros de grande repercussão como "Amor à Queima-Roupa" e "Assassinos por Natureza"; rodou filmes importantes e teve o seu maior sucesso nas telonas com "Pulp Fiction - Tempo de Violência".
Nada escapou ao olhar do diretor: tem a referência aos clássicos westerns, que, no final da década de 60, começaram a perder espaço; e a homenagem à TV, que não era levada tão a sério. Hippies, álcool, drogas e o espírito transgressor da época não ficaram de fora.
E, claro, muitas homenagens. Na tela, surgem personagens que fizeram história nessa época do cinema americano: Steve McQueen, Bruce Lee, Sam Wanamaker, a série The F.B.I., Roman Polanski e Sharon Tate. Al Pacino, eternizado por obras como "O Poderoso Chefão" e "Perfume de Mulher", faz uma participação especial, vivendo o agente de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio). Todo o filme foi rodado no sistema analógico, justamente para trazer o clima de 1969.
O elenco de "Era uma vez em... Hollywood" merece um capítulo à parte. Pela primeira vez dividindo o set, Brad Pitt e Leonardo DiCaprio (vencedor do Oscar com o filme "O Regresso") são os protagonistas da nova obra de Tarantino. No filme, DiCaprio vive o ator Rick Dalton, estrela do bangue-bangue, com o seu auge nos anos 1950, nas séries da TV, mas que entra em decadência com as mudanças no mundo do cinema e da televisão. Ao lado de Rick, o seu inseparável dublê Cliff Booth (que esconde um passado nebuloso), interpretado por Brad Pitt, que antes podia correr, saltar, rolar no chão pelo amigo, mas agora passa horas dividindo o tempo entre cervejas e conduzindo o ex-astro Rick Dalton por diversos lugares de Los Angeles. Juntos, os dois traçam diversas histórias paralelas para fazer um tributo aos momentos finais da era de ouro de Hollywood.
Como vizinho de Rick Dalton, ninguém menos que o badalado casal Roman Polanski (Rafal Zawierucha) e Sharon Tate, interpretada por Margot Robbie, conhecida pelo trabalho em "O Lobo de Wall Street". O longa-metragem ainda conta com outros nomes de peso: Timothy Olyphant, Dakota Fanning e Emile Hirsch.
Ingredientes como ação, aventuras, fugas, brigas, seita misteriosa, drama e outros ditam o ritmo do filme, que tem como pano de fundo a Los Angeles 'riponga' e a década de ouro de Hollywood, marcada por grandes musicais como o "Amor, Sublime Amor", que faturou dez estatuetas do Oscar. E, ainda, por outros filmes como "Psicose", de Alfred Hitchcock - eternizado pela cena do chuveiro em que Marion (Janet Leigh) é assassinada; "Cleópatra", estrelado por Elizabeth Taylor, e o musical "Mary Poppins", com Julie Andrews, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz.
Charles Manson, interpretado por Damon Herriman, líder do grupo The Family, foi o grande responsável pelos assassinatos na casa de Roman Polanski.
Os seguidores da seita se instalaram no Rancho Spahn, em Los Angeles, que antes serviu como set de gravação para vários filmes de faroeste. Além de estar à frente do grupo, o serial killer queria se tornar um cantor e compositor de sucesso. Apresentou alguns trabalhos ao produtor Terry Melcher, que declinou da proposta de investir em Manson. Melcher era o dono da mansão onde morava o casal sensação da época de Hollywood: o diretor polonês Roman Polanski e sua esposa, a atriz Sharon Tate.
Racista e descontrolado, Charles Manson dizia ouvir nas canções dos Beatles, em especial as do "Álbum Branco" (1968), a necessidade de guerra entre brancos e negros. Na madrugada de 9 de agosto de 1969, quatro integrantes da seita saíram do Rancho Spahn, foram até a mansão de Polanski, em Beverly Hills, e mataram todas as pessoas da casa, incluindo Sharon Tate, grávida de oito meses, com apenas 26 anos. Por sorte, o diretor estava em uma filmagem na Europa e escapou do ataque.
Após ter a sua pena de morte revertida em prisão perpétua, Charles Manson cumpriu pena na Penitenciária Estadual de Corcoran, na Califórnia. Foi transferido para um hospital e morreu no dia 19 de novembro de 2017, por causas naturais.
Uma pergunta que deve estar aguçando a curiosidade de muitos fãs do trabalho de Quentin Tarantino é: por que o diretor escolheu essa trama para "Era uma vez em... Hollywood?"
Em entrevista, ele explicou que viveu na região de Los Angeles a maior parte da sua vida, incluindo o ano de 1969. E que gostaria muito de poder contar no longa-metragem a história de uma Los Angeles e uma Hollywood que já não existem mais. E foi o que fez com a maestria de sempre.
A trilha sonora de "Era uma vez em... Hollywood" é um verdadeiro espetáculo à parte. Hits como "California Dreamin", com a versão cantada pelo mexicano José Feliciano; ou clássicos do rock como "Rush" e "Kentucky Woman", do inesquecível Deep Purple, embalam as cenas do longa-metragem, que ainda tem "Ramblin' Gamblin' Man", de Bob Seger, e "Mrs. Robinson", de Simon & Garfunkel.
Com uma boa jogada de divulgação, a playlist do filme e ainda um podcast de Quentin Tarantino estão disponíveis no streaming Spotify. Além da versão digital, um álbum, em CD e vinil, estará à venda. Para os fãs do trabalho do diretor, um boxe deluxe contendo a trilha e o filme em DVD será lançado.
A década de 1960 foi um período de mudanças no comportamento, a busca pela liberdade e a quebra de paradigmas na sociedade. E isso se refletiu no mundo da moda, que começou a usar e abusar das saias mais curtas, das silhuetas simples e roupas mais soltas.
Lesley Lawson ou Twiggy, como é conhecida em todo o mundo, é um ícone dessa geração, com os seus vestidos retos, alguns com estampas geométricas, e todos bem soltinhos. Uma das primeiras supermodelos do universo da moda, a britânica fez sucesso com os seus cabelos loiros bem curtos e os olhos realçados com camadas e mais camadas de rímel, com direito a cílios postiços.
As praias ganharam os hot pants combinados com os tops. A bota branca de cano alto, as minissaias retas, as padronagens de poá, listras, florais, tie dye, vestidos, do modelo trapézio ao tubinho ditaram a tendência da década.
Já que o movimento hippie estava em alta, looks e acessórios com muitas franjas invadiram o mercado, mostrando uma mulher mais despojada, transgressora e com atitude para se vestir.
E a tendência dos anos 1960 passeia pelo filme de Tarantino, em especial com a personagem Sharon Tate, que, na época, era a sex symbol de Hollywood.
Agora é contar nos dedos os dias para a estreia de "Era uma vez em... Hollywood", separar a pipoca e viajar na história contada por Leonardo DiCaprio e Brad Pitt. Com certeza, emoções não irão faltar.