A polêmica acirrada poucos dias antes do primeiro turno das eleições brasileiras, marcado para 7 de outubro, abre espaço para teorias conspiratórias sobre a integridade do sistema nacional.
Bolsonaro, por exemplo, disse que há programas fraudulentos que podem inserir "uma média de 40 votos para o PT" em sessões de votação pelo país. Ele não forneceu evidências que sustentassem essa afirmação.
Segundo Peter Wolf, do IDEA, a sociedade civil tem o direito de questionar qualquer sistema, especialmente os eletrônicos - "ele é complicado e difícil de entender", reconhece o especialista. Mas ele alerta que as teorias criadas em cima de boatos, sem evidência, têm um potencial mais destrutivo nas eleições do que eventuais falhas técnicas do voto eletrônico.
"Que [as pessoas] continuem questionando o sistema eletrônico. Elas fazem isso com qualquer sistema, especialmente os eletrônicos. Às vezes, as preocupações são legítimas, porque há problemas com alguns desses sistemas tecnológicos no mundo", diz Wolf.
"Mas há uma tentativa de criar confusão, de falar coisas falsas ou sem evidência, e exagerar os problemas. É preciso olhar o que é verdade e o que não é nessas alegações", ressalta o especialista, que comentou o cenário de maneira geral, sem se ater especificamente ao Brasil. "Às vezes, os hackers podem criar essas histórias para parecer mais importante do que são. Ou outras pessoas fazem isso para levar alguma vantagem política."
Segundo ele, dois pontos precisam ser observados por quem organiza as eleições: primeiro, reforçar a segurança nos sistemas; segundo, trabalhar na comunicação, com transparência, para conter os rumores.
Mas há quem diga que o comprovante impresso do voto, por exemplo, pode de fato incrementar a segurança da eleição brasileira, principalmente para a realização de uma auditoria mais completa. Essa é uma tese comum entre professores e peritos brasileiros ligados às áreas de tecnologia e segurança e também entre especialistas internacionais.
"Sem isso, não tem como um sistema ser totalmente transparente e passível de auditoria. Ele falha em um dos princípios básicos exigidos para a eleição", diz Mike Yard, do IFES.
Yard vai mais longe e diz que uma urna eletrônica não tem o potencial de ser mais segura do que o voto impresso, em termos gerais. "É mais difícil ocorrer a fraude no papel. O maior problema das máquinas é que um hacker tem o potencial de causar um prejuízo imenso sem que ninguém descubra. Uma máquina que não oferece instrumento de auditoria, sob a minha perspectiva, é insegura. Não importa quantos elementos de prevenção você coloque, sempre há a possibilidade de alguém ultrapassar isso", afirma.
O TSE, responsável pelo sistema eleitoral brasileiro, discorda e afirma que esse "não é o único mecanismo de auditoria que pode ser utilizado no processo eleitoral"."Trata-se de um mecanismo de auditoria propenso a falhas e ataques, que podem, em muitos casos, remeter ao cenário que existia quando a votação era realizada com cédulas de papel. Assim, um dos riscos da adoção do voto impresso é deslocar a fraude da urna para a sua auditoria e, com isso, colocar em descrédito as eleições", diz a resposta do TSE enviada à reportagem.
O tribunal afirma ainda que a urna eletrônica "agrega uma série de mecanismos que tornam o registro eletrônico muito mais seguro que o registro em papel: criptografia na gravação dos votos; aleatoriedade na gravação dos votos cargo a cargo, impedindo qualquer tipo de associação entre voto e eleitor; assinatura digital de todos os seus registros, o que impede qualquer tipo de manipulação; e apuração automatizada e pública na própria seção eleitoral, com a impressão do boletim de urna ao final da votação".
Outros obstáculos envolvem o instrumento: seu custo e as possíveis dificuldades técnicas. "A impressora é o elemento mais vulnerável de um computador. Precisa de papel, tinta, e tudo isso pode dar problema. É caro e complicado", diz Peter Wolf.