O presidenciável não respondeu à solicitação do UOL: a assessoria de imprensa informou que não conseguiria enviar as respostas a tempo. As informações no plano de governo sobre o tema estão associadas à segurança, mencionando o combate ao tráfico de drogas sempre associado ao de armas.
Em entrevista no Roda Viva, em maio de 2018, o candidato falou sobre o tema. Disse não ter uma proposta sobre a descriminalização das drogas e que o assunto está sendo estudado.
"O Brasil é um país profundamente cristão. A Igreja Católica é contra. Os neopentecostais são contra ao quadrado. Não adianta nada a gente ser um déspota esclarecido, que vai impor a uma nação aquilo que você acha correto. O que nós precisamos fazer, generosamente, é trazer os especialistas e ponderar com todo o Brasil organizado, com as mediações que o povo respeita, se esse é o caminho. Até porque não há um precedente internacional que diga 'tá ali, ó. Eles fizeram isso e deu profundamente certo, nós precisamos imitar'. Não existe."
Os entrevistadores mencionaram o caso de Portugal. "Portugal fez um atalho hábil e é hoje a melhor ideia que eu acho. Portugal não descriminalizou. O que Portugal fez? Eu vou explicar, eu fui lá estudar. Fui lá duas vezes já estudar esse assunto. Portugal pegou especialistas e pediu aos especialistas que definissem a quantidade necessária e suficiente para um dependente químico, droga a droga, usar por uma semana. E estabeleceu sem lei, sem plebiscito, sem Constituição, sem nada... estabeleceu que, desta quantidade que o usuário dependente tem necessidade, e é bastante para ele por uma semana, é assunto de saúde pública e política de redução de danos. Que a propósito foi a política do Ceará, quando eu fui secretário de saúde [...]. A partir dessas quantidades que os especialistas definem, Portugal continua criminalizando. Então, é questão só de uma acertabilidade, que tangenciou o veto moral e religioso. Pode ser que, por aqui, a gente ache essa saída. Mas ela não está madura ainda, o suficiente, para você dizer: 'funcionou'", afirmou Ciro Gomes.
Ainda sobre drogas, o presidenciável disse: "Isso é uma perplexidade. Não adianta nós, aqui do mundo letrado, que somos generosos, temos a melhor informação, achar que vamos empurrar goela abaixo de uma sociedade cristã, religiosa, moralista como a nossa, soluções dessa natureza”.
Questionado se, pessoalmente, o presidenciável é favorável à descriminalização, ele respondeu: "O que eu acho é que eu devo a obrigação de pôr isso em debate. E estou disposto a ir ao papa Francisco, que é uma figura santa, que tem revelado uma sensibilidade grande, para ver se ele nos ajuda a colocar em perspectiva essa discussão no Brasil. Porque o que não dá é ter 62 mil homicídios, quase todos jovens, quase todos pobres, quase todos negros, quase todos vinculados ao problema da droga, e a gente fazer de conta que vai resolver isso com moralismo de goela. Isso não dá".
O presidenciável afirmou que, de 760 mil pessoas presas no país, 260 mil são jovens "detidos em flagrante para produzir estatísticas com pequeniníssimas quantidades de droga. E, no dia seguinte, recrutados por facções criminosas, viram soldados perigosíssimos da pior e mais banalizada violência no país."