Deixar o Acordo de Paris pode trazer consequências além das ambientais. O texto obteve tamanho êxito não só pelo empenho das principais nações do mundo, mas por conta da participação do setor privado, que viu a necessidade de adotar determinadas medidas de sustentabilidade para manter seus negócios vivos.
"Independentemente do governo que entrar a partir do ano que vem, nós já decidimos que vamos permanecer no Acordo", disse o vice-presidente de Sustentabilidade da Ambev em um debate sobre o tema antes do segundo turno.
Para Marina Grossi, presidente do Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), as empresas brasileiras devem seguir o exemplo norte-americano: as corporações mantiveram os compromissos ambientais mesmo com a saída dos Estados Unidos, por iniciativa de Donald Trump, do acordo.
"Manter nosso compromisso é o que mais faz sentido, não só para as empresas, mas para nosso consumidor também. É melhor para as exportações, o acordo só foi firmado por conta da atuação das empresas, ou seja, elas têm um grande interesse nisso. Podemos vender créditos de carbono para os países que não conseguirem atingir a meta, o Brasil só tem a ganhar com o Acordo de Paris", explicou Grossi.
A atitude de Trump gerou grande repercussão, e os impactos econômicos ainda estão sendo avaliados. À época, empresas como General Motors, Apple, Facebook, ExxonMobil, Chevron, Tesla, Google e Unilever se posicionaram contra a decisão de Trump.
"A decisão de hoje é um retrocesso para o meio ambiente e para a posição de liderança dos EUA no mundo", escreveu à época Lloyd Blankfein, CEO do banco de investimentos Goldman Sachs.
Nomeado pela ONU como diretor do Pacto Global para sustentabilidade, o químico Carlo Pereira classificou a ideia de Bolsonaro como "muito negativa para o Brasil". "Além da questão ambiental, o Acordo está garantindo questões importantes para a competitividade das empresas.Tirar o país do acordo vai na contramão de tudo que está sendo feito no mundo", disse
Um estudo do Instituto Escolhas aponta que o desmatamento zero, uma das principais exigências do Acordo de Paris, teria impacto pouco significativo à economia do país: uma redução de apenas 0,62% do PIB acumulado entre 2016 e 2030.