Políticos disputam eleições há milhares de anos. E, antes mesmo de Jesus Cristo nascer, um manual já indicava o que um candidato deve fazer para ser eleito. Se esta obra traz dicas "do bem" como "valorize suas qualidades" e "dê atenção aos jovens", também enfatiza questões como bajular, difamar, intimidar, fazer promessas sem obrigação de cumpri-las e mudar o discurso de acordo com quem estiver ouvindo.
A obra se chama "Pequeno manual sobre eleições" e foi escrita pelo general e político Quintus Tullius Cicero em 64 a.C.. O orador e político Marcus Tullius Cicero, irmão mais velho de Quintus, seria candidato ao posto de cônsul. Para ajudá-lo, o militar escreveu este sucinto memorando.
O Cícero mais novo soava desiludido com os seus pares: "a política é cheia de engodo, trapaça e traição". Mas isso não o impediu de estimular o irmão com conselhos: "você deve pensar constantemente em publicidade". E não parava por aí: o irmão que se aventurava na política deveria aprender a bajular (sim, puxar o saco), prometer mesmo sabendo que não iria cumprir (seria menos danoso do que dizer "não") e cobrar favores sempre que pudesse.
Tanto tempo depois, estas orientações continuam atuais? Para especialistas ouvidos pelo UOL, sim.
"É um livro atualíssimo e que deveria ser dado no primeiro ano de toda faculdade", afirma Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "Porque as pessoas falam de ética, mas precisam entender como a sociedade política se construiu até os dias de hoje."
"Não são contemporâneos: são clássicos", afirmou Carlos Melo, cientista político e professor do Insper.
O UOL separou dicas de Quintus Tullius Cicero --que, ainda hoje, podem ser úteis para um candidato, mas que podem ajudar mais você, que é eleitor. Caso queira ler o manuscrito completo, ele saiu no Brasil em forma de livro com o título "Como ganhar uma eleição".