Pesquisadores ouvidos pelo UOL afirmam que a redemocratização do Brasil, nos anos 1980, aliada ao crescimento de igrejas evangélicas, mudou a relação entre política e religião no país.
Segundo Marcelo Camurça, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), os evangélicos não definem uma eleição, mas “pesam na balança”.
“As grandes campanhas majoritárias, pelo menos desde o início da década de 1990, passaram a cortejar este eleitorado", afirma Camurça. "Candidatos não necessariamente evangélicos passaram a ir a cultos, pedir o voto desse contingente.”
Para Andrey Mendonça, da ESPM, as chamadas igrejas neopentecostais “têm, em geral, um projeto político, além do religioso”.
Um exemplo é a Concepab (Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil), instituição que reúne pastores de diferentes denominações e acompanha ao menos cem candidatos em todo o país --seu objetivo é 60% de políticos eleitos.
Ricardo Mariano, da USP, cita o caso do PRB (Partido Republicano Brasileiro), em que alguns dos principais nomes são ligados à Igreja Universal do Reino de Deus. A legenda abriga Marcelo Crivella, bispo licenciado da Universal que lidera as pesquisas de intenção de voto no Rio, e Celso Russomanno, que é católico e está entre os primeiros colocados nos levantamentos em São Paulo.
No entanto, segundo Mariano, o PRB agora busca “diluir ao máximo qualquer tipo de percepção dessa relação direta [com a Universal]” devido às constantes críticas de setores seculares da sociedade.
Questionada sobre sua ligação com o PRB, a Universal respondeu, por meio de nota, que "é uma instituição religiosa e não exerce qualquer atividade política ou partidária. Assim, qualquer integrante de seu corpo eclesiástico -- bispo ou pastor -- que decida ingressar na carreira política, obrigatoriamente, licencia-se da Igreja para se ocupar da atividade pública de modo exclusivo". Já o partido não se pronunciou até o fechamento da reportagem, apesar de ter sido procurado em cinco ocasiões, por telefone e por e-mail.
A Igreja Católica, que tem o maior número de fiéis no país, atua de forma indireta. Membros do clero não costumam se candidatar, mas têm à mão “um poderoso lobby e uma rede fantástica de contatos”, afirma Ricardo Mariano, da USP. “As pastorais católicas estão associadas a todos os temas possíveis e imagináveis da agenda política.”
Camurça, da UFJF, diz que as religiões afro-brasileiras são mobilizadas politicamente, mas não têm uma atuação unificada. Com isso, a umbanda e o candomblé “não conseguiram amealhar recursos e formar instituições fortes no sentido de financiar campanhas”.