Petistas ouvidos pela reportagem, no entanto, minimizaram o antipetismo como fator determinante para a derrota na disputa presidencial, principalmente porque o partido conseguiu formar bancadas expressivas no Congresso.
Duas fontes ligadas à campanha de Haddad avaliaram que pesou mais a "antipolítica" do que o antipetismo, no sentido de que a prática política teria sido criminalizada em meio às denúncias de escândalos de corrupção como os revelados pela Operação Lava Jato.
Nas primeiras horas após a confirmação da vitória de Bolsonaro, a leitura mais corrente entre diversos integrantes do PT era de que a legenda deu uma demonstração de força, contrariando expectativas de que estaria perto do fim e se saindo melhor do que outros grandes partidos tradicionais, como o PSDB e o MDB.
"O PT foi o único que sobreviveu", afirmou o ex-ministro Alexandre Padilha, eleito deputado federal por São Paulo. Já o deputado federal Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara, afirmou que o cenário da derrota é "um pouco mais complexo" do que apenas o antipetismo.
"O fascismo, o neofascismo, que no meu ponto de vista é representado pela família do Bolsonaro, recupera a ideia de um padrão de brasileiro. A nação que eles querem. E nessa nação, todos aqueles que são diferentes ao ponto de vista deles ou são delírios, ou são descartáveis", disse.
O consultor político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, vê o PT “escravo” de uma narrativa de perseguição e com dificuldades de fazer uma oposição propositiva. "O PT não chega no poder com essa narrativa, não se mantém no poder com essa narrativa, mas aparentemente eles gostaram muito. Não sei se por um plano estratégico ou se por acreditarem mesmo", afirma o consultor.
Já o cientista político e consultor Leonardo Barreto, da Factual, avalia que um dos desafios do PT será construir uma narrativa para se afastar da tônica da perseguição, e considera improvável uma autocrítica. "O PT vai ter todo mundo da esquerda e da direita o lembrando do seu passado, exigindo a tal da mea-culpa", diz. "[O partido] Só vai fazer uma eventual mea-culpa se achar necessário para cumprir um objetivo maior."