Não por acaso, os dois hospitais estaduais cuja gestão foi assumida pela prefeitura no começo de 2016 devido à grave financeira do Estado –o Albert Schweitzer, em Realengo, e o Rocha Faria, em Campo Grande--, ficam no subúrbio.
Segundo o ISU (Índice de Saúde Urbana), criado por pesquisadores da Fiocruz em parceria com a OMS (Organização Mundial de Saúde), as regiões norte e oeste são as mais carentes da cidade no âmbito da saúde pública, uma das principais reclamações dos moradores.
O ISU incorpora indicadores de diabetes, doenças do coração, câncer de mama, tuberculose, HIV, homicídios, acidentes de trânsito e mortalidade infantil com base em dados de mortalidade.
O levantamento mostra que, no Rio, a qualidade dos serviços de saúde está diretamente ligada à distância do centro e às condições socioeconômicas.
Assim como no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o ISU vai de 0 a 1. Quanto mais perto de 1, melhor a situação de saúde do espaço. Enquanto na zona sul e nas regiões de Jacarepaguá, Barra da Tijuca, centro e Grande Tijuca, à exceção de alguns lugares, esse índice permanece alto (entre 0,88 e 1), em boa parte do subúrbio ele oscila entre médio (0,81-0,84) e muito baixo (0,00-0,77).
"O preço médio por metro quadrado do apartamento de um bairro e sua distância do centro da cidade estão altamente correlacionados com o ISU", diz Martin Bortz, um dos autores da pesquisa.
O Estado decretou calamidade pública financeira e deixou de atender em tempo integral em diversas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), o que piora a situação da região. Apesar do esforço da administração atual, que criou as Clínicas da Família, reforçando o atendimento na região, as filas nos postos e unidade de saúde são constantes.
"Quem não tem plano [de saúde] leva seis meses para conseguir uma consulta. Médico é difícil. Quando a gente consegue, é a enfermeira que atende", diz a vendedora Lia Gomes, 36, moradora de Santa Cruz.
Procurada pelo UOL, a Secretária Municipal de Saúde afirmou que as zonas norte e oeste foram as que mais receberam investimentos na área nos últimos oitos anos. O órgão cita como principal exemplo as Clínicas da Família, mas não especifica quantas unidades foram inauguradas.