Em Cuba, que ocupa a segunda posição no ranking, mais da metade do Parlamento unicameral é formado por mulheres. Elas têm 53,2% das cadeiras. Bolívia vem logo atrás na lista, com 53,1% das cadeiras na Câmara dos Deputados.
“Nesses países tivemos a combinação da função de governos com ideologias mais alinhadas a uma perspectiva de esquerda, mais amigáveis à igualdade de gênero”, afirma Patrícia Rangel.
Sanchez concorda com essa perspectiva: “Cuba tem a questão de ser um governo de esquerda, que historicamente tem uma ligação muito próxima com os movimentos feministas. Isso explica essa alta representação das mulheres no país”. No país, a elevada porcentagem de mulheres no Parlamento não resulta de políticas de cotas, mas de uma política voltada para a representatividade, implementada desde 1976, quando Fidel Castro (1926-2016) assumiu a Presidência.
Importante lembrar que, em Cuba, há apenas um partido, o PCC (Partido Comunista), e as eleições se dão de forma diferente. Eleitores vão às urnas para validar uma lista predefinida de candidatos para assumir as assembleias provinciais e a Assembleia Nacional.
Essa lista é definida por uma Comissão de Candidatura, formada por organizações sindicais e estudantis afins ao governo, e tem em nomes o número de cadeiras no Parlamento. Assim, os eleitores não escolhem entre vários nomes para ocupar um assento, mas, sim, se determinado candidato, ou no caso, candidata, irá ocupá-lo ou não. A princípio qualquer cidadão pode ser eleito, mas opositores ficam de fora.
A Bolívia, por sua vez, adotou em 2011 uma lei de cotas de gênero inspirada no modelo argentino, com mínimo de 30% para candidaturas em listas fechadas nas câmaras alta, baixa e também nos governos locais. A medida causou um crescimento expressivo feminino na Casa.
Soma-se a isso o fato de haver, no país, uma atuação muito forte dos movimentos indígenas liderados por mulheres. “Elas mesmas por vezes não se chamam de feministas, pois é uma concepção diferente do feminismo, mas esses movimentos têm uma força muito grande e se refletem tanto no Parlamento quanto na participação política das mulheres”, diz Sanchez.
Importante lembrar também que nesses países, assim como em Ruanda, apesar dos grandes avanços no sentido da representatividade feminina prevalece uma cultura de desigualdade e descriminação na vida cotidiana. Há ainda, portanto, obstáculos a serem superados.