O futuro da política

Quem são os jovens de até 24 anos que se filiaram a partidos após "debandada" causada pela Lava Jato

Andréia Lago, Bárbara Rocha, Ítalo Rômany Do Eder Content
Ilustração sobre foto/divulgação: Rica Ramos

Eles somam 337,4 mil, mas já foram muitos mais. Desde o início da Operação Lava Jato, a sequência interminável de escândalos de corrupção envolvendo políticos de diversos partidos produziu uma debandada de jovens filiados às legendas partidárias no Brasil. No mesmo período em que o país enfrenta uma crise de representatividade e os eleitores defendem renovação, os partidos perderam 78,1 mil inscritos na faixa dos 16 aos 24 anos.

Mas a mesma crise que reduziu em quase 20% o número de jovens inscritos nas mais de 30 legendas registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também atraiu uma nova geração de militantes.

Alguns instigados por programas de formação de novas lideranças que as próprias siglas encabeçam para renovação de quadros, outros movidos pela necessidade de abandonar a militância de sofá que reverbera nas redes sociais. São minoria e estão na contramão. E veem o futuro da política bem diferente da realidade que questionam hoje.

Conheça, na apresentação dos nomes por ordem alfabética, alguns dos jovens que se filiaram a partidos políticos nos últimos quatro anos. Você também pode testar seus conhecimentos sobre a participação dos jovens na política clicando aqui

Como eles entendem a política

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'Papel do jovem nesta crise é sair da zona de conforto'

Bernardo Felippi, 19, Bahia; filiado ao PSD desde maio/2017

Com mais 400 mil seguidores no Instagram e apenas 19 anos, ele foi apresentado como a nova aposta do PSD na Bahia. Tanto que o ato de filiação do youtuber e influenciador digital Bernardo Felippi ao partido, em maio de 2017, foi prestigiado por quase todos os caciques da legenda no estado. Até o vice-presidente do PSD, senador Otto Alencar, compareceu. 

Com um discurso de renovação e facilidade de comunicação com as redes sociais, Felippi se apresenta como um ativista digital --e não de “sofá”. “Resolvi me filiar a um partido político porque acho que o papel do jovem nesta crise é diferente, é sair da zona de conforto, participar e se movimentar. A gente não pode ficar sentado em casa, só procurando defeitos, temos o poder de mudar”, diz o estudante de Administração.

Atualmente, o PSD (Partido Social Democrático) é a legenda que mais agrega filiações na faixa dos 16 aos 24 anos na Bahia; no Nordeste, é a segunda. No país, a sigla teve uma queda de apenas 4%, sendo o quarto partido com maior número de jovens inscritos. Na região Sul, cresceu 16,7% nessa faixa etária nos últimos quatro anos. Fonte: TSE

Em dezembro de 2017, Felippi lançou um canal no YouTube pra falar principalmente de política. Filho de publicitário com larga experiência em campanhas eleitorais, ele batizou o canal de Plano Be --redução de Bernardo e apelido pelo qual é conhecido, mas também uma estratégia para apresentar-se como alternativa aos políticos tradicionais.

O exército de seguidores e a desenvoltura frente às câmeras chamaram a atenção das lideranças locais. O convite para o PSD veio do próprio senador Otto Alencar, ex-governador da Bahia que está na política desde a década de 1980. Logo se tornou referência para o partido, principalmente em meio ao descrédito com a política após a Lava Jato.

“As pessoas estão desacreditadas, vejo isso quando chego nas comunidades. Mas se a gente mostrar uma cara nova, aí vai ter o respeito e também a dignidade de chegar em qualquer lugar e ser abraçado, e fazer da política uma profissão respeitada", prega o youtuber.

Para potencializar o crescimento entre os jovens, o partido lançou neste ano o Projeto Gestores do Futuro, um programa com cursos especializados voltados para uma nova geração de lideranças. O projeto iniciou na Bahia, mas pretende alcançar outros jovens do PSD no Brasil por meio da internet, diz Felippi.

"Tem que cobrar dos gestores e não cruzar os braços”, defende. Sobre o pleito de 2018, ele afirma que não irá disputar nenhum mandato, mas já se apresenta como candidato a vereador em 2020.

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'Quero estar próximo dessas pessoas'

Cauê Peretta, 21, São Paulo; filiado ao MDB desde novembro/2017

Morador de Caçapava, cidade do interior paulista com quase cem mil habitantes, Cauê Peretta dedicava-se à organização de ações beneficentes na cidade quando foi atraído para a militância partidária. O município tinha um terço da população com renda de até meio salário mínimo em 2016, segundo o IBGE.

A convite do presidente estadual da Juventude do MDB de São Paulo, Bruno Gabriel, Peretta filiou-se ao partido do presidente Michel Temer. Era novembro de 2017 --quando o governo negociava com aliados os 308 votos necessários para aprovar a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. "Quando eu fui escolher um partido, queria que me representasse, fosse junto com meus princípios", afirma o jovem estudante de Direito.

O MDB (Movimento Democrático Brasileiro) foi criado em 1966 como um partido de oposição branda à ditadura, representada pela Arena num quadro de bipartidarismo imposto pelo regime militar. Só em 1980 incorporou o 'P' à sigla - removido há menos de um ano num esforço para distanciar-se dos escândalos de corrupção e do fisiologismo político. Mesmo assim, encolheu 27,5% na faixa de filiados com 16 a 24 anos nos últimos quatro anos. No Sudeste, tem menos 34% filiados jovens do que em março de 2014. Fonte: TSE

Antes de assinar a ficha de filiação, Peretta havia conhecido o empresário Paulo Skaff, presidente licenciado da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que concorre ao governo paulista pelo MDB. Foi decisivo para o estudante de Caçapava: "Quero estar próximo dessas pessoas". Além de Skaff, ele diz que o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles é outro nome do partido pode promover mudanças no Brasil. Meirelles foi confirmado como candidato do MDB à Presidência da República no dia 2 de agosto.

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'Na política, hoje, não preciso ter dinheiro para me candidatar'

Débora Souza, 23, Rio Grande do Norte; filiada ao Solidariedade desde fevereiro/2018

“Procura-se governador e senador para 2030.” Foi assim, com um anúncio na televisão chamando jovens para participar da política, que a bacharel em direito Débora Souza, 23, foi atraída para a atuação partidária. Até fevereiro de 2018, ela não se reconhecia nos partidos tradicionais. A atuação política se restringia ao movimento estudantil, como presidente nacional dos grêmios dos Institutos Federais.

O anúncio que atraiu Débora e outros 65 jovens do Rio Grande do Norte para a política é do Projeto Jovens Líderes, uma iniciativa do partido Solidariedade liderada pelo deputado estadual Kelps Lima. Em segundo mandato e com um discurso voltado para as novas gerações, o parlamentar ganhou destaque nas eleições municipais de 2016 por fazer toda sua campanha de TV à prefeitura de Natal usando o celular. Aos 46 anos, acabou ficando em 2º lugar, com quase 50 mil votos.

A trajetória de Lima motivou Débora a disputar uma vaga de deputada federal nas eleições deste ano. Filiada ao Solidariedade desde fevereiro, ela sonha alto. “Na política, hoje, eu não preciso ter dinheiro para me candidatar. Talvez se eu tiver boa vontade, um bom projeto, possa me tornar até uma senadora, uma presidente, uma governadora”, diz a jovem advogada. Por ora, Débora quer distância da polarização ideológica que se propaga nas redes sociais: ela quer o novo. "Um novo que não vai ser ligado à direita ou à esquerda, mas sim olhando para frente."

O Solidariedade, fundado pelo deputado federal Paulinho da Força (SP), teve o registro autorizado pelo TSE em setembro de 2013. Desde então, é o partido que mais vem atraindo jovens na faixa etária dos 16 aos 24 anos. Está em primeiro lugar no Nordeste e em segundo no Centro-Oeste e Sudeste. No país, ocupa a terceira posição na captação de jovens filiados. Fonte: TSE

Natural de um estado em situação de calamidade financeira, com salários de servidores em atraso e grave crise na segurança pública, a advogada defende que é papel da juventude mudar a situação política do Rio Grande do Norte. O que Débora prega é a construção de uma nova representatividade política, principalmente para as eleições municipais de 2020, com maior participação feminina.

“Políticos que de alguma forma participaram da corrupção vão ser retirados. Vão surgir novas pessoas, novas ideias, para construir uma nova democracia para o Brasil”, aposta.

O programa do Solidariedade para formar novos políticos atraiu jovens de mais de 40 cidades do Rio Grande do Norte. "Mostramos a eles que, com capacitação, conteúdo e uma boa comunicação, eles poderão ter uma carreira política saudável e sustentável”, diz Lima.

Na preparação, participam de palestras e acompanham o trabalho no Legislativo estadual, sob orientação dos parlamentares do partido. "A gente chama, diz ‘olha, o caminho é esse’, monitora as redes sociais deles, como eles estão fazendo, tenta ajudar."

Mas a condição é que o jovem selecionado queira ser candidato e disputar eleições. Esse será o primeiro pleito que alguns jovens do projeto irão participar no Rio Grande do Norte. Segundo o deputado, alguns com chances de vitórias, e outros com desempenhos relevantes. "É um teste para a gente ver como isso vai se comportar."

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'Os partidos políticos não têm o monopólio da política'

Gabriel Santos, 24, Acre; filiado à Rede Sustentabilidade desde março/2016

No Acre, estado da ex-senadora Marina Silva, o partido fundado pela ambientalista tem apenas 11 filiados na faixa etária dos 16 aos 24 anos. Um deles é Gabriel Santos, uma das referências entre os jovens no estado que chegou em terceiro lugar nas eleições municipais de 2016.

Ele tinha 22 anos quando concorreu a vice-prefeito de Rio Branco pela Rede Sustentabilidade. Seu companheiro de chapa tinha 27 anos. Juntos, conquistaram 9% dos votos válidos e o terceiro lugar na disputa. Uma “façanha”, afirma o próprio Santos.

“A gente foi sozinho, com uma militância pequena, mas conseguimos esse resultado bacana, além de um amadurecimento político", diz o jovem advogado. Atuante desde o início da formação da Rede, Santos integrou a mobilização de Marina Silva pela coleta de assinaturas para criação da legenda. “Acho a liderança dela incrível, por isso resolvi ajudar na construção de um partido para ela ser candidata em 2014”, diz.

Não deu tempo: o TSE rejeitou o pedido de criação da Rede após cerca de 95 mil assinaturas serem invalidadas pelos cartórios eleitorais. Candidata a vice-presidente do então candidato Eduardo Campos, ela assumiu a cabeça de chapa do PSB após a morte do pernambucano em acidente aéreo. Chegou em terceiro lugar, cacifada por 20 milhões de votos recebidos no primeiro turno.

A Rede Sustentabilidade obteve autorização de registro pelo TSE em setembro de 2015. Apesar do crescimento de mais de 1.400% entre os jovens filiados de 16 a 24 anos em todo o país até março de 2018, está na 31ª posição no ranking geral dos partidos nesta faixa etária. O estado onde a Rede tem mais filiados jovens é o Amapá. Fonte: TSE

No pleito de 2018, a Rede Sustentabilidade vai abrigar a candidatura de Marina Silva à presidência da República e também a de Gabriel Santos, que vai às urnas por um mandato de deputado estadual. No currículo, ele acumula passagens por algumas das organizações civis que surgiram para estimular uma renovação na política. Entre elas, a Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), Movimento Acredito e RenovaBR.

“Os partidos políticos não têm o monopólio da política, não podem ter. É preciso redemocratizar para chamar o jovem para a política, engajá-lo a fazer a transformação que o país precisa", defende o advogado.

A baixa adesão da faixa de 16 a 24 anos ao seu partido no Acre, rebate, não preocupa. "Há muitos jovens que participam e ajudam o partido e não estão filiados. Ter essa mistura é importante para não afastar o jovem da política. Afiliação em si não representa nada, é mera formalidade burocrática, funciona para continuar garantindo o monopólio na política”, afirma Santos.

Mas ele parece saber a receita para atrair a moçada: “Tem que falar a linguagem deles, falar de verdade. Essa roupagem de política tradicional eles não vão querer, não vão ouvir”.

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'A gente não pode abandonar o olho no olho, a troca de ideias'

Guilherme Weffort, 21, São Paulo; filiado ao PT desde dezembro/2017

A estrela vermelha que o estudante de jornalismo Guilherme Weffort ostenta no casaco reflete a convicção com que ele defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre pena de prisão por corrupção desde abril de 2018. A condenação do líder petista foi o gatilho para que o jovem paulista assinasse a ficha de filiação ao PT, em 2017. “Estão tentando derrubar o nosso maior símbolo e a nossa maior liderança. A nossa resposta para isso é dar as mãos e manter o sonho vivo, o partido vivo”, afirma.

Aos 21 anos, Weffort já militava no movimento estudantil na USP (Universidade de São Paulo), onde estuda. A proximidade com o PT foi reforçada pelo trabalho na assessoria de imprensa do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que tem mandato na Câmara dos Deputados desde 2007.

Teixeira é advogado e foi um dos parlamentares que assinaram o pedido de habeas corpus concedido ao ex-presidente Lula, no começo de julho, pelo desembargador plantonista do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) Rogério Favreto. A decisão foi revogada pelo relator da Lava Jato no mesmo tribunal, desembargador João Pedro Gebran Neto.

O jovem universitário diz que a militância em uma legenda política é mais efetiva do que a participação em coletivos da sociedade civil, comum entre jovens da mesma faixa etária que ele. “É importante, mas dissoluto, e pode levar a lugar nenhum, enquanto o partido político agrega várias pautas", explica. Crítico da negação total dos partidos e organizações políticas, Weffort conta que fez sua filiação online, o que agilizou seu processo de inscrição no PT.

No centro dos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato, o PT (Partido dos Trabalhadores) foi, de longe, a legenda que mais perdeu adesão entre os jovens desde 2014. Em todas as regiões do país, a sigla tem hoje menos 50% a 70% de filiados na faixa dos 16 aos 24 anos. São menos 35.218 jovens inscritos no PT no Brasil em quatro anos. O único estado onde houve aumento de filiados nessa faixa etária foi o Acre, e mesmo assim modesto: 4%. Fonte: TSE

Nascido em uma geração acostumada ao debate político nas redes sociais, criticado por muitos como "militância de sofá", Weffort diz que é preciso furar a bolha da cibermilitância. “Chega uma hora que você começa a pregar só para convertidos”, afirma o jovem, que participa de panfletagens diárias em defesa de Lula em estações de metrô da capital paulista em horário de pico.

"Em um grupo de cinco ou seis, conseguimos dialogar com quase cinco mil pessoas. A gente não pode abandonar o olho no olho, a conversa, a troca de ideias”, prega o estudante.

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'Só com fatalismo e descrença não se vai para frente'

Jaqueline Severo, 23, Rio Grande do Sul; filiada ao PT desde março/2016

Um estágio sobre vivências e a realidade do SUS (Sistema Único de Saúde) foi o catalisador para a gaúcha Jaqueline Severo optar pela filiação partidária. Estudante de psicologia em Santa Maria, cidade polo na região central do Rio Grande do Sul, as aulas sobre "Como Funciona a Sociedade" durante o estágio foram o gatilho para Jaqueline deixar a "militância de sofá". "Ali eu percebi que a desigualdade não é algo natural, e que eu precisava me organizar", afirma.

Jaqueline ingressou no JAE (Juventude Articulação de Esquerda), um grupo dissidente da corrente majoritária nas origens do PT (Partido dos Trabalhadores). Alinhada à esquerda no espectro ideológico petista, a articulação tem atuação principalmente em alguns movimentos sociais, como estudantil, sindical e de direitos de minorias.

Para a gaúcha, a escolha do PT se justifica pelo maior potencial de mobilização em relação aos partidos menores.

O PT era o segundo partido com maior número de jovens filiados na região Sul, mas perdeu quase 6.000 inscritos entre 2014 e 2018. Somente no Rio Grande do Sul, o PT perdeu mais de 63% dos inscritos na legenda. Partido de esquerda que liderou a preferência dos jovens no país após a redemocratização, o PT encolheu 65,4% no número de filiados na faixa de 16 a 24 anos, em todas as regiões, desde o início da Operação Lava Jato. Fonte: TSE

"É importante para as estatísticas e para a juventude estar envolvida com o partido”, diz Jaqueline, mas ela reconhece que o desânimo com a conjuntura atual é significativo. “Há dias em que a gente tem que se reunir, desabafar e tentar enxergar um caminho. Só com fatalismo e descrença não se consegue ir para frente.”

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'Quando política for feita com seriedade, as coisas mudam'

Jéssica Almeida, 23, Pará; filiada ao DEM desde setembro/2015

A estreia de Jéssica Almeida na política foi em 2016, quando tinha 22 anos, e já numa disputa pela prefeitura da pequena Vigia de Nazaré, município mais antigo do Pará com pouco mais de 50 mil habitantes e distante 100 quilômetros de Belém. Recebeu 2.219 votos (4º) numa cidade que elegeu outra mulher como prefeita com 9.182 votos.

Filha de um ex-vereador da cidade, ela teve o pai como candidato a vice na chapa do DEM (Democratas) nas eleições municipais de 2016. Quanto se filiou ao partido, tinha 21 anos e foi convidada por uma das principais lideranças da legenda no Pará, o deputado estadual Márcio Miranda.

"A escolha pelo Democratas teve dois motivos: primeiro, por afinidade política, e segundo, pela confiança que tinha no deputado", diz a jovem, que trabalha como gerente.

Entre os partidos de centro-direita, O DEM (Democratas) foi a legenda que mais perdeu filiados jovens no país (-38,4%). O maior declínio foi no Centro-Oeste, de mais de 47%. O partido do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), só conseguiu ampliar o número de filiados entre 16 e 24 anos em três estados: Acre (26,5%), Bahia (15,5%) e Alagoas (61%). Fonte: TSE

Jéssica gesticula como um político tradicional enquanto fala, mas mostra indignação com a forma de fazer política no país. “A eleição foi  complicada, tinha gente se vendendo, mas teve pessoas que mostraram confiança de que era possível mudar”, diz a paraense. Passada a disputa eleitoral, ela se dedica a viabilizar consultas na capital para pessoas sem condições financeiras.

“Os políticos chegam inventando que vão mudar e acabam não fazendo, prometendo tanto e não cumprindo, as pessoas ficam desacreditadas", desabafa a jovem paraense. O que falta, segundo Jéssica, são políticos comprometidos. "Quando a política for feita com seriedade, com compromisso, as coisas mudam.”

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'[De dentro do partido] temos mais meios para mudar a situação'

Leonardo Framil, 20, Minas Gerais; filiado ao DEM desde junho/2015

O mineiro Leonardo Framil, de 20 anos, diz que foi o liberalismo econômico e individual pregado pelo DEM (Democratas) que o atraiu quando buscava legendas para se aproximar.

Interessado em política desde os 14 anos, o estudante pré-universitário queria conhecer a militância do lado de dentro de uma sigla. "De fora, às vezes, não podemos alcançar tanto quanto estando dentro. Temos mais meios para mudar a situação. De fora, também ficamos insatisfeitos e eu tenho que ver como funciona, como as coisas são feitas", afirma.

Há um ano como presidente da Juventude Democratas de Minas Gerais, Framil acredita que a militância fora de um partido limita a percepção sobre a conjuntura política. Empolgado, ele só vê vantagens na filiação partidária. "É uma absorção que não para, um constante aprendizado. Vi que tinha um espaço muito grande para atuar no Democratas e havia coerência com os ideais que eu valorizo", explica.

Para enfrentar a descrença da juventude nas lideranças e políticos brasileiros, o mineiro diz que a receita passa pela compreensão dos anseios desse público pela classe política. Otimista, ele diz acreditar que o pleito de 2018 pode melhorar esse quadro: "Talvez se tenha maior visibilidade e transparência para enxergar quem é quem e oxigenar o cenário".

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'A juventude quer ser ouvida'

Luiz Felipe Martins, 22, São Paulo; filiado ao PSOL desde março/2017

Os cerca de 160 quilômetros que separam Sorocaba, onde nasceu, e o Vale do Ribeira, no interior paulista, onde vivia parte de sua família, apresentaram ao universitário Luiz Felipe Martins a disparidade social que o levou para a militância política. No trajeto até a região, que concentra 31 municípios distribuídos entre São Paulo e Paraná, há grandes bolsões de pobreza em cidades com IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) muito baixo.

"A realidade está aí, todo mundo enxerga a desigualdade social. Se há pessoas na rua é porque tem muita gente ganhando muita coisa, e tem muita gente ganhando nada", afirma.

Da atuação no grêmio estudantil durante o ensino médio ao centro acadêmico da PUC-Campinas, onde estuda direito, Martins chegou ao PSOL no começo de 2017 disposto a remover o abismo entre os cidadãos e a política.

“A juventude quer ser ouvida. Quando há o discurso de que queremos transformação, vem alguém mais velho e diz que ‘a vida não é assim’. A gente quer ser ouvido." A atuação partidária, diz ele, deu mais consciência do caminho que quer trilhar. "Eu estou no PSOL porque a luta dele faz sentido para mim."

Em São Paulo, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) foi a legenda de esquerda que mais cresceu (17%) em número de filiados jovens entre 2014 e 2018. Criado em 2004 a partir de uma dissidência do PT após o escândalo do mensalão, o PSOL teve um aumento de 30,3% nos jovens filiados de 16 a 24 anos em todo o país. Fonte: TSE

Para Martins, o PSOL capta o inconformismo de uma massa de jovens que questiona a realidade do país. Por enquanto, afirma o paulista, o sentimento de descrença na política já ganhou as eleições presidenciais de 2018, com as intenções de votos em branco e nulos superando os porcentuais dos pré-candidatos.

“As pessoas veem os problemas se repetindo, os mesmos discursos, as mesmas soluções… A consequência é descrença." Mais do que votar e delegar que outro resolva os problemas do país, Martins defende maior participação cidadã. "Não sou eu Luiz Felipe, é todo mundo, todo mundo decidindo junto o que é melhor para a gente."

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'Algo pode ser mudado e a escolha está nas nossas mãos'

Nathan Santos Oliveira, 21, RJ; filiado ao PSC desde julho/2017

Com a missão autoatribuída de incentivar os brasileiros a acreditarem na política, o fluminense Nathan Oliveira cita o ativista americano Martin Luther King e as bandeiras conservadoras como influências ao buscar um partido político para se filiar.

Aos 21 anos, o jovem acredita que a situação do país seria diferente se houvesse maior participação da população na política. "É melhor me envolver sabendo o que está acontecendo e tentar ajudar do que ficar simplesmente inerte, em casa, como a maioria dos brasileiros."

Inspirado pela famosa frase do Nobel da Paz, "O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons", Cordovil diz que procurou um partido limpo, sem escândalos de corrupção.

Filiou-se ao PSC em meados de 2017, quando a sigla ainda abrigava o deputado federal Jair Bolsonaro e seus três filhos com mandato: Eduardo e Flávio, deputados federal e estadual, e Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro.

Levantamento realizado pela Folha de S.Paulo em janeiro de 2018 apurou que o patrimônio dos quatro parlamentares com sobrenome Bolsonaro se multiplicou após o ingresso na política.

Em janeiro de 2018, a família Bolsonaro migrou para o PSL (Partido Social Liberal), sigla pela qual Jair Bolsonaro concorre ao Palácio do Planalto em 2018. Apenas o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) permaneceu no PSC.

O PSC (Partido Social Cristão) só cresceu (18,5%) no número de filiados na faixa dos 16 aos 24 anos na região Norte, onde tem a maior adesão entre os jovens que ingressaram em legendas partidárias desde o início da Operação Lava Jato. Em bases nacionais, teve queda de 25,4% no número de filiados dessa faixa etária. Fonte: TSE

Com as pesquisas de intenção de voto indicando um aumento no porcentual de votos brancos e nulos no pleito deste ano, Cordovil defende que o eleitorado precisa ser motivado e influenciado a sair de casa para votar. "Temos que gerar um sentimento novo, de que algo pode ser mudado e a escolha está nas nossas mãos", diz o jovem.

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'Vemos tanta coisa errada, não podemos ser só mais um'

Paulo Barbosa, 21, Minas Gerais; filiado ao PROS desde julho/2016

Aos 21 anos, o assessor parlamentar Paulo Barbosa já está na segunda filiação partidária. Morador de Governador Valadares, a 320 quilômetros da capital mineira, ele atuou na Juventude do PDT (Partido Democrático Trabalhista) por dois anos antes de migrar para o PROS (Partido Republicano da Ordem Social) em 2016. Barbosa diz que se aproximou da legenda ao conhecer o deputado federal e presidente estadual do PROS em Minas Gerais, Eros Biondini. Cantor de músicas religiosas, Biondini e Barbosa frequentam grupos da Renovação Carismática Católica.

Quando se filiou ao partido, também conquistou um emprego como assessor parlamentar do vereador Robinho Mifarreg, eleito em 2016. "Se a gente tem boa vontade e gosto pela política, tem que se envolver", afirma.

Entre 2014 e 2018, o PROS (Partido Republicano da Ordem Social) foi o segundo partido que mais angariou jovens no Sudeste, atrás apenas do Solidariedade. Em todo o país, a legenda teve um aumento de 1.726% no número de filiados entre 16 e 24 anos. Criado em 2010, só obteve registro definitivo no TSE em setembro de 2013. Fonte: TSE

Admirador de novatos na política nacional, como os ex-prefeitos de São Paulo João Dória (PSDB-SP) e de Palmas Carlos Amashta (PSB-TO) e o atual prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PHS-MG), Barbosa diz que nomes novos poderão surpreender na disputa presidencial. "Tem o Bolsonaro (PSL-RJ), um cara radical, mas quem sabe não será ele quem vai dar um choque de gestão no nosso governo, porque estamos precisando", afirma o jovem.

Em 2018, Barbosa não é candidato, mas não descarta essa possibilidade no futuro. "Vemos tanta coisa errada, não podemos ser só mais um. A minha visão é entrar para fazer a diferença", promete.

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'As pessoas estão desgostosas com as legendas maiores'

Vagner Ferreira, 24, São Paulo; filiado ao PCdoB desde junho/2013

O alagoano Vagner Ferreira conheceu a UJS (União da Juventude Socialista), ligada ao PCdoB, na escola técnica onde estudava, em Palmeira dos Índios. Foi de lá, a quase 150 quilômetros de Maceió, que o jovem --com 19 anos à época-- acompanhou as manifestações que se alastraram pelo país em junho de 2013 e ficaram conhecidas como Jornadas de Junho.

“Venho de um estado que tem uma realidade social muito discrepante, onde boa parte da riqueza é concentrada na mão de um grupo muito pequeno", diz Ferreira, hoje estudante de direito na capital paulista. Alagoas ostenta o título de pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os estados brasileiros, de 0,631. O índice, apurado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), leva em conta dados de expectativa de vida, escolaridade e renda.

A realidade no estado onde nasceu estimulou-o a entender a luta de classes, uma das bandeiras ideológicas do PCdoB. Outras pautas do partido, como o combate ao racismo e à homofobia, também foram relevantes na decisão de se filiar à legenda. “O PCdoB defende coisas nas quais eu acredito. Não me filiei por oportunismo eleitoreiro, foi um processo de construção pessoal, de luta”, diz o jovem, que mora em São Paulo há dois anos.

O PCdoB (Partido Comunista do Brasil) viu o número de filiados na faixa dos 16 aos 24 anos cair 38,1% em todo o país entre março de 2014 e março de 2018. Membro das coligações lideradas pelo PT nas últimas quatro eleições presidenciais e da base de apoio aos governos Lula e Dilma, a sigla registrou queda na adesão de jovens em todas as regiões. Somente no Sudeste perdeu 50% dos filiados nessa faixa etária, e no Norte encolheu 42%. Fonte: TSE

Ferreira atribui o movimento de evasão dos jovens de partidos políticos ao temor de "vestirem bandeiras e se decepcionarem”. “Pode ser um reflexo do cenário político. As pessoas estão desgostosas com as legendas maiores”, diz o alagoano.

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'É preciso mostrar que a política não é um bicho de sete cabeças'

Vittor Mensinger, 19, São Paulo; filiado ao PSDB desde fevereiro/2017

Um dos "ninhos" dos jovens tucanos paulistas é o escritório de advocacia do deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), eleito e reeleito para a Câmara dos Deputados desde 2006. É lá que o estudante de Direito Vittor Mensinger debate política com outros integrantes da Juventude do PSDB em São Paulo. E esse é o instrumento que ele escolheu para encorajar amigos e colegas a acreditarem novamente na política.

"Após esse período da Lava Jato começou muito aquele debate de que políticos são todos iguais. Filiado a um partido político, eu sinto que consigo, dentro da sociedade na qual eu me insiro, da minha faculdade, do meu bairro, com os amigos que cresceram junto comigo, encorajá-los a acreditar na política novamente", afirma. A maior vitória, conta Mensinger, é quando colegas pedem sua opinião sobre questões políticas atuais.

"É preciso mostrar que a política não é um bicho de sete cabeças e que a pauta política é algo essencial, independente da sua ideologia", defende o universitário tucano, que se filiou ao PSDB a convite de colegas ao ingressar na faculdade de direito.

Em São Paulo, o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) é o que tem o maior número de jovens filiados entre todas as legendas partidárias, diante da perda acentuada na adesão de outros partidos. Nos últimos quatro anos, teve queda de apenas 0,63% entre jovens de 16 aos 24 anos. No maior colégio eleitoral do Brasil, o PT perdeu 71,9% dos filiados nessa faixa etária. Em toda a região Sudeste, a queda nos filiados jovens ao partido do ex-presidente Lula chega a 70,8%. Fonte: TSE

Mensinger diz que não buscou uma legenda para se candidatar, e sim para conhecer pessoas que pensassem como ele. “O partido político tem uma ideologia, uma frente de pensamento, de administração e política pública que te oferece uma troca de experiências e ideias”, diz.

O debate e a reflexão na sociedade, defende, são a melhor forma de enfrentar a polarização e o discurso de ódio. “Quero que os jovens acreditem no poder da política, tenham responsabilidade com o próprio voto e consigam cumprir o papel de cidadão acima de tudo.”

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'As raposas velhas estão voltando para se reeleger'

Weverton Galdino, 21 anos, Paraíba; filiado ao PSB desde novembro/2016

Ele faz parte da estatística que mostra a debandada dos jovens do PT no Nordeste desde 2014: o Partido dos Trabalhadores encolheu 66,3% na faixa de 16 a 24 anos na região onde teve mais votos nas últimas quatro eleições presidenciais (desde 2002). O paraibano Weverton Galdino, 21, trocou a legenda pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) no rastro do incômodo com os escândalos de corrupção envolvendo petistas. No fim de 2016, decidiu buscar novos horizontes dentro da esquerda.

Quando criança, Galdino já era encantado por política, principalmente em época de eleição. A luta estudantil foi um caminho natural: ele presidiu o grêmio do IFPB (Instituto Federal da Paraíba) e atualmente compõe o Diretório Central dos Estudantes da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), onde cursa História.

No ambiente universitário, a desmotivação dos jovens com a política se traduz no desinteresse pela escolha das lideranças dentro do campus. Na eleição do Centro Acadêmico do Curso de História, afirma o paraibano, mais de 60% dos estudantes não compareceram à votação. Mas Galdino conta acreditar em renovação na política, no país e na região Nordeste, onde oligarquias ainda dominam o debate. “As raposas velhas estão voltando para se reeleger”, ressalta.

O PSB (Partido Socialista Brasileiro) perdeu espaço entre os jovens no Nordeste desde a morte de Eduardo Campos, em 2014. A queda no número de filiados de 16 a 24 anos desde então chega a 25,7%. Mas na Paraíba a legenda cresceu 10,7% e é o segundo partido com mais filiados jovens, logo atrás do MDB. Enquanto isso, o PT perdeu quase 500 jovens filiados no estado desde o início da Operação Lava Jato. Fonte: TSE

Galdino filiou-se ao PSB durante a ocupação de escolas que estava liderando na Paraíba, em 2016. "Estava um pouco insatisfeito porque o PT já estava levantando a questão de [ex-presidente] Lula ser candidato à presidência e eu não concordava. Num momento tão difícil que estávamos vivendo, eu e outros colegas defendíamos uma pessoa nova no partido", relata o jovem.

Sem voz dentro do PT, ele elogia o espaço que se abriu no novo partido. "O PSB sempre foi um exemplo na elaboração de políticas públicas para participação, sempre trabalhou com instrumentos democráticos", diz ele. Um dia, acrescenta, pretende se candidatar, mas ainda não será em 2018. "Desta vez só vou trabalhar pelas pessoas que acredito."

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'As pessoas não querem um partido que esteja sendo investigado'

Willian Schultz, 19, Rio Grande do Sul; filiado ao PSOL desde janeiro/2017

Os recém-completos 19 anos do gaúcho Willian Schultz incluem uma bagagem de militância que vem desde o Ensino Médio, quando ingressou no coletivo Juntos!, em Santa Maria (RS). Voltado para jovens secundaristas e universitários, o coletivo surgiu em 2011, em São Paulo, com apoio da corrente MES (Movimento Esquerda Socialista), do PSOL.

A aproximação com a sigla foi natural: Schultz participou da campanha do candidato do PSOL à prefeitura de Santa Maria em 2016 e oficializou a filiação no início de 2017.

Na cidade onde a presidente da legenda é uma jovem de 22 anos --a candidata a deputada estadual Alice Carvalho--, o estudante de ciências sociais diz que a adesão da juventude é maior entre os partidos não citados na Lava Jato ou mencionados sem provas.

“No PT, muitos filiados foram saindo. As pessoas param para pensar e não querem um partido que tenha algum conflito ou algo que esteja sendo investigado”, afirma.

Num eco das declarações da presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Carmen Lúcia, que defendeu partidos mais programáticos no Brasil para enfrentar a crise de representatividade, Schultz avalia que o brasileiro tende a ver mais a figura política do que o partido em si. Mas ele lembra que “não são as ideias que fazem a pessoa, é a pessoa que faz as ideias".  "Infelizmente essa é a democracia representativa e eles escolhem o que fazer em quatro anos.”

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