Chega de marra no PT

Governador baiano Rui Costa pede que partido esqueça impeachment e cogite apoiar presidenciável de outra sigla

Nathan Lopes Do UOL, em Salvador
Alberto Coutinho/Governo da Bahia

Rui Costa tem 55 anos e é um dos cinco governadores do PT espalhados pelo Brasil na atualidade. Braço direito de Jaques Wagner no governo baiano entre 2007 e 2014, alçou o cargo máximo no Estado há quase quatro anos e agora se prepara para tentar a reeleição.

Na segunda-feira (12), ele recebeu a reportagem do UOL em Salvador e, ao longo da entrevista, contrariou a cúpula petista em dois fatos relevantes: o discurso sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a possibilidade de um plano B caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não possa se candidatar em outubro.

Sobre o primeiro tema, ele sugere que seu partido "vire a página" do impeachment e que pare de brigar com "aquele momento histórico".

Para Costa, milhões de pessoas foram às ruas pedir a saída de Dilma e não se pode rejeitar os votos daqueles manifestantes. "Nós queremos ou não o voto dessas pessoas para reconstruir o Brasil? Queremos”, respondeu a si mesmo.

O governador avaliou ainda que uma eventual prisão de Lula pode render votos ao partido. E que o PT também deve considerar apoiar candidaturas de outras siglas para a disputa pelo Planalto caso o ex-presidente fique fora do pleito de outubro.

Sindicalista, braço direito de Jaques Wagner e governador: quem é Rui Costa

Reprodução/Facebook Reprodução/Facebook

"Por que o candidato não pode ser de outro partido?"

Para Costa, o PT precisaria entender que, em um cenário sem Lula, “mais importante que ter um nome do partido, é ter um nome que reconstrua o Brasil”.

“Não podemos ficar nessa marra de que, se não há um nome natural do PT e se o Lula não puder ser [candidato], por que não pode ser de outro partido? Acho que pode e acho que essa discussão, se ocorrer, no momento exato, nós vamos fazer esse debate”, comentou, sem citar nomes de outras possibilidades.

Condenado em segunda instância, Lula, hoje, está inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. O partido, porém, diz que vai insistir na candidatura. O ex-presidente também pode ser preso, já que o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) indicou que irá pedir a execução da pena de mais de 12 anos de reclusão.

Essa questão jurídica, aliás, é vista pelo governador baiano como um reflexo da ambição eleitoral de Lula.

"Se no Brasil não se pudesse disputar uma terceira eleição presidencial, mesmo alternada, o Lula não estaria na situação que está hoje. Tudo isso só tem o objetivo de impedi-lo de ser candidato”

Rui Costa, governador da Bahia

O ex-presidente é líder em todas as pesquisas de intenção de voto. Por isso, seria difícil discutir uma alternativa a ele no caso de um impedimento, diz Costa.

“Não é fácil discutir plano B com os índices de aprovação de Lula. Diria que, com a conjunção de coisas que fizeram contra ele, essa realidade inibe a discussão de um plano B”.

O governador também diz acreditar que, em outra situação, sem os processos e a condenação, Lula poderia estar puxando um nome "que viesse a firmar uma nova geração do PT". “Mas quem hoje vai se colocar como nome?”, questiona.

Nelson Almeida/AFP Nelson Almeida/AFP

"Prisão de Lula poderia render votos"

Para o governador baiano, a prisão de Lula poderia, inclusive, render votos ao PT. Para Costa, a detenção aumentaria um sentimento "de revolta, de indignação". Os beneficiários disso seriam os candidatos alinhados a Lula ou quem ganhar o apoio do ex-presidente.

“Vai aumentar ainda mais a indicação de algum nome que ele venha a apoiar, acho que aumenta a chance”. O governador, porém, diz orar para que o ex-presidente não seja preso.

Independentemente de Lula ou de quem também seja candidato ao Planalto por outros partidos, Costa torce para que, a partir de 2019, o momento seja de convergência.

“Quando digo reunificar não é um partido só, que todos passem a pensar da mesma forma, mas buscar negociar uma agenda comum que passe uma mensagem muito clara aos investidores”, pontua, recordando que investidores estão evitando o Brasil em função de seu "turbulento" momento político.

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"Queremos os votos de quem apoiou o impeachment"

Segundo Costa, o Brasil precisa de um projeto de Estado, e não de um projeto de um partido. E, para isso, será necessária a colaboração de todos, até da oposição, indicando que as definições, tomadas em conjunto, deverão ser mantidas seja quem estiver no comando do país.

"Precisamos apontar que nós não temos projetos de governo, que nós temos projetos de Estado", diz o petista.

O governador diz acreditar que Lula, apesar de ter críticos e atacar decisões do governo Michel Temer (MDB), tem condições de reunificar o país. "Mas mesmo que não seja o ex-presidente, que a pessoa no comando tenha essa convicção e faça um discurso de busca pela unidade nacional”. Nesse caso, deveriam ser debatidos temas como reforma da política e reforma tributária, diz Costa.

Nesse sentido de união, o PT também precisaria deixar de lado os discursos sobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Nós temos que virar a página daquele momento. Se a gente ficar remoendo o impeachment, nós não vamos nem dialogar com a sociedade". Costa, por exemplo, diz que pretende manter o PP, partido de seu vice e que apoiou o impeachment, em sua chapa à reeleição.

Ele comenta ser "inegável que milhões de pessoas foram para a rua naquele momento”.

Nós queremos ou não o voto dessas pessoas [que apoiaram o impeachment] para reconstruir o Brasil? Queremos. Então não adianta ficar brigando com aquele momento histórico, seus erros, seus acertos. Nós temos que dialogar com a sociedade e chamar quem quer compor o Brasil em novas bases éticas, onde a gente consiga pactuar mudanças estruturais

Rui Costa

Rui Costa, Governador da Bahia

Mateus Pereira/GOVBA Mateus Pereira/GOVBA

De que adiantou o foro privilegiado para Jaques Wagner?

Na entrevista, Costa voltou a defender seu antecessor, Jaques Wagner (PT), que foi alvo de uma operação da PF (Polícia Federal) acusado de participar de um esquema de corrupção envolvendo a Arena Fonte Nova, em Salvador.

Costa nega que Wagner tenha sido nomeado, em janeiro do ano passado, secretário de Desenvolvimento para lhe proporcionar foro privilegiado. “E o que adiantou o foro privilegiado para ele? Adiantou alguma coisa? Nada”.

O petista diz não temer ser investigado pela PF. “Até porque eu não faço nada de errado”, disse. “O que não gosto e denuncio é o espetáculo, coletivas midiáticas que querem apenas desmoralizar as pessoas”. Segundo a PF, parte do dinheiro foi para a campanha que elegeu Costa em 2014.

Alberto Coutinho/Governo da Bahia Alberto Coutinho/Governo da Bahia

Sem preconceito com o mercado

Defensor de parcerias entre a iniciativa privada e os governos, as PPPs, Costa diz ver dificuldade em tocar projetos com empresas por falta de conhecimento de representantes de Tribunais de Conta e de membros do Ministério Público sobre o tema.

"Nós não temos preconceito de dialogar com o mercado. São iniciativas locais, regionais que chamam os investidores, sem nenhum tipo de direcionamento, de favorecimento. E vai consolidando uma imagem de um jeito moderno de fazer gestão", diz. 

Para 2019, o governador, além das reformas, avalia que o novo presidente, seja quem for, precisará tocar as reformas política e tributária. Mas ele também acha que se deva aprovar uma “lei de responsabilidade dos agentes públicos”.

“Todos têm que ser responsabilizados pelos seus atos”. Ele cita como exemplo ordens judiciais que pedem a paralisação de obras que estariam sob suspeita, mas que, depois, são atestadas como corretas. ”E se dá prejuízo? Quem paga isso? Você imagina se o governador tivesse dado esse prejuízo? Meu nome estaria na manchete”.

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