'PM protege negros pobres'

Para economista Samuel Pessôa, a polícia de SP aumenta expectativa de vida dos mais vulneráveis

Guilherme Azevedo Do UOL, em São Paulo
Marcus Steinmeyer/UOL

"Você pode me acompanhar um pouquinho?"

Samuel Pessôa, economista, faz o convite, e saímos a pé de noite pelas ruas molhadas de chuva da rica Higienópolis, região central de São Paulo. A vida regurgita lá fora: um carro de polícia cruza, luzes piscam, moradores e seus cachorros passam, seguranças engravatados se posicionam, é sexta-feira.

A gente já falara um bom bocado na casa dele, um apartamento amplo e bem decorado pela mulher psicanalista, com telas de arte brasileira ao redor, móveis elegantes de madeira clara e de metal, e livros, muitos livros, empilhados.

O autor mais presente ali, com muitos volumes, é Jessé Souza, sociólogo, antropólogo, estudioso dos pobres brasileiros. Gente que Jessé chama de a ralé brasileira, sempre à margem do desenvolvimento, tema específico do livro "A Ralé Brasileira".

"É um dos meus autores preferidos. Gosto mais do Jessé antropólogo do que do Jessé ensaísta", justifica, com um exemplar de "A Ralé" nas mãos.

Pessôa é economista de profissão, doutor na matéria pela USP (Universidade de São Paulo) e analista social e político vinculado à FGV (Fundação Getulio Vargas), com ênfase em (sub)desenvolvimento. Defensor árduo também da modernização do Estado brasileiro via reformas.

Hoje está no período de transferência do comando da consultoria financeira de grandes fortunas Reliance, da qual foi sócio, após a venda do negócio para um banco suíço.

Alto, magro, óculos de aro escuro retangular, meio desengonçado no jeito, distraído. E esquecido até da entrevista marcada. "Me desculpe pelo atraso...", chega, esbaforido.

"Ele esquece até do aniversário dele", confirma a filha mais nova, a garotinha que surge do interior do apartamento, de cabelo encaracolado, vestido colorido e manchas escuras na face clara, rescaldo da massa plástica gelatinosa hoje sucesso com a garotada. A babá, de pele escura, sem uniforme e com muitos sorrisos, conduz a garota de volta.

No sofá da sala e depois nas ruas, Samuel Pessôa analisa historicamente os problemas brasileiros, situando o principal deles, em sua visão: o subdesenvolvimento social brasileiro advindo do baixo investimento em educação entre os anos de 1930 e 1980.

Não faltam declarações talvez fortes (e polêmicas): "A polícia de São Paulo aumenta a expectativa de vida dos jovens negros e pobres das periferias paulistas". Segundo ele, a PM paulista é política social bem-sucedida, porque diminuiu o índice de homicídios, protegendo exatamente a população mais vulnerável.

"Chegamos", Samuel Pessôa estanca o passo. E desaparece pela porta do restaurante japonês, onde a mulher o espera.

Arte UOL/Divulgação Arte UOL/Divulgação

"PM de SP aumenta expectativa de vida de jovens negros e pobres"

"É uma afirmação superforte, as pessoas de esquerda vão ficar loucas da vida comigo." Quando fala, o economista se inclina para trás, movimenta-se, mostra desconforto. 

"Combater o crime é importante. O fato de o governo do estado de São Paulo ter reduzido muito a criminalidade, saiu lá de 40 homicídios por 100 mil habitantes nos anos 1990 e chegou a 10 [10,9, segundo o "Atlas da Violência 2018"], é fundamental.

Costumo dizer que a competência da Polícia Militar de São Paulo, da instituição, é das políticas públicas que mais defendem os interesses dos jovens pretos e pobres das periferias brasileiras. É só olhar o número. A polícia de São Paulo, que é eficiente e responsável em grande medida pela enorme redução do número de homicídios, aumenta a expectativa de vida dos jovens pretos e pobres das periferias paulistas. Isso é um fato objetivo. Não é uma visão, é um número.

Você vai para a Bahia, por exemplo, lá hoje morrem mais de 40 pessoas por 100 mil habitantes [46,9, segundo o "Atlas"] e em São Paulo morrem 10. Quando tem crime no Brasil, quem é que morre? Os jovens negros e pobres. Então, se você reduz o crime de 40 para 10, quem é que está morrendo menos? Tem uma hora que é lógica, não é visão. No mundo, o fato objetivo existe."

"Acordo com PCC em SP é uma bobagem"

Pessôa critica o relativismo atribuído ao pensamento de esquerda e não vê "lógica" em acordo do governo paulista com lideranças do PCC para conter a violência no estado. "Por que outros governadores não fizeram?"

"Essa ideia da esquerda de que tudo é relativo, de que tudo é uma narrativa, e de que na história da humanidade não existe nenhuma objetividade nos fatos, esse relativismo, levado às últimas consequências, está errado. Podemos discutir se essa é a melhor política. Agora, o fato de a taxa de homicídios em São Paulo ser um quarto da taxa na Bahia, por exemplo, faz com que os jovens negros e pobres de São Paulo tenham expetativa de vida muito maior que os de lá.

Pode-se discutir: o crime que caiu em São Paulo não tem nada a ver com a Polícia Militar. Tudo bem, é uma discussão complexa. Tem gente que diz, e acho essa história uma bobagem total e absoluta, que o Alckmin [Geraldo Alckmin, do PSDB, governador do estado entre 2001 e 2006 e entre 2011 e 2018, hoje candidato à Presidência] fez acordo com o PCC [a facção criminosa Primeiro Comando da Capital] e por isso o crime caiu em São Paulo.

Tem uns sociólogos que escrevem livros defendendo essa tese, mas essa tese não tem evidência empírica e não é lógica: se o Alckmin fez acordo com o PCC, por que os outros governadores não fizeram? Essa história não faz o menor sentido.

A minha visão é de que a polícia de São Paulo e as políticas públicas ligadas à segurança no estado são de melhor qualidade do que as do resto do país, e a parcela que mais se beneficia dessa queda são os jovens pretos e pobres da periferia. É isso."

Se Alckmin fez acordo com o PCC, por que os outros governadores não fizeram?

Samuel Pessôa, economista

Negligenciar desenvolvimento social foi o erro

Para o economista, nosso subdesenvolvimento tem mais origem na falta de prioridade à educação entre 1930 e 1980 do que na herança do passado escravocrata. Uma ralé teria assim se formado, com poucas chances de avançar e vencer.

"Na minha visão, as características sociais, e em particular a existência de uma ralé brasileira, que é uma população que vive no subemprego, precisa muito dos serviços públicos e não tem esses serviços, estão mais associadas ao fato de que permitimos enfrentar uma transição demográfica entre 1930 e 1980, por 50 anos, investindo muito pouco em educação. Enfatizo mais esse fato da nossa história econômica e social do que nosso passado escravocrata, inclusive porque esse passado já está um pouco distante.

A transição demográfica, de 1930 a 1980, é o período em que a mortalidade começa a cair, porque o país melhora um pouquinho, a natalidade continua alta e, portanto, temos um processo de aceleração muito intensa do crescimento demográfico [de cerca de 35 milhões de habitantes em 1930, a população brasileira passou para cerca de 120 milhões em 1980, aumento de mais de 240%].

Nesse período, não só investíamos muito pouco em educação, como também a ênfase no desenvolvimento social era muito baixa. A gente priorizou, por mais de 50 anos, investimento em capital físico, o desenvolvimento industrial.

Penso que essa ralé descende muito mais do nacional-desenvolvimentismo, que é esse período de pesado investimento industrial."

"Subdesenvolvimento também está dentro das pessoas"

Samuel Pessôa dialoga com o pensamento de um sociólogo de esquerda, Jessé Souza, autor de obras como "A Ralé Brasileira" e "A Elite do Atraso", e aponta que o subdesenvolvimento também é uma questão íntima.

"O pensamento de esquerda tem tendência a achar que o subdesenvolvimento é sempre exterior às pessoas. Tanto que a esquerda sempre teve dificuldade de localizar na educação o motor do desenvolvimento econômico. Em geral, os autores que perceberam uma ligação entre educação e desenvolvimento eram conservadores. Isso é muito claro quando a gente olha para a obra de um autor como Celso Furtado [1920-2004, economista que formulou políticas de desenvolvimento por meio da intervenção estatal].

Quando olha para nações, a esquerda também tem a tendência de achar que o subdesenvolvimento está ligado ao relacionamento que os países têm com o resto do mundo. O subdesenvolvimento vem pelo comércio, pelo imperialismo, investimento estrangeiro.

Interessante é que nos livros "mais de antropólogo" do [sociólogo] Jessé Souza, quando olha para as famílias da ralé, ele localiza o subdesenvolvimento lá dentro delas também. Evidentemente que tem um processo histórico que produziu isso. Trezentos e cinquenta anos de escravismo fazem parte disso e certamente uma transição demográfica investindo muito pouco em educação faz parte disso também.

Jessé simplesmente descobriu uma coisa que os conservadores já sabiam: o subdesenvolvimento está dentro das pessoas também. Não quer dizer que as pessoas sejam culpadas por isso, pois a culpa tem uma dimensão moral e há um processo histórico nisso, mas quer dizer que, se não houver uma ação que mude a forma como as pessoas se comportam diante da vida, elas não vão sair do subdesenvolvimento. Isso se chama educação, escola."

A esquerda tem dificuldade de olhar o subdesenvolvimento como algo interno, intrínseco ao país e à pessoa

Samuel Pessôa, economista

"Precisamos aprender com a educação de Cuba"

Para Pessôa, a transformação social efetiva, o fim do subdesenvolvimento, vem por meio da escola de qualidade. O modelo para ele é o cubano. Com currículo enxuto e padronizado, mas ensinado com profundidade.

"O elemento mais importante, que muda as pessoas por dentro, é a escola de qualidade. É a escola pública normal, com ensino de qualidade. A gente tinha de aprender com Cuba. Vamos lá ver como Cuba conseguiu isso. E se você olhar o que Cuba fez e faz, é o oposto do que todos os sindicatos de professores de escola pública querem.

A primeira coisa em Cuba é uma enorme padronização do currículo, principalmente nas disciplinas básicas, português, matemática. É um currículo pouco ambicioso na quantidade de tópicos, muito ambicioso na profundidade com que os temas são tratados, com uma padronização no sentido de que aquele currículo é visto em todas as escolas ao mesmo tempo e a qualidade do aprendizado dos alunos é avaliada o tempo todo.

Em Cuba, a sala de aula não é 'império' do professor, o professor não manda na sala de aula. Em Cuba, a sala de aula é 'império' da secretaria da educação, do Estado cubano. O professor é um agente que desempenha o que o Estado cubano quer que ele desempenhe. E se ele não desempenhar direito, perde o emprego. O professor em Cuba não tem estabilidade.

O professor cubano é avaliado pela capacidade de ensinar. E indiretamente pela capacidade de desempenho dos alunos dele. É de fato o melhor sistema de educação latino-americano.

"PT quebrou o país e hoje prega práticas autoritárias"

Samuel Pessôa acredita que a adoção de um modelo de intervenção na economia, somada à corrupção, produziram a falência do Estado brasileiro sob o comando do PT.

"O PT quebrou o país, é fato. Foi muito incompetente. Para mim, é até difícil de entender, porque o primeiro governo Lula [2002-2006] foi muito bom. Como um grupo político começa a governar o país, faz tudo certo, colhe os efeitos benéficos dos acertos e de repente começa a fazer tudo errado?

Tem uma transição que ainda vai ser contada, que é o intervencionismo. Começaram sem intervencionismo e depois resolveram voltar para esse modelo nacional-desenvolvimentista. O que é isso? Construir a indústria naval, muito dinheiro para o BNDES, desonerações sem nenhum motivo, mudança do marco regulatório do petróleo. Essas políticas começam hoje e vão dar maus resultados daqui a dez anos. Esse intervencionismo apareceu mais em 2009, mas começou com a mudança de guarda na Fazenda, a saída de Antonio Palocci e ida de Guido Mantega [para o cargo, em 2006]. Esse é um lado.

E tem um segundo lado: os petistas não resolveram consertar os excessos do nosso estado de bem-estar social. A partir de 2011, quando a receita deixou de crescer junto com a despesa, tinham de ter aumentado impostos, ou, no caso de o Congresso não aprovar, cortado gastos, feito reforma da Previdência. Ao não fazerem isso e insistirem na agenda intervencionista, quebraram o país. E junto com isso a corrupção muito alta."

PT contra a democracia?

"Olho toda a relação do PT com a Venezuela, com a Nicarágua e com Cuba e acho que não é mais um partido democrático. Como Jair Bolsonaro [presidenciável do PSL] também não é desse campo. No passado nunca achei isso, mas olho nos últimos três anos como o PT se comportou e como as lideranças se pronunciam e acho, não tenho certeza, posso estar errado e torço para estar, que esse grupo político saiu do campo democrático. É um grupo que prega práticas autoritárias.

Inclusive acho que sustentar o discurso do golpe [como o PT qualifica o impeachment de Dilma] é uma prática autoritária. Falar que foi golpe é autoritarismo. Só fala que foi golpe quem não gosta da democracia, porque democracia se legitima com o cumprimento das regras, e as regras [para o impeachment] foram cumpridas todinhas."

Arte UOL sobre Reprodução/PT Arte UOL sobre Reprodução/PT

"Lula era para ser nosso Mandela"

O economista valoriza a trajetória e a inteligência do líder petista, mas vê sinais de corrupção dele e de sua família.

"Lula tem uma das biografias mais bonitas que esse país já produziu. Ele, com a Marina Silva [presidenciável da Rede], são duas lideranças políticas com biografias maravilhosas. Acho que ele se envolveu em corrupção. Vejo a biografia dos filhos dele e acho que tem corrupção. A corrupção mais medíocre, pequena, de 'quero ficar rico, mudar de classe social'. Não posso provar, mas acho estranho como enriqueceram, não é compatível com o que esses meninos fizeram.

Lula é um homem genial, uma cabeça superinteligente, um líder político espetacular. Fez um ótimo primeiro governo, depois a qualidade piorou e acho que ele se corrompeu. É uma tristeza para a gente.

Lula era o cara para ser o nosso Mandela [Nelson Mandela (1918-2013), líder da luta contra o apartheid na África do Sul, presidente do país entre 1994 e 1999 e prêmio Nobel da Paz]."

Arte UOL Arte UOL

"Cotas fazem todo o sentido"

"Tem um enfoque, mais conservador, que diz que cota é ruim porque não é meritocrática, mas isso é falacioso mesmo sob a ótica meritocrática. Pega a política de cotas: você tem dois garotos, um nasceu na classe A, criado a Danoninho, colégios ótimos; o outro nasceu na periferia. Aí fazem vestibular. Um tira 9, o outro tira 7. Parece que o 9 tem mais mérito? Não. Para definir o mérito, tem de olhar a história de cada um. E as histórias são muito diferentes. É possível que o 9 seja nota mais baixa do que o 7, controlado pelas circunstâncias. E isso tudo dentro do princípio conservador, pois não estou abrindo mão do mérito.

Os três argumentos

"Se olhar a política de cotas, há três argumentos que a sustentam e justificam. O primeiro é o puramente meritocrático, como disse. O segundo é compensatório, compenso mais ainda do que o meritocrático porque aquele grupo historicamente não teve oportunidade. A cota compensatória é maior do que a meritocrática não só para equalizar diferenças, mas também para aumentar a representação desse grupo. E tem o terceiro argumento, que é haver mais diversidade nas universidades. Diversidade é um valor, é bom.

"Discriminação piora vida do negro"

"Certamente, a cota, como instrumento meritocrático de equalizar as pessoas, faz todo o sentido. Sou favorável à cota social, e acho a cota racial complicada, mas o tema racial ainda é muito importante no Brasil. Pegue um branco e um negro com as mesmas condições, e esse negro tem uma vida pior que esse branco no Brasil. Não é um preconceito racial, como o norte-americano, com uma carga emocional forte, raiva. Seria o que os economistas chamam de discriminação estatística e alguma discriminação social maior. Uma discriminação que torna a vida dos negros mais difícil.

Política racial importa

"A presença do negro em lugares de muita visibilidade é importante para gerar modelos para as crianças negras, para que se vejam no mundo e isso as estimule a estudar, se esforçar, ver um futuro. Ter mais negros na TV, mais negros artistas, por exemplo. Acho toda essa agenda importante e entendo a intervenção do Estado. A gente tem de tocar."

Se não houver uma ação que mude a forma como as pessoas se comportam diante da vida, elas não vão sair do subdesenvolvimento

Samuel Pessôa, economista

"Se não arrumar o fiscal, investimento não volta"

Samuel Pessôa diz acreditar que, seja quem for o presidente eleito, não poderá deixar de enfrentar o desequilíbrio das contas e evitar que a inflação volte.

"Neste ano, estamos falando da necessidade de ajuste fiscal, nas entrevistas dos candidatos, nos debates eleitorais. Em 2014, os candidatos esconderam isso da sociedade. Evidentemente, os políticos não vão falar exatamente o que vão fazer, mas sabemos que alguma coisa tem de ser feita. Nesse aspecto, estamos em situação melhor que em 2014.

O cara que for eleito e sentar naquela cadeira [de presidente] em 1º de janeiro do ano que vem vai receber uma economia com inflação a 4% e Selic [taxa básica de juro] a 6,5%. Se ele não fizer o ajuste fiscal, quatro anos depois vai entregar [o país] com inflação a 20%. Será que esse cara vai ser reeleito?

O fato é que, se não arrumar o fiscal, o investimento não vai voltar. Você acha que o empresário vai investir num lugar em que o Congresso Nacional não decide quem paga a conta? Porque a incapacidade do Congresso de administrar o conflito distributivo é lavar as mãos sobre dizer quem vai pagar a conta. Então, a dívida pública vai continuar crescendo, o câmbio vai se desvalorizando e não se sabe qual será o futuro.

A população brasileira não gosta de inflação, e tem razão, porque o processo inflacionário torna a vida dos mais pobres pior. Quando se desorganiza a economia, todo mundo perde, mas os pobres perdem mais. Não arrumar o fiscal é o primeiro passo para a gente virar Venezuela, o caminho da Argentina."

Contra privilégios

Segundo o economista, para corrigir problemas do governo, será preciso enfrentar privilégios, como os do funcionalismo público.

"Há um outro grupo de interesses, talvez mais poderoso do que o banqueiro, do que o setor privado, que é o grupo dos servidores públicos. Pega o diferencial de salário entre o setor privado e o público no Brasil e controla por características do trabalhador. Tem um trabalho do Banco Mundial recente que mostrou que, na União, o trabalhador do setor público ganha cerca de 70% a mais do que um trabalhador igualzinho a ele no setor privado no Brasil. Se olhar no resto do mundo, tem diferencial no setor público, mas é da ordem de 15%. O Brasil gasta 4% do PIB com a aposentadoria do servidor público.

Então há as empresas, com sua agenda, e acho que um dos erros de Dilma Rousseff [presidente petista cassada pelo Congresso em 2016, no segundo ano do segundo mandato] foi atender muito a agenda empresarial [com as desonerações fiscais], mas há os servidores públicos, que defendem condições de trabalho e de remuneração que não são razoáveis, dada a realidade do país e um Estado que ficou grande demais. Não tem vilão.

Em geral, o pensamento de esquerda tem isso, as pessoas são meio maniqueístas, 'o imperialismo, os Estados Unidos, os banqueiros'. Não, a vida é mais complicada. Todo mundo tem seus motivos e é preciso fazer uma conta de chegada. Cobrar mais imposto, de preferência de rico, porque rico paga pouco imposto no Brasil. Cobrar mais contribuição previdenciária de servidor público. Olhar o estado de bem-estar brasileiro e fazer um ajuste."

Um profissional de economia, como eu, só pode dizer: 'Se arbitrar assim, o crescimento final do país vai ficar um pouco mais lento. Se arbitrar de outra forma, o crescimento vai ser um pouco mais rápido'. Qual é melhor? Às vezes, o crescimento é um pouco mais lento, mas com uma desigualdade menor, atacando mais nossos problemas de equidade. Às vezes, o crescimento é maior, com uma igualdade pior. Quem faz essa conta? O economista? O economista dá o cardápio, a conta quem faz é o Legislativo

Samuel Pessôa, economista

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