A maioria das reformas previdenciárias feitas nas últimas décadas concentraram-se principalmente em equilibrar as contas, especialmente devido ao envelhecimento da população, afirmou Boulhol.
Isso afetou principalmente as camadas mais pobres da sociedade, aumentando as idades para deixar o mercado de trabalho e reduzindo o valor das aposentadorias. Ao mesmo tempo, em alguns países, foi criada uma forma para fortalecer uma primeira camada de proteção social para os mais vulneráveis.
Para reformas futuras, a prioridade vai depender de como estará o sistema. "Garantir a sustentabilidade financeira e proporcionar rendimentos de pensões adequados são os dois principais objetivos, que devem ser buscados em conjunto. Se as promessas de aposentadoria não forem financeiramente sustentáveis, o equilíbrio econômico pode ser ameaçado", disse Boulhol.
A sustentabilidade também preocupa, segundo o professor Bonoli. "É preciso garantir a sustentabilidade financeira no médio prazo, um horizonte temporal de, digamos, 10 a 15 anos", disse.
Além disso, ele defende que é preciso se certificar que os mais vulneráveis sejam adequadamente compensados e protegidos dos custos da reforma. Ele também ressalta a necessidade de a política previdenciária trilhar um caminho estável, previsível e coerente.
"A política de pensão afeta a vida das pessoas durante um período muito longo, passando de seus anos de trabalho até o final de suas vidas. Por esse motivo, deve ser estável, altamente previsível e fácil de entender. Mudanças frequentes, reformas incoerentes, passos para trás são características negativas. Infelizmente, muitas vezes são inevitáveis quando as reformas se tornam altamente politizadas", disse Bonoli.
Para Bonoli, o sistema das pensões vai ser escolhido por todos e depender da importância dada à duração do período de aposentadoria e a quanto de seus salários estão prontas para sacrificar para receber renda durante a aposentadoria.
"Não existe almoço grátis. Um elemento crucial no processo de reforma é a transição para o novo equilíbrio. Quando o foco é a sustentabilidade financeira, como deveria ser no Brasil, deixar algum tempo para as pessoas adaptarem suas decisões e comportamentos às novas regras é importante, se possível, já que uma mudança abrupta pode criar dificuldades sociais", afirma.
"No entanto, uma longa transição reduz os benefícios da reforma. Um equilíbrio correto precisa ser atingido. Se for adiada demais em relação ao que é necessário, ela pode acabar em um desastre, porque pode se tornar tarde demais para evitar um ajuste abrupto."