O termo já foi usado para determinar composições políticas distintas desde a Constituinte em 1987. Mais recentemente, em 2014, ressurgiu sob a alcunha de "blocão" pelas mãos do então deputado Eduardo Cunha (MDB), atualmente encarcerado em Curitiba.
Basicamente, trata-se da reunião de partidos de proporções médias e que não têm um interesse programático: ou seja, não defendem pautas específicas, mas existem para negociar cargos e favores.
No geral, os partidos do centrão são ideologicamente conservadores e abrigam deputados do "baixo clero" da Câmara. Dados organizados pelo Cesop (Centro de Estudos de Opinião Pública), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), colocam todos os partidos que já fizeram parte do bloco à direita no espectro ideológico. A divisão foi feita com base nos trabalhos dos cientistas políticos Timothy Power e César Zucco, a partir de entrevistas com os próprios congressistas.
"A denominação centrão tem uma raiz histórica na Constituinte. Naquele período, um grupo começou a se organizar para fazer oposição a uma pauta de esquerda que estava sendo colocada por grupos sociais na formulação das leis e das regras que estariam na próxima Constituição. Não se definiram na ocasião como direita. Era um fenômeno que tínhamos no Brasil chamado 'direita envergonhada'. Então se autodenominaram de centrão", explica Oswaldo Amaral, da Unicamp.
Foi o desenvolvimento dessa articulação, anos mais tarde, que abriu caminho para o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Foi a articulação do centrão também que, posteriormente, desbancou o próprio Cunha da presidência da Casa.
Nessas duas ocasiões, o bloco foi decisivo para aprovar a destituição dos políticos. Cunha foi cassado por seus pares em 2016 em uma votação aberta, acusado de decoro parlamentar por mentir à CPI da Petrobras sobre ter contas no exterior. Alvo da Operação Lava Jato, ele está preso desde outubro de 2016.
Entre idas e vindas de legendas, o centrão inchou durante o governo Temer, sob a batuta de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se elegeu presidente da Câmara. Em seu auge numérico, o bloco somou 13 partidos e cerca de 220 deputados --ou seja, mais de 40% da Casa.
Nessa configuração, então governista, aprovou a terceirização, que permitiu a empresas terceirizar as atividades-fim. A medida passou com 232 votos contra 188 em março de 2017. Os partidos do centrão foram responsáveis por 147 dos votos favoráveis.
"Quando você tem uma situação política polarizada, com dois partidos majoritários na Casa, o lugar que o centrão pender é maioria. Se ele pender para oposição, a maioria é oposição, se ele pender para o governo, a maioria é governo", explica Carlos Melo. "O centrão sabe disso e sabe agir coordenadamente pelos seus interesses. Por isso acaba tendo essa importância toda."
No início do período eleitoral, apenas cinco dos partidos considerados como centrão mantiveram negociações coordenadas na hora de decidir, a duras penas, o apoio a um candidato à Presidência: DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB declaram em julho ser parte da coligação de Geraldo Alckmin (PSDB). Demais partidos apoiaram outros candidatos ou lançaram nomes próprios.