Pirapora, manhã de 29 de setembro.
Em cima de um pequeno estrado de madeira que faz as vezes de palco no comitê eleitoral, Aécio Neves tem a companhia de vereadores, prefeitos e ex-prefeitos e cabos eleitorais de cidades do norte de Minas Gerais.
O ex-prefeito Warmillon Fonseca Braga, 53, comanda a recepção ao candidato a deputado federal. Por meio dele, o tucano descobre que há um repórter do UOL no local.
Ao receber a informação, o semblante de Aécio escurece e é possível ouvir ele dizer, contrariado, a seguinte frase:
"Eles [os jornalistas] estão fazendo matéria para me sacanear".
Warmillon foi prefeito por quatro mandatos consecutivos em duas cidades da região. Primeiro em Lagoa dos Patos (1997-2004) e depois em Pirapora (2005-2012), cidade com 56 mil habitantes, estima o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Porém, a ficha processual de Warmillon impressiona ainda mais. Somente na 1ª Vara Cível de Pirapora, ele aparece como réu em 36 processos por improbidade administrativa. Uma reportagem publicada em 2015 pelo jornal "Estado de Minas" mostrou que ele acumulou um patrimônio R$ 70 milhões.
Nos últimos cinco anos, Warmillon foi preso ao menos duas vezes em operações da Polícia Federal. Ostenta uma condenação referendada em segunda instância pelo TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) por fraudes na licitação para contratos de shows do centenário da cidade piraporense, comemorado no ano de 2012. Ele recorre da decisão. Em julho de 2013, a Justiça Federal em Montes Claros o condenou por improbidade administrativa por desvio de recursos federais. Seus direitos políticos foram cassados.
Mesmo inelegível, Warmillon Braga se candidatou em 2016 a prefeito de Pirapora. Após ter seu registro barrado, indicou como substituta sua mulher, a administradora Marcella Machado Ribas Fonseca, 37. Com o nome eleitoral "Marcela de Warmillon", ela acabou por vencer a disputa municipal. Em março último, a Justiça Eleitoral cassou seu mandato, sob a acusação de abuso de poder midiático. A prefeita recorre da decisão.
O encontro com Aécio foi organizado no comitê eleitoral criado, inicialmente, por Warmillon e Marcella para concentrar a campanha na região da deputada federal Raquel Muniz (PSD) e do deputado estadual Gil Pereira (PP). Ambos tentam a reeleição.
Raquel ganhou notoriedade por elogiar o marido ao pronunciar seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff, na sessão da Câmara realizada em 17 de abril de 2016. Então prefeito de Montes Claros (MG), Ruy Muniz foi preso menos de 24 horas depois. Em dezembro de 2017, a Justiça Federal condenou o casal Muniz por improbidade administrativa.
"O povo de Pirapora é grato. As pessoas de Pirapora votam a pedido meu, da prefeita, dos vereadores. Nós mostramos às pessoas quais os dois candidatos que estamos apoiando e elas ficam à vontade para escolher um deles", afirma Warmillon Braga.
Instado a comparar seus problemas judiciais com os de Aécio Neves, ele arremata: "A gente passa pelo crivo da Justiça, mas também passa pelo crivo de nossos eleitores. E todos os nossos eleitores sabem fazer justiça, porque estando na política você sofre todo tipo de injustiça, mas o eleitor sabe discernir o que é verdade, o que é mentira, o que é denuncismo político".
Durante seu discurso, Aécio faz uma menção indireta às investigações contra ele no Supremo.
"É um tempo difícil na política. Tentam transformar todos em farinha do mesmo saco e sabemos que não somos. O tempo vai permitir que a verdade prevaleça.”
Aécio pede a votos e Anastasia e faz um aceno à candidatura de Alckmin à Presidência da República.
“Longe de mim querer influenciá-los, mas eu devo, com lealdade, com a coerência que trago comigo em toda minha trajetória política, dizer que nós vamos lutar os últimos instantes dessas eleições e assim como esperar elegermos Anastasia no 1º turno, devo externar meu apoio ao candidato de meu partido, Geraldo Alckmin, à Presidência da República"
Quando o evento termina, Aécio se deixa fotografar com os presentes. Diante da aproximação do repórter do UOL, concede responder a apenas uma pergunta. Mal espera que a indagação seja formulada e corta:
“Tem sido uma campanha maravilhosa. É só você ver o carinho com que eu sou recebido, você mesmo pode avaliar melhor do que eu”.
Retorna a pose para novas fotografias. Volta-se para o repórter e diz:
“Eu realmente lamento ter perdido em 2014 porque o país não estaria nesta situação. Estaríamos muito melhor”.
É questionado se apoiará Fernando Haddad (PT) ou Jair Bolsonaro (PSL) no eventual segundo turno.
“Não vou cair nessa armadilha. Até 7 de outubro, estou com Geraldo Alckmin. Depois, veremos.”
Contudo, os santinhos de Aécio distribuídos no comício só trazem os números dele e de Anastasia. O espaço para presidente está em branco.
Aécio Neves prossegue em direção a um carro estacionado em frente ao comitê. É secundado por Warmillon Braga, que não permite que o repórter faça uma pergunta à prefeita de Pirapora.
Sob a alegação de que precisa levar Aécio ao aeroporto, ele segura firme a mão direita da mulher e começa a correr em direção à saída.
"Somente uma pergunta. Uma pergunta", pede o repórter.
"Não! Não dá tempo! Não dá tempo", grita Warmillon, enquanto corre. Marcella deixa se levar com passos acelerados.
Ambos entram no carro grande de cor branca, onde Aécio os espera.
Warmillon assume a direção. Os políticos acenam para os poucos eleitores.
Aécio Neves ainda visitaria, naquele sábado, Delfinópolis, cidade com exatos 6.146 eleitores, localizada no sudoeste mineiro.