Da mesma forma que as "grandes figuras" de 1968 marcaram a vida política do Brasil nas décadas que se seguiram, o recente protagonismo de jovens lideranças estudantis pode ser uma apresentação dos rostos que veremos nas eleições futuras.
Mas nem tudo o que parece é. A nova geração vê múltiplos caminhos para a militância depois que os bancos escolares ficarem para trás.
Carina Vitral abre espaço para uma possível candidatura política daqui a alguns anos, assim como Stéphanie do Prado Brasil, universitária gaúcha que cogita concorrer a deputada ou prefeita.
Quem descarta totalmente o caminho da política partidária poderá ser encontrado futuramente no movimento sindical, como o goiano Fábio de Oliveira Júnior e a estudante de direito Stela de Castro Reis, da UFF em Volta Redonda (RJ).
Entre os secundaristas, a militância partidária surge como uma possibilidade entre outros caminhos. Participantes de diversas ocupações em 2015 e 2016, a paulista Caroline da Fonseca Silva e a carioca Isabelle Teixeira Ribeiro, ambas de 17 anos, não descartam se filiar a algum partido para ter voz, mas hoje não se veem como futuras candidatas a um mandato eleitoral.
"Também penso em abrir uma ONG para acolher crianças carentes na periferia", acrescenta Caroline, que atualmente integra a União da Juventude Socialista (UJS).
A carioca Júlia Sampaio, que esteve no protesto contra a reforma da Previdência no centro do Rio em março deste ano, quer seguir lutando pelos direitos das mulheres. Alvim Almeida, de 17 anos, diz que muitos colegas com quem participou de ocupações se desmobilizaram. "Muita gente saiu do terceiro ano do ensino médio e não teve um trabalho de base para que os primeiros anos e o ensino fundamental continuassem esse movimento", critica.
O contexto histórico-social do século 21, diz o cientista político Marco Aurélio Nogueira, favorece o hiperativismo dos indivíduos e a atuação dos jovens em múltiplas frentes. "Eles não são passivos e estão sendo empurrados para a reivindicação", analisa.
Hoje, a motivação é o próprio desejo de participar. "Porém, para o casamento entre desejo de participação e movimento estudantil acontecer, esse movimento precisa se reinventar", afirma.
A historiadora Angélica Muller resgata uma situação que viveu em 2013 para retratar a pluralidade que marca o ativismo estudantil hoje. "Eu estava curiosa para saber mais sobre aquela multidão na rua, e foi engraçado porque chegaram para mim com uma caneta na mão e um cartaz e me disseram 'olha, escreva sua frase'. Perguntei qual frase e a resposta foi 'o que te representa'."