Comida na escola

Qual é o papel do lanche e da merenda na vida do estudante?

Cintia Baio e Carolina Cunha Da Novelo Comunicação
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A alimentação é parte importante da educação infantil. Seja na escola pública ou na particular, a comida oferecida aos alunos dá energia para o dia de estudo. Mas é preciso avançar no tema. A escola deve ensinar às crianças a necessidade de ter uma alimentação saudável para evitar riscos de doenças cardíacas, diabetes, deficiências imunológicas, obesidade, entre outros problemas.

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Aprender a se alimentar (bem) deveria estar no currículo

Nas escolas particulares, os alunos têm a opção de trazer o lanche de casa ou comprar na cantina. Segundo a nutricionista Martha Fonseca Paschoa Amódio, especialista em nutrição escolar e que atua com colégios particulares em São Paulo, 40% dos alunos que estudam no período da manhã tomam apenas um copo de leite ao sair de casa, ou seja, sua primeira refeição do dia será o lanche na escola.

“O problema é que no caso de quem traz o lanche de casa é um erro comum das mães não envolver as crianças na confecção das lancheiras e optar por alimentos prontos, sucos de caixinha, em vez de água, chá natural ou lanches mais leves. Na cantina, o aluno vai encontrar, na maioria das vezes, alimentos industrializados e frituras. Mas não adianta proibir, tem que educar”, diz a nutricionista.

Ela aponta três problemas recorrentes nos colégios particulares: a falta de informação para cobrar e escolher melhor os fornecedores de alimentos, as escolhas erradas na exposição dos alimentos considerados saudáveis e a ausência de uma nutricionista da instituição. "Não é segredo que nós comemos com os olhos. Não adianta exibir uma fruta feia na cantina e dizer que é saudável ou mostrar um arroz branco soltinho ao lado de um integral empapado", afirma Amódio.

A falta de informação também atrapalha a formação das crianças sobre o tema. "A educação alimentar na escola ainda é tratada de forma pulverizada, em uma aula de ciências ou atividade culinária com professores que não têm especialidade no assunto, quando deveria fazer parte do currículo escolar", diz ela.

O que impede as escolas de assumirem essa tarefa? "A polêmica que vai gerar. Os adultos aprenderam a se alimentar mal e estão passando isso para as crianças. Nossa alimentação no dia a dia é ruim. Se a escola muda esse padrão, será muito questionada pelos pais. Eles cobram a escola sobre segurança, sobre o Enem, mas a alimentação ainda é secundária."

Que merenda é essa?

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Obesidade e restrições: outras questões na merenda escolar

Se oferecer uma alimentação saudável e balanceada já é uma missão difícil para as escolas, imagine ter de lidar com restrições alimentares, alergias a lactose ou glúten, crianças diabéticas, hipertensão e anemias, entre outros casos? "As restrições alimentares estão aparecendo cada vez mais cedo e as escolas particulares não estão prontas para isso", diz Martha Amódio.  

Na rede pública, a lei 12.982/14, em vigor desde 2015, estabelece uma merenda diferenciada a crianças com restrições alimentares. A lei orienta escolas a fazerem uma triagem para identificar os problemas e o número de alunos em questão para preparar um cardápio exclusivo.

A obesidade também é outro fator que pede da escola uma preocupação maior com a alimentação. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), no ano de 2008-2009, realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, mostrou que 40% da população brasileira está acima do peso. Considerando apenas crianças entre cinco e nove anos, esse percentual chega a 36,6%.

A preocupação com esse tema fez com que muitos Estados, como Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina, e cidades aprovassem leis sobre o que pode e não pode ser oferecido nas cantinas escolares. Uma tentativa de evitar a oferta exagerada de produtos industrializados e muito calóricos. Mas esses colégios ainda são minorias.

"Um aluno de uma família com hábitos alimentares saudáveis vai encontrar um cenário diferente na escola, sendo que as instituições deveriam desestimular essa monotonia alimentar que a gente tem nos colégios", afirma a nutricionista.

5 dicas para preparar lanches saudáveis

  • O que não pode faltar na lancheira?

    A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda uma lancheira com a seguinte composição: um líquido para repor as perdas nas atividades físicas, como sucos, chás ou água de coco engarrafados ou em embalagem tetra-pack, preferencialmente sem açúcar; uma fruta (prática para consumir com casca ou cuja casca pode ser retirada com facilidade); um tipo de carboidrato para fornecer energia, como pães (integral, fôrma, sírio), bolachas sem recheio, bolos caseiros; e um tipo de proteína, como queijos, requeijões e iogurtes.

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  • Cuidado com as quantidades

    Esqueça a ideia de mandar grandes porções na lancheira. A ideia dos lanches entre as refeições é apenas fazer um reforço alimentar e não substituir o almoço ou o jantar. "Além disso, o tempo que a criança tem para comer é curto. Mandar uma quantidade pequena ajuda a evitar que ela aprenda a comer muito rápido desde a infância", explica a nutricionista Maria Elisa Yaemi, nutricionista do Hospital São Luiz Itaim (SP).

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  • Lanche também é socialização

    A criança deixou metade dos alimentos na lancheira? Tente não se preocupar. Além de alimentar, o lanche é um momento de socialização. "Durante esse tempo, a criança aprende a compartilhar, experimentar novos alimentos, ver como os amigos se comportam à mesa", diz Yaemi.

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  • Dê adeus aos sucos industrializados

    Muitos sucos de caixinha trazem muito mais açúcar e aditivos do que o propriamente a polpa da fruta. Dê preferência aos sucos integrais ou os que não levam açúcar artificial. Sucos preparados com muita antecedência perdem boa parte de seus nutrientes em contato com a luz e o oxigênio. Para reduzir as perdas, procure deixá-lo em uma garrafa térmica. "Mas nem sempre é preciso ter suco. Água ou água de coco são boas escolhas", diz a nutricionista Clarissa Fujiwara.

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  • Aproveite para inserir novos alimentos

    O lanche pode ser um bom momento para inserir alimentos que, normalmente, a criança recusa em casa. Com os amigos, a criança pode se sentir desafiada (no bom sentido) a experimentar novos sabores.

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Movimento pela merenda escolar

A preocupação com o bem-estar de mães e crianças não é recente. Foi registrada na Inglaterra, por volta de 1748, com o escrito "Um Ensaio sobre a Amamentação e o Manejo de Crianças", por Willian Cardogan, no qual o autor defendeu o direito das crianças à vida e à liberdade e ditou algumas regras empíricas para amamentação e alimentação.

O movimento pela merenda escolar se iniciou em Nova York em 1908, como um esforço para suplementar a dieta de crianças subnutridas. Era oferecida uma merenda quente, às 12h, para as crianças pobres. Estudos realizados em 1917 estimaram que 21% das crianças das escolas da cidade de Nova York sofriam de subnutrição. Somente na década de 1930 a merenda escolar se fortaleceu.

Em 1935, a Corporação Federal das Mercadorias Excedentes aproveitou a existência do programa de merenda escolar para reduzir os excedentes agrícolas. Ao fim de 1938, 45 Estados norte-americanos participavam do programa de distribuição de merenda escolar.

No Brasil, as primeiras iniciativas datam da década de 1930, quando alguns Estados e municípios mais ricos passaram a se responsabilizar, de forma crescente, pelo fornecimento da merenda em suas redes de ensino.

Nos anos 1950, criou-se o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Desde então, o Programa de Merenda Escolar manteve o objetivo de contribuir para melhorar as condições nutricionais e de saúde dos escolares ao fornecer alimentação suplementar. Na definição de sua composição nutritiva, estabeleceu-se que deveria fornecer de 15% a 30% das recomendações de calorias e nutrientes.

As pesquisas mais importantes foram de autoria de Dante Costa, em 1942 e em 1948, em escolas públicas primárias do Distrito Federal, denunciando deficiências de vitaminas e proteínas.

Em 1938, foi oficializada a importante medida da decretação da Lei do Salário Mínimo. De acordo com ela, o salário deve ser estabelecido segundo estimativa que assegure 50% do seu valor para a compra de alimentação essencial mínima, capaz de atender a cobertura das recomendações de energia e nutrientes.

Costa implantou, em 1942, o desjejum escolar, que era servido das 6h30 às 7h30. Consistia de um sanduíche de carne, de galinha, ovo ou queijo, um copo de leite e uma fruta, totalizando de 413 a 470 calorias. Ele recomendava que a merenda fosse constituída de preferência de alimentos sólidos, contendo também leite e sucos de frutas, e respeitasse os hábitos regionais.

Na impossibilidade de fornecimento dessa merenda por restrição econômica, aconselhava priorizar o copo de leite e considerava a sopa, como merenda única, a pior solução, servindo apenas de caráter demagógico. Em 1953, 14 dos 25 Estados brasileiros tinham programas de almoços subvencionados pelos governos locais, dirigidos a trabalhadores, enquanto 10% dos estudantes das escolas primárias se beneficiavam da alimentação escolar.

Em 2001, realizou-se a padronização do tipo de alimentação servida nos horários de almoço e jantar nas Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI) e Ensino Fundamental (EMEF). Após reformulações do modelo descentralizado de merenda escolar, o programa teve parte significativa do serviço terceirizada, seguindo a tendência governamental de utilizar a merenda escolar terceirizada como forma exclusiva da prestação do serviço na cidade

Em São Paulo, as iniciativas na área de alimentação escolar se originaram das Caixas Escolares. O programa estadual começou em 1945, sob a responsabilidade da Diretoria do Serviço de Saúde Escolar, quando fornecia recursos financeiros a 15 escolas. Em 1946, o número de escolas passou a 42, chegando-se a 26.700 alunos atendidos, dos quais 778 gratuitamente. Em 1947, criou-se a Seção de Nutrição do Serviço de Saúde Escolar para administrar um programa maior, atingindo 82 escolas, das quais 36 recebiam sopa, e 46, merendas. Eram, então, 45 mil alunos servidos, 15 mil deles gratuitamente.

O que os pais podem fazer?

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Visitar a cantina da escola dos filhos para conhecer o cardápio, quem prepara e como são servidos os alimentos aos alunos.

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Envolver as crianças no preparo do lanche, conversando sobre o porquê da escolha de determinado alimento.

O que a escola pode fazer?

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Fornecer mais informações para os pais sobre a importância de cultivar uma alimentação saudável e balanceada para todas as crianças.

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Trabalhar a alimentação no currículo escolar e oferecer atividades com informações nutricionais que sirvam de base para os alunos escolherem.

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Conhecer os hábitos alimentares dos alunos em casa e levantar quantos deles possuem restrições alimentares para oferecer um cardápio que não os exclua.

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