Aprendendo a votar

Crianças contam o que pensaram ao escolher um candidato

Bruna Souza Cruz Do UOL, em São Paulo
Marcela Sevilla/UOL

Votar se aprende na escola?

Em tempos de eleições pelo Brasil, as crianças também têm sido bombardeadas pelas estratégias de convencimento de partidos políticos e de candidatos. Mas, ao contrário do que alguns pensam, os pequenos não reclamam e acham importante fazer parte das discussões sobre o tema, inclusive na escola.

Para o doutor em educação João Cardoso Palma Filho, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), é importante criar desde cedo o dever da responsabilidade e mostrar para os futuros eleitores que é possível fazer política de forma séria e responsável.

"Acho excelente que crianças e adolescentes se interessem em discutir questões relacionadas com a política nacional, pois são futuros cidadãos e eleitores, bem como poderão ser eleitos", explica.

Robson Verissimo Silva, professor de geografia para alunos do ensino fundamental, acrescenta que é fundamental para qualquer um entender que a política não está restrita ao momento da eleição.

"A política faz parte das relações humanas, em qualquer tipo de esfera. Quanto antes você conseguir introduzir esse tipo de pensamento no aluno e fazer com que ele desenvolva essa noção, mais construtiva vai ser a sociedade que a gente vai ter no futuro", explica. "Votar também se aprende na escola, assim com se aprende em casa e em outras esferas da vida."

Para ajudar na formação crítica de seus alunos, as instituições de ensino ouvidas pela reportagem iniciam as atividades já durante o 4º ano do ensino fundamental, quando as crianças têm em média 9 anos. 

Bruna Souza Cruz/UOL Bruna Souza Cruz/UOL

Mariana Milesi Camargo, 11

"Acho que a gente precisava participar mais das coisas da política no Brasil. Se eles [os pequenos] aprenderem desde cedo, no futuro eles vão ser bons cidadãos e vão conseguir escolher bem quem vai criar nossas leis e cuidar do nosso país"

Bruna Souza Cruz/UOL Bruna Souza Cruz/UOL

Tainá Bastos de Almeida, 11

"Acho bem legal aprender isso [sobre democracia e o sistema político no Brasil] na escola. É bem importante para o nosso futuro e para quem a gente é agora. Porque, mesmo ainda não podendo ainda votar, a gente faz parte da história do nosso país"

Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal

Como levar o debate sobre política e democracia para a sala de aula?

Segundo professores ouvidos pelo UOL, a missão de levar temas complexos para alunos tão pequenos não é nada fácil. Porém é recompensador. Além de ajudar a desenvolver o senso crítico das crianças, eles destacam que as práticas contribuem para a formação cidadã delas.

"A gente pensa que eles não estão antenados, mas estão sim. Eles levantam questões polêmicas na sala de aula. Eles querem entender o que está acontecendo. Por isso procuramos de uma forma sutil, sem ideologias de partidos, esclarecer o que é democracia, práticas de corrupção [entre outros]", afirma Valdirene Mariano Correia, professora do quarto ano do ensino fundamental da escola estadual Henrique Dumont Villares.

“O mais interessante do processo é ver que eles ficam muito mais críticos e aprendem a lidar com vários pontos de vista”, acrescenta a professora Mitzi Moniz, do colégio Beit Yaacov.

Na prática

  • Roda de conversa

    Para desenvolver o senso crítico, os professores do colégio Henrique Dumont Villares trabalham com rodas de conversas, debates e reflexões baseadas em notícias do jornal "Joca", com linguagem direcionada às crianças. Além disso, a escola recentemente começou a produzir o jornal "Mirante", em que o conteúdo se baseia nas discussões em sala de aula. "Eles são pequenos, mas é importante começar a esclarecer o que acontece no país. Só que o professor precisa de sutileza para conduzir esses temas", diz a professora Valdirene.

    Imagem: Arquivo Pessoal
  • Eleição de verdade

    Na escola internacional Beit Yaacov, os professores utilizam o jornal voltado para crianças como base para o início de reflexões e debates. Também usaram a eleição dos representantes de classes para estimular o debate político entre os alunos. Alunos do 4º e 5º anos --com idades entre 9 e 10 anos-- participaram um processo eleitoral real, em que cada candidato montou sua plataforma de governo. Ao final, todos votaram em um formulário que simulou a urna eleitoral. Houve até cerimônia de posse.

    Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
  • Criação de propaganda eleitoral

    O colégio Santa Maria envolveu estudantes de vários anos em projeto de estímulo à criança cidadã. Uma das atividades pedia que grupos de alunos do 6º ano criassem propagandas políticas para eleger o partido com as melhores propostas. O professor Robson Silva, um dos responsáveis pela iniciativa, explica: os grupos ficaram encarregados de pesquisar problemas e propor soluções. As crianças tiveram que fazer o roteiro, gravar e editar os próprios materiais.

    Imagem: Orlando Brito/Divulgação

E o que será que eles aprenderam?

Furar fila, colar na prova, dar propina para o guarda também são tipos de corrupção

Luiz Henrique Camacho Soares Cabral, 10 anos

A corrupção é um problema que deveria melhorar, porque o país vai entrando em crise

Luana Oliveira Machado Rocha, 11 anos

Eu acho bom falar de política porque, quando a gente crescer, vai conseguir votar melhor

Fernando Alves de Numa, 9 anos

Democracia é quando a população tem o direito de votar para um representante representar o país. Quando você vota, você tem que ter consciência de que, se ele [candidato] ganhar, ele vai ficar lá por muito tempo. Então, é melhor que você vote em uma pessoa que você ache que vai ser boa porque, se ela for ruim, pode trazer muitos problemas

Daniel C., 10 anos

Se ele [candidato] já foi prefeito, você precisa pensar se, na época em que ele fazia propaganda, ele cumpriu esses combinados. [Agora] Se você não conhece ou nunca ouviu falar, você precisa ver o que ele ou ela vai fazer, se não é uma proposta que de jeito nenhum pode ser feita ou proposta simplesinha

Gabriela T., 10 anos

Dá para fazer política sem roubar. E o candidato deve ter consciência do dinheiro e boa proposta

Arthur Massaru Assunção Santos, 9 anos

O político deve ser verdadeiro e saber o que está fazendo. Não pode prometer uma coisa e não cumprir

Luana Oliveira Machado Rocha, 11 anos

Um bom candidato precisa saber todas as dificuldades que um povo tem e não precisa só ficar prometendo

Giuliano Pascotto Bernardo, 10 anos

Curtiu? Compartilhe.

Topo