Guichê do (des)emprego

Desempregados que buscam vaga em posto do Estado não têm dinheiro nem para pagar o ônibus

Gabriela Fujita Do UOL, em São Paulo

Dura batalha por emprego

R$ 7,60 é o valor de duas passagens de ônibus ou de metrô na cidade de São Paulo. Muitos não têm nem isso para sair de casa e procurar emprego porque estão há vários meses sem trabalhar e receber.

Outros buscam ajuda de parentes ou vendem bens para pagar aluguel e alimentar os filhos. É o que contam sete desempregados ouvidos pela reportagem do UOL em um posto de atendimento ao trabalhador no Brás, região central de São Paulo, um dos mais movimentados do Estado --recebe por dia cerca de 200 pessoas, com 60.160 pessoas encaminhadas e 21.960 inscritas diretamente.

Estar desempregado, para elas, é entregar dezenas de currículos sem obter uma única resposta; é participar de entrevistas e ficar à espera de uma chance entre dezenas de concorrentes; é tentar não desanimar. É se perguntar o tempo todo: "Será que vou conseguir trabalhar de novo?". Veja abaixo suas histórias.

 

Lucas Lima/UOL

Valéria, 47 anos

A experiência profissional de Valéria Rodrigues Gomes Ferreira é na área de limpeza, como auxiliar, ajudante ou faxineira, mas ela diz que aceita o emprego que conseguir.

Separada, ela mora sozinha em São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo) e é mãe de cinco filhos, todos adultos, cada um cuidando da própria vida. Ao falar com a reportagem do UOL, não conseguiu disfarçar nem engolir o choro ao contar que hoje, até para comer, depende dos outros.

"Eu choro assim porque a gente não tem oportunidade. O desemprego tira a autoestima da gente", ela desabafa.

Valéria estudou até a oitava série e começou a trabalhar cedo, aos 13 anos, como babá. Nunca tinha passado por tantas dificuldades como agora: nos últimos três anos e meio, só conseguiu emprego fixo por três meses, como embaladeira em uma confecção.

"Fico pensando: por que é que eu estou no mundo, então, se eu não posso trabalhar? Não consigo um serviço, tenho que depender dos outros. Você se sente incapaz, esta é a palavra."

Lucas Lima/UOL

Jefferson, 24 anos

Pai de três filhos, Jefferson Oliveira Batista mora com a mulher em Francisco Morato, na Grande São Paulo. Tem ensino médio completo, curso de informática, de telemarketing, de técnico em vendas, de brigadista de primeiros socorros, curso para trabalhar com ferramentas de obras, como caixa de posto de gasolina. Mas não tem emprego fixo desde 2016.

"Fiquei o ano de 2016 inteiro entregando currículo e fazendo bicos para sobreviver", ele diz. "Tenho carta de recomendação, mas antigamente era mais fácil conseguir emprego."

Até 2014, na opinião do rapaz, havia mais vagas, mais entrevistas, mais procura por candidatos. "Hoje em dia, você vai fazer entrevista para seis vagas e tem mais de 40 concorrentes."

Para sustentar a família, Jefferson faz bicos de construção civil com o sogro, quando aparece algum serviço. A mulher, de 22 anos, fica em casa para cuidar dos filhos, de 8, 6 e 1 ano de idade. Por cerca de sete meses, eles receberam R$ 340 do Bolsa Família, mas o benefício foi cortado em junho deste ano.

"Não era para estar assim. Um país tão rico como o nosso, a gente não vê expectativa de nada para ninguém, para quem é jovem, para quem é idoso. Estão tirando tudo, principalmente do trabalhador. Estão tirando todos os direitos da gente."

Lucas Lima/UOL

Míriam, 48 anos

Casada com um metalúrgico, Míriam Gonzaga dos Anjos Silva trabalhou muito tempo como empregada doméstica, já que começou aos 14 anos de idade. Cursou até a oitava série e tem experiência profissional na área de limpeza em locais como shoppings e creches, mas faz dois anos e meio que não consegue emprego. Ela diz que entrega currículos quase todos os dias, preenche fichas, mas a resposta nunca vem.

"Este, com certeza, está sendo o período mais difícil para achar emprego desde que eu comecei a trabalhar", afirma.

Miriam e o marido têm casa própria em São Mateus (zona leste de São Paulo), o que ajuda a diminuir as contas, mas o salário dela está fazendo falta.

"O brasileiro paga tantos impostos para estar passando pelo que estamos vivendo. A gente quer trabalhar para ganhar o dinheiro da gente dignamente. Estou revoltada com esta situação."

Lucas Lima/UOL

Edson, 29 anos

Recém-chegado a São Paulo, Edson Paulo Monteiro Lucena veio de Petrolândia, no interior de Pernambuco (a 500 km de Recife e a 600 km de Salvador), em busca de alguma chance de emprego. Deixou a mulher, que é promotora de vendas, na casa da sogra até que possa trazê-la.

Hospedado com um primo, ele percorre a cidade entregando currículo, atrás de qualquer oportunidade.

Há cerca de um ano e meio sem trabalho fixo, ele tinha um pequeno comércio de bebidas em Petrolândia, que não foi possível sustentar. Também já fez serviços na construção civil, mas conta que foi demitido com a redução de vagas neste setor. 

"Não consegui outro emprego, estava vivendo como autônomo, mas, devido à crise, o movimento fracassou e eu tive que abandonar a minha distribuidora de bebidas."

Lucas Lima/UOL

José Genildo, 53 anos

José Genildo Tavares alterna a vida entre São Paulo e Mata Grande, em Alagoas (a 300 km de Maceió), há cerca de 15 anos. Mecânico e soldador, tem 25 anos de experiência profissional.

Sua mãe mora em São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo), e sua mulher e filhos estão em Alagoas, onde ele montou uma oficina mecânica. Quando lá está ruim, ele trabalha aqui --e vice-versa.

Em 2015, José Genildo perdeu o emprego em uma concessionária de caminhões em São Paulo. O empregador combinou com ele uma boa comissão pelo serviço, em complemento ao salário fixo, mas o movimento de clientes não rendia.

"Me prometeram R$ 2.200 de salário, e o último que recebi foi de R$ 900. A base salarial era de R$ 620", conta.

Por este motivo, ele voltou para a oficina da família no Nordeste, mas por lá o dinheiro também não gira. A solução foi retornar a São Paulo, onde ele procura emprego há um mês.

"Estou sem renda e na custa da minha mãe, que é pensionista. Quando um pai de família não consegue arrumar emprego para seu próprio sustento e da sua família, isso é humilhante."

Lucas Lima/UOL

Joyce, 23 anos

Mãe de um menino de oito meses, Joyce Regina Silva Rodrigues mora em Guaianazes (extremo leste de São Paulo) na casa dos pais. Tem ensino médio completo, experiência na área de telemarketing e trabalha desde os 15 anos. Já foi babá e também fez faxina, mas agora está desempregada.

"Me demitiram por conta do meu bebê, porque eu tinha que levar nas consultas médicas", ela afirma sobre o último emprego.

A jovem afirma que, para evitar esse tipo de "problema", ela agora pode contar com uma pessoa para levar a criança ao médico.

O pai do bebê é motoboy de pizzaria e mora na casa dos pais dele. Joyce diz que está nos planos do casal viver em outro lugar, mas o dinheiro que o namorado recebe ainda não é suficiente.

Ela entrega currículos e participa de entrevistas, mas, em 2017, só conseguiu ficar empregada por um mês.

"Há momentos em que a gente chora, fica desesperada e se pergunta: o que está acontecendo? Digo para mim mesma: não aguento mais... Fico triste, chateada, mas não desisto."

Lucas Lima/UOL

Armando, 36 anos

Criado na Baixada Santista (SP), Armando Verdum Galhardo Filho mora em Itaquera, na zona leste paulistana. Seu último emprego com carteira assinada foi de zelador de prédio, em setembro de 2016. Desde então, ele tem feito bicos para se sustentar, mas a renda caiu e ele quer um trabalho fixo.

Com experiência também como encarregado de manutenção, procura vagas em postos de auxílio ao trabalhador, agenda entrevistas, mas ainda não recebeu nenhuma proposta.

"O desemprego tirou a minha autoestima. A gente fica muito para baixo", ele explica sobre as consequências emocionais de estar parado. "Fico mais trancado dentro do quarto, mandando currículo por e-mail para as firmas. Me isolei um pouco."

Armando tem um irmão de 35 anos, que também está sem ocupação fixa. Os dois moram na casa da mãe e a renda principal é dela: uma aposentada de 69 anos que ainda trabalha como enfermeira em um hospital.

Com 1,90 m de altura, ele emagreceu dez quilos depois que parou de trabalhar. Diz que “com tristeza às vezes a gente nem come direito”. O mal-estar vem também das dívidas, que chegam a quase R$ 1.000.

"Fico pensando: eu nunca fiquei parado, sempre tive serviço. Será que vou ficar sem dinheiro nenhum, chegando até a faltar as coisas em casa? Será que eu vou conseguir emprego?"

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