Fintechs

Essas empresas virtuais querem substituir seu banco. É seguro? Vale a pena?

Danylo Martins Colaboração para o UOL, em São Paulo
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Até alguns anos atrás, pouca gente imaginaria pedir um empréstimo online ou acompanhar a fatura do cartão de crédito pelo celular. Hoje, esses serviços têm conquistado um público crescente graças às "fintechs" --abreviação para "financial technology", em inglês--, empresas que usam diversas tecnologias para oferecer de conta corrente a investimentos.

Com elas, é possível ter acesso a serviços e produtos financeiros antes restritos aos bancos. Em geral, de forma mais rápida e com custo menor. Com relação à segurança, assim como os bancos, essas empresas devem cumprir regras e são fiscalizadas pelo Banco Central.

O UOL conversou com algumas empresas desse segmento e com especialistas em finanças pessoais para entender quais são as vantagens de cada serviço e que cuidados tomar se for usá-los. Confira.
 

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Fintechs de Cartões

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Nubank

Lançado em setembro de 2014, o cartão de crédito Nubank ganhou fama por não cobrar anuidade nem nenhuma outra taxa. De lá pra cá, mais de 5 milhões de pessoas já pediram o produto, incluindo quem já é cliente, quem está na lista de espera (atualmente, 400 mil pessoas) e quem teve o pedido negado.

A empresa recebeu investimentos de grandes fundos, como Sequoia Capital e Tiger Global Management. Em dezembro de 2016, recebeu um aporte de US$ 80 milhões. 

Como funciona

O Nubank tem as mesmas funções de um cartão de crédito comum. A diferença é poder consultar fatura e limite por meio de um aplicativo de celular.

Para pedir o cartão, é preciso preencher um formulário, no site ou no aplicativo, com informações como nome, CPF e e-mail. Como a procura é alta, existe uma fila de espera e a liberação está sujeita à análise de crédito.

Vantagens

• Não cobra anuidade nem outras tarifas;

• Não há uma renda mínima para obter o cartão;

• Transações podem ser acompanhadas pelo aplicativo, com possibilidade de receber notificações no celular a cada compra feita;

• Taxa média de juros no rotativo de 10% ao mês, enquanto a menor taxa média entre os grandes bancos, cobrada pelo Banco do Brasil, é de 11,78% mensais, segundo dados do Banco Central (até 10/2);

• Desconto para pagamento antecipado de compras parceladas: "O tamanho do desconto é proporcional ao número de parcelas antecipadas e ao valor da compra", diz Cristina Junqueira, co-fundadora do Nubank. 

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Neon

Voltado para o público mais jovem, o banco Neon entrou em operação em julho do ano passado. A empresa hoje tem 60 mil clientes e quer substituir as grandes instituições financeiras. "A ideia é que, com o tempo, o cliente não precise de outro banco", afirma Pedro Conrade, CEO do Neon.

Como funciona

O banco oferece uma conta corrente com operações básicas, como saques, pagamento de boletos e transferências, tudo por meio de um aplicativo no celular. No pedido de abertura de conta, basta fotografar documentos pessoais (RG e CPF) e tirar uma selfie com a câmera do próprio celular –o reconhecimento facial funciona como instrumento de segurança.

Após a aprovação dos dados, que costuma levar dois dias, o usuário precisa fazer um depósito de R$ 100 na conta para receber um cartão de débito. O prazo para o cartão chegar varia conforme a região, segundo o banco.

Vantagens

• Não tem tarifa de manutenção de conta;

• Mensalmente, o cliente tem direito a 1 saque, 1 transferência para outros bancos e 1 emissão de boleto sem pagar nada. A partir da segunda operação, é cobrada uma tarifa que varia conforme o serviço: R$ 3,50 no caso de transferência para outras instituições financeiras e R$ 6,90 para saque na rede 24h, por exemplo;

• Disponibiliza um cartão virtual que pode ser usado na função crédito, mas não é possível parcelar o valor da compra. O objetivo, segundo a empresa, é ajudar a manter controle dos gastos.

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Cuidados

Apesar da praticidade, o uso desse tipo de produto deve ser avaliado com cautela. Para quem faz muitas movimentações financeiras, o Neon pode não ser adequado, porque cobra os serviços a partir da segunda operação no mês. No caso do Nubank, mesmo com o custo menor, evitar o uso do rotativo é um cuidado fundamental, alertam os especialistas. Há linhas de crédito mais baratas no mercado, como consignado e crédito em cooperativas

É seguro?

O Nubank é uma empresa emissora e administradora de cartão de crédito fiscalizada pelo Banco Central (BC). Já o Neon segue as mesmas regras de segurança dos bancos tradicionais e também conta com fiscalização do BC.

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Fintechs de Crédito

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Lendico

Presente em sete países, a Lendico chegou ao Brasil em julho de 2016. Com o objetivo de oferecer crédito online mais barato e sem burocracia, a startup adaptou às leis brasileiras o modelo de "peer-to-peer lending", por meio do qual investidores aplicam recursos que serão emprestados a outras pessoas.

Para poder entrar em operação, a empresa firmou parceria com o banco BMG, passando a atuar como correspondente bancário da instituição.

Como funciona

Para solicitar o empréstimo, o primeiro passo é preencher um cadastro no site. Em poucos minutos, o cliente recebe um e-mail com a aprovação ou não do crédito. A análise leva em conta dados de navegação na internet, assim como informações de órgãos de proteção ao crédito, como SPC e Serasa.

Se o empréstimo for aprovado, basta enviar pelo site cópia de documentos pessoais e o contrato do empréstimo assinado.

Vantagens

• Juros menores: o empréstimo pessoal tem taxa média de 3,41% ao mês, enquanto a taxa mais baixa entre os grandes bancos é encontrada no Santander, que cobra, em média, 4,55% ao mês, conforme dados do BC (até 10/2);

• Prazos vão de 12 a 30 meses e é possível pegar emprestado de R$ 2.500 até R$ 50 mil;

• Todo o processo, desde a simulação até a contratação do empréstimo, é feito pelo site.

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Geru

Em operação desde o início de 2015, a Geru também se inspirou no modelo de "peer-to-peer lending" e atua como correspondente bancário do banco AndBank.

Como funciona

O pedido de crédito é feito pelo site da Geru. É preciso informar dados pessoais, profissionais, renda e dados bancários. Caso a solicitação seja aprovada, é preciso assinar o contrato, enviar uma foto do rosto, cópia do RG ou da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e comprovante de residência emitido nos últimos três meses.

Após verificação de todos os documentos enviados, o depósito do dinheiro é feito na conta. O prazo pode chegar a 10 dias. "Quando a pessoa assina o contrato e envia os documentos no mesmo dia, é possível ter o empréstimo em conta em até dois dias”, afirma Sandro Reiss, fundador da Geru.

Vantagens

• Juros menores: o empréstimo pessoal tem taxa entre 1,9% e 5% ao mês;

• Prazos vão de 12 a 36 meses e é possível pegar emprestado de R$ 2.000 até R$ 50 mil;

• Todo o processo, desde a simulação até a contratação do empréstimo, é feito pelo site.

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Cuidados

Ao buscar crédito online, é preciso pesquisar informações sobre a empresa. "Procure por depoimentos em relação à 'fintech' e teste os canais de atendimento para avaliar a qualidade e agilidade caso seja necessário qualquer suporte", afirma o economista Richard Rytenband.

Cuidado também com propostas de crédito que pedem para pagar algum valor adiantado para depois liberarem um empréstimo. Tanto a Geru quanto a Lendico informam, em suas páginas, que não pedem nenhum tipo de antecipação para conceder empréstimos.

Como em qualquer operação de crédito, também vale ficar atento aos detalhes do contrato, como Custo Efetivo Total (CET) –que inclui juros, encargos e outras taxas–, prazo, valor das parcelas e procedimentos para quitar a dívida antecipadamente.

É seguro?

As fintechs de crédito on-line não são instituições financeiras, e sim correspondentes bancários --no caso de Lendico e Geru, dos bancos BMG e Andbank, respectivamente. Para atuar dessa forma, as empresas precisam de autorização do Banco Central e são fiscalizadas pelo BC.

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Fintechs de Investimentos

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Magnetis

Primeira empresa no Brasil a oferecer o serviço de investimentos automatizados, a Magnetis foi aberta ao público em março de 2015. Inspirada nos "robo-advisors", comuns nos Estados Unidos, a consultoria oferece uma carteira de investimentos definida a partir do perfil de risco do cliente.

"Os algoritmos [série de códigos baseados em inteligência artificial] consideram os seguintes produtos: fundos DI, títulos privados com a melhor taxa líquida, entre CDB, LC, LCI e LCA, além de fundos multimercados e ETFs [fundos de índice negociados na bolsa]", afirma Luciano Tavares, CEO da Magnetis.

Como funciona

Após o cliente responder a algumas perguntas, como nome, idade, objetivos, valor que pretende investir inicialmente e o risco que está disposto a correr, a plataforma identifica seu perfil de investidor e apresenta um plano de investimentos.

A etapa seguinte é abrir uma conta na corretora de valores Easynvest, parceira da Magnetis, e transferir os recursos para a conta na corretora. A escolha das aplicações será feita conforme o plano de investimentos estabelecido.

O investimento inicial é de R$ 15 mil.

Vantagens

• Todo o processo de investimento é automático e feito online;

• Custo total fica entre 0,49% e 1,13% ao ano, incluindo as taxas de cada produto, como taxa de administração, de performance, corretagem e emolumentos. 

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Vérios

Há mais de sete anos no mercado, a gestora de recursos Vérios resolveu mudar seu modelo de negócios no ano passado, antes focado em fundos de investimento, e passou a oferecer a chamada "carteira inteligente".

Assim como a Magnetis, o serviço usa um conjunto de algoritmos para fazer a distribuição do patrimônio, conforme o perfil de risco do investidor. Os recursos são divididos entre títulos prefixados, pós-fixados, atrelados à inflação e ações negociadas na Bolsa de Valores do Brasil e dos EUA.

Como funciona

A partir de informações como idade, valor que pretende investir inicialmente e quanto consegue poupar por mês, o cliente recebe uma sugestão de carteira de investimentos. Os próximos passos são abrir uma conta na gestora e na Rico, corretora de valores parceira da Vérios.

Apesar de cuidar de toda a gestão dos investimentos, a Vérios não tem acesso ao dinheiro do consumidor. Os recursos são aplicados por meio da corretora de valores e cada investimento fica custodiado em seu nome, com seu CPF, na Câmara de Ações (administrada pela BM&FBovespa) e na Cetip.

A aplicação mínima é de R$ 12 mil, mas para ter acesso à carteira diversificada também com ações é preciso investir pelo menos R$ 50 mil.

Vantagens

•  Você não precisa se preocupar com a compra e venda dos ativos financeiros: é tudo automático, conforme o perfil do investidor e duração prevista do investimento. Sempre que necessário, o serviço faz mudanças na carteira de investimentos para acompanhar alterações no cenário econômico, por exemplo;

•  Permite aportes adicionais de R$ 100. "O objetivo é ajudar as pessoas a criarem o hábito de poupar todos os meses, o que é importante no acúmulo de patrimônio", diz Felipe Sotto-Maior, co-fundador e CEO da Vérios;

•  Cobra taxa fixa de 0,95% ao ano, percentual que já inclui as despesas de cada produto que fizer parte da carteira, como taxa de custódia, de corretagem e outras.

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Cuidados

Para o economista Richard Rytenband, é preciso entender que não há fórmula mágica em investimentos. "Ninguém ou nenhum sistema consegue mitigar todos os riscos e determinar uma alocação infalível para investimentos", afirma.

Um cuidado que deve ser levado em conta é o preenchimento do questionário que vai determinar a distribuição das aplicações na carteira, diz o planejador financeiro Jaques Cohen, da Lab do Valor. "O robô faz a alocação, mas é você quem vai responder as perguntas. Um questionário, por mais elaborado que seja, tem limitações, pois não consegue abarcar toda a complexidade do ser humano."

É seguro?

Para usar os serviços das fintechs de investimentos, é preciso abrir conta em uma corretora de valores – Rico, no caso da Vérios; e Easynvest, no caso da Magnetis. Mas e se essas empresas quebrarem? O investidor tem a segurança de que suas aplicações estão guardadas em seu próprio nome, com seu CPF, na Cetip e na Câmara de Ações, empresas responsáveis pela custódia de títulos públicos, privados e ações.

Vale lembrar que investimentos como poupança, CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), contam com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) --limitado a R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira.

Além disso, corretoras, gestoras de recursos (como a Vérios) e consultorias de investimentos (caso da Magnetis) são supervisionadas e fiscalizadas pelo Banco Central, assim como pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) – a "xerife" do mercado de capitais – e pela BM&FBovespa.

O tamanho desse mercado

No Brasil, há cerca de 220 "fintechs" em operação, segundo mapeamento da Conexão Fintech, iniciativa liderada pelo empreendedor José Prado e que busca fomentar esse mercado no país.

Em 2016, os investimentos em novas empresas do tipo ultrapassaram R$ 500 milhões.

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