UOL - O sr. tem implementado algumas ações ligadas ao meio ambiente na empresa. O que está mudando na prática?
Walter Dissinger – Nós temos um objetivo muito claro. Número um: estar dentro de todas as leis quando falamos de emissões.
Para reduzir emissões de CO2, buscamos substituir combustíveis fósseis por outros combustíveis. Hoje temos uma substituição térmica que está chegando perto dos 30%, significa que nós substituímos coque de petróleo por biomassa, por resíduos, por outros produtos que têm conteúdo energético que podem ser aproveitados.
Um exemplo é Primavera (PA), nossa fábrica mais nova: criamos agora um conceito em que podemos aproveitar o caroço de açaí como fonte energética em coprocessamento no lugar de coque de petróleo.
É um pequeno exemplo que queremos fazer para melhorar o meio ambiente, reduzir emissões e, naturalmente, também reduzir custos onde for possível.
Estamos trabalhando muito com lixo urbano, vendo se podemos usar os fornos como solução para o lixo urbano que hoje está sendo compostado, usando como fonte energética.
São dois exemplos que estamos querendo fazer e já estamos fazendo nesta área.
O senhor tem um interesse particular em tecnologia, inovação, que até o levou a fazer um curso no Vale do Silício. O que esse curso trouxe? Já está aplicando ou pretende aplicar no dia a dia da empresa?
É uma boa pergunta: o que vem pela frente. Eu diria que muita coisa boa. Nós vamos ver uma nova fase após a da industrialização. A fase na qual informações terão muito valor, a produtividade vai aumentar tremendamente, a sociedade vai encontrar novas maneiras de trabalhar. É um grande desafio para empresas, para a sociedade, para realmente redefinir em geral o que a humanidade fará com a ferramenta tecnologia.
Muitas pessoas têm medo e dizem que vai desaparecer trabalho, vão ser substituídos por robôs. Acredito que todos nós vamos encontrar um futuro muito interessante, novamente definido, uma forma diferente de trabalhar, e isso me anima.
Olhando para a Votorantim Cimentos, temos vários exemplos. Na parte industrial, estamos trabalhando agora com o que se chama "indústria 4.0". Como aproveitar novas tecnologias, sensores, informações, drones, para realmente ser mais eficiente, para prever manutenções e com isso reduzir custos. Olhar de cima com drones para melhorar toda nossa mineração e buscar mais eficiência, deixando os nossos colaboradores focarem mais na tomada de decisão.
No que a tecnologia da indústria 4.0 pode mudar em relação aos clientes?
É impressionante ver o que está acontecendo em diferentes mercados, em geral. Vamos pegar o varejo, onde o cimento é vendido aqui no Brasil. Olhando para fora, para o que está acontecendo com a Amazon, com o Walmart, em que novas tecnologias estão dando acesso a empresas a ter um contato direto com o consumidor final. A Amazon, com sua plataforma, está mudando o varejo.
Acreditamos que há uma grande oportunidade em nos posicionarmos no varejo como parceiro do nosso cliente, que é o varejista, ajudando o varejista com informações para tomar decisões mais informadas e mais inteligentes, ajudá-lo a criar lealdade com os seus clientes.
Criamos um programa de fidelidade. Fidelidade com nossos clientes, fidelidade com os balconistas e, no futuro, fidelidade também com os profissionais de obra.
Com novas tecnologias, todo mundo usando celular, é mais fácil buscar esse relacionamento, é mais fácil trocar informações entre a empresa e o seu cliente.
Poderia dar um exemplo de algum resultado, algum produto, alguma solução que saiu de parcerias, com startups?
No passado nós sempre precisávamos monitorar nossas minas e terrenos de forma manual. Precisávamos pegar o carro e olhar se está tudo em ordem, se alguém, por exemplo, invadiu a área etc. Com a nova tecnologia, podemos monitorar via drone e numa plataforma de informática quase automatizada, recebendo proativamente, recebendo mensagens quando alguma coisa não está correta.
Com essa georreferência, podemos de uma forma muito mais simples, mais barata, mais moderna, ter um gerenciamento de todos os nossos terrenos, todas as nossas minas, de forma muito mais profissional.
Por que uma empresa consolidada, tradicional, precisa correr atrás dessas inovações?
Quem não cria o futuro talvez seja vítima do futuro. É melhor inovar, se redefinir, encontrar caminhos não tradicionais para uma empresa tradicional.
Isso já ocorre faz muitos anos dentro do Grupo Votorantim. O grupo se reinventou na crise. Neste ano, quando fazemos cem anos, estamos planejando os próximos cem. Isso é ser ativo, e reinventar o futuro é justamente a melhor maneira.