A Mercedes-Benz não pretende fechar uma fábrica de automóveis de luxo inaugurado em 2016 em Iracemápolis (SP), disse o presidente da empresa, Philipp Schiemer, após essa notícia ter sido divulgada na imprensa. Neste trecho da entrevista, ele fala das dificuldades da crise econômica, subsídios para a indústria e fraude ambiental:
Nunca falei que a fábrica teria riscos de ser fechada no final do ano. Nós falamos que a fábrica foi construída com base em incentivos e, como esses incentivos acabam no final do ano, estamos agora verificando qual é a nova política que está sendo discutida dentro do Programa Rota 2030 junto com o governo. Com base nisso, vamos poder avaliar a competitividade da nossa fábrica.
A Mercedes investiu praticamente R$ 700 milhões nessa fábrica e não vai jogar este investimento fora. Não há nenhum plano de fechar a fábrica, nunca teve. Mas logicamente estamos preocupados com a competitividade e estamos discutindo isso e vamos avaliar depois, quando sair a nova legislação, quais as consequências que isso possa ter. Agora, fechamento nunca foi discutido
A questão se refere também a muitas outras montadoras. Por isso está sendo discutida em conjunto com o governo. Acho que o governo tem toda a atenção e entendeu. E temos a certeza de que vamos achar uma solução.
Não é subsídio, é manter a competitividade
Não estamos falando sobre subsídios. Estamos falando sobre qual é a forma de manter as nossas fábricas competitivas. Isso é uma questão que hoje é unanimidade, ninguém quer o fechamento do mercado, toda a indústria procura uma abertura do mercado, procura que a indústria se torne competitiva.
Para 2017, as perspectivas são mornas. A gente teve um ano de 2016 de dificuldade, e a situação não melhorou muito por enquanto.
Vemos alguns indícios de certa melhora no clima, mas depende muito da estabilidade política e, como todo mundo sabe, isso está com altos e baixos. Precisamos de uma estabilidade política também para a economia avançar mais
Mesmo assim, com a nova equipe econômica, vemos uma nova perspectiva para um futuro melhor, sem perceber isso ainda na prática. O clima em geral, eu diria, melhorou em relação ao ano passado.
Temos plano de investir R$ 1,5 bilhão e vamos continuar com ele
Sobre os nossos investimentos, a Mercedes é uma empresa que pensa a longo prazo, não pensa a curto prazo, está no Brasil faz 60 anos. Nem na pior crise mudamos os nossos planos de investimento. Temos um plano de investimento até 2018 em torno de R$ 1,5 bilhão, que vamos colocar neste país e continuar com esse plano.
O Brasil é um mercado que tem crescido para nós nos últimos anos e, por isso, nós montamos aqui a nossa fábrica, em Iracemápolis.
O brasileiro quer inovação e as mais modernas tecnologias dentro de seus produtos. Então, todos esses sistemas de assistência que ajudam o motorista, o dirigir autônomo, são coisas de que o brasileiro gosta. Também gosta das "brincadeiras", do novo design, diferente, moderno e atrativo. É isso que agrada o brasileiro. E logicamente o dirigir esportivo é também uma coisa que atrai.
Fraude ambiental prejudica toda a indústria
Um episódio desses [fraude ambiental nos carros a diesel] tira certa credibilidade de toda a indústria, mesmo se uma empresa ou outra não tenha sido diretamente afetada. Mas isso tirou um pouco da credibilidade do motor a diesel para veículos de passageiros. A gente sentiu.
Isso é um problema muito menor para os EUA, onde esse mercado de veículos a diesel é muito pequeno, mas é um pouco maior para a Europa, onde o produto a diesel era uma parcela muito importante para a venda de toda a indústria. Sem dúvida, houve um aspecto de perda de credibilidade e vai ser um desafio para recuperar isso 100%.
Acho que também vamos ter um avanço mais rápido das novas tecnologias, carro elétrico, haverá uma alavanca para aumentar as vendas neste setor, mesmo sabendo que às vezes a comparação entre um e outro não é 100% justo –fala-se facilmente que o carro elétrico é a tecnologia mais limpa, mas ela só é mais limpa em algumas situações.
Se a energia elétrica vem de uma fábrica que trabalha com carvão, acho que o balanço, no final, não é melhor. Um carro elétrico é bom quando ele está sendo suprido por energia limpa. Mas o processo não é tão simples assim. Sem dúvida é um problema para toda a indústria automobilística que o diesel perdeu em alguns segmentos em credibilidade.