UOL - Quando é que o indivíduo, pessoa física, vai conseguir voltar a contratar um plano de saúde individual?
Orestes Pullin – Essa questão de plano de saúde individual tem muito aqui em São Paulo. A maioria das operadoras parou de trabalhar com plano individual. E por que elas pararam? Por conta da regulação.
Quando criou as regras dos planos individuais, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) falou que as operadoras têm que vender o plano; o preço ou os reajustes de preço é a agência que vai determinar. Você não pode fazer reajuste, o preço é controlado, e você nunca mais pode romper esse contrato unilateralmente.
Com isso, ficou todo mundo apavorado, porque você não tem prazo de contrato, não pode romper esse contrato e não pode reajustar esse contrato. O pessoal saiu do mercado.
Quem fez desaparecer plano de saúde individual foi a própria agência com a regulação. Para tentar dar uma garantia maior para a população, ela fez com que o risco de vender esses planos fosse muito grande.
Hoje praticamente quem vende plano individual são as Unimeds, principalmente para o interior. A única região em que não se vende plano de saúde individual é aqui em São Paulo, porque as cooperativas de primeiro grau, no caso a Paulistana, não existem, e quem opera aqui é a Central Nacional, que é só plano coletivo.
Mas, se você for a outros estados, todo mundo tem plano individual, meus filhos têm, todos têm, não há nada contra. As cooperativas Unimeds hoje são talvez as únicas que operam com plano individual. Estamos analisando como podemos resolver esse problema aqui em São Paulo.
Por que plano de saúde individual é tão caro?
É caro. O custo da saúde é extremamente alto hoje, e a margem de resultado das operadoras é muito pequena. A sinistralidade média dos planos é em torno de 84%, ou seja, de tudo que você recebe de mensalidade, 84% você gasta com saúde, sobram 16% para você pagar imposto, pagar seus funcionários, investir em equipamento. A margem que sobra para as cooperativas hoje gira em torno de 2% a 3%.
Essa operação é cara, principalmente na questão assistencial, e você tem toda essa questão de plano individual que não pode romper, que não há um prazo e que o reajuste está aquém da elevação do custo assistencial.
A entrada de tecnologia, de novas práticas terapêuticas, isso é um negócio impressionante, o custo é muito alto para isso.
Há um medicamento agora que foi aprovado pela agência: são cinco ampolas usadas no tratamento inicial, e cada ampola custa R$ 400 mil. E há Unimed recebendo dois, três pedidos para fazer isso. Ela quebra.
Infelizmente, viver mais custa muito caro. Temos que pensar nisso, porque se você não mudar o modelo, o país de forma geral vai envelhecer, a média de idade vai aumentar, e com isso nós temos que repensar realmente.
Enquanto o modelo for o de cada um fazer o quer, gastar o que quer, um médico pede o que quer, sem nenhum controle de qualidade, sem nenhum controle de uso, realmente o custo vai encarecer e não há como a gente suportar isso, não há como a sociedade suportar isso.
Uma questão para quem tem plano de saúde é a dificuldade para fazer procedimentos cirúrgicos. Muitas pessoas acabam recorrendo à Justiça para a liberação de procedimentos. Por que isso acontece e como resolver?
O problema da judicialização da saúde não é apenas um problema de plano de saúde, é algo geral. O setor público, aliás, está com um problema muito maior do que o próprio setor privado.
Você imagina: numa sexta-feira, um juiz que está de plantão recebe o pedido de um médico para fazer um procedimento. Ele não tem como saber se aquilo é bom ou é ruim, se é certo ou errado.
E está escrito que, se ele não liberar aquilo, o paciente vai morrer. Na hora, ele é obrigado a liberar um procedimento. Mas será que esse procedimento era adequado? Será que é boa prática médica?
O custo é muito alto, e o resultado é muito incerto, em boa parte dos casos. Medicamentos ainda considerados experimentais às vezes vêm dos Estados Unidos ou de outros com um custo extremamente elevado, e às vezes a própria agência, o Ministério da Saúde, não libera esse produto.
Começou a encarecer demais a saúde por conta dessas liminares dos juízes para esse tipo de medicamento ou para determinados tratamentos.
A Justiça está criando em cada estado os NAT (Núcleos de Auxílio aos Tribunais). Esses núcleos estão trabalhando com um processo de medicina baseado em evidência, ou seja: aquele procedimento que está sendo pedido é baseado em critérios critérios lógicos, adequados?
Aí é liberado. Nós imaginamos que, com esses núcleos, ocorrerá uma diminuição dessas liminares ou dessa judicialização.
Tenho dito assim: o que é correto, o que é bom para o paciente tem que ser liberado. O que não é correto, é experimental, não há comprovação de benefício para o paciente, ou é algo que o médico está fazendo com uma finalidade muito mais comercial do que de qualidade, isso efetivamente tem que ser abolido.
Estamos trabalhando para que aquilo que é bom e correto seja liberado. Se ocorreu algum erro em alguma Unimed em um processo de liberação, que seja efetivamente cobrado, e estamos trabalhando para que isso se reduza.
Mas, hoje, por conta dessa deformidade assistencial, os juízes ficam muito inseguros, e efetivamente há um custo ainda muito alto da judicialização.
A maioria, não estou dizendo que são todos, mas a maioria são procedimentos que ainda não estão regulados, não estão adequados, e os juízes estão dando essa liberação sem muito apoio técnico.
Acredita que os consultórios populares estão tirando clientes dos planos de saúde?
Setenta por cento dos nossos contratos são de pessoa jurídica. Nós perdemos beneficiários, assim como todo o setor de saúde suplementar perdeu na mesma proporção, por conta do desemprego.
Isso, sim, afetou. Essas pessoas que perderam o emprego tinham que ter uma opção, e eu vejo isso como uma boa opção para essas pessoas.
Não são concorrentes, são consultórios só, não têm a visão de plano de saúde, de garantia de atendimento hospitalar. Mas eu acho que é mais um serviço que apareceu, e acho bom que tenha. As pessoas podem ter acesso, e é um mercado que os médicos talvez não tivessem enxergado.