UOL - Que decisões estão tomando para superar a crise econômica do país?
Marcelo de Carvalho - Por uma questão cultural –e eu acho que é um erro–, quando há uma crise, muitas empresas põe o pé no freio da publicidade. 'Onde é que eu vou cortar? Vou cortar na publicidade'. É um risco muito grande porque há um cemitério de marcas que eram conhecidas e depois deixaram de estar na cabeça do público, e com isso ficou muito mais difícil elas venderem e até sobreviverem.
Acho que, ao contrário, é na época de crise que existem as grandes oportunidades. Mas é uma coisa do mercado.
Houve uma retração enorme com essa crise. Tivemos três crises: uma institucional, com impeachment de presidente, mudou o governo; uma crise financeira, com inflação crescente, queda do PIB [Produto Interno Bruto], aumento do desemprego. E uma crise moral muito grande, afloramento de muitos escândalos, pessoas sendo presas. Tivemos um ambiente horrível.
Depois, assumiu o presidente Temer e, de fato, fez reformas que são extremamente importantes. Impor um teto de gastos, uma coisa óbvia, que todo mundo tem em casa, por que um país não tem que ter?
A reforma da Previdência deveria ser aprovada. Sou engenheiro: se aumentam a idade média e o número de pessoas e não corrige, uma hora quebra.
E não é que exista uma entidade chamada governo, que tem dinheiro. Não, o dinheiro é nosso, nós pagamos imposto.
Então hoje, de fato, conseguimos baixar a inflação, aumentar o índice de crescimento que estava negativo, e agora pelo menos está positivo, e conseguimos diminuir o desemprego. Mas aí vem a crise da delação da JBS, da gravação [com o presidente Temer]. Estamos de crise em crise. Então, o mercado foi afetado.
O que acontece conosco é que não navegamos no mainstream. Nosso discurso não é irmos de agência em agência dizendo 'olha, por favor, compra de mim, olha como eu sou bacana'. Até porque, se eu fizer isso, eu não vou vender nada, porque todo o dinheiro, por causa do BV, vai acabar indo para a Globo.
O nosso perfil é provarmos que damos soluções alternativas por um custo extremamente rentável e fazemos coisas que os outros não fazem.
Hoje, eu dou a solução na televisão, no merchandising e também no online. Mostrar o crescimento extraordinário que estamos tendo no online, mostrar que na nossa faixa nobre há programas pontuando enormemente, disputando posições importantes.
E sem dúvida nenhuma sermos muito agressivos comercialmente, ou seja, provar isso: olha, está aqui, testa, olha como funcionou, olha esse case como está bacana.
Lógico que, como o mercado inteiro, fomos afetados, mas pelo menos conseguimos manter o nosso nível de emprego intacto, o que é muito importante. E todos os funcionários recebendo em dia.
Inauguramos a sede nova em Brasília, que é uma coisa fantástica, inauguramos vários telejornais locais e inauguramos esse grande empreendimento novo que é a Peanuts [produção de conteúdo de youtubers]. Só as novas instalações da Peanuts compreendem 12 novos estúdios digitais, o que é uma coisa muito bacana e muito importante.
Você já falou em entrar para a política. O que gostaria de mudar se estivesse num cargo político?
Há várias coisas para mudar. Acho que existe uma lenda de que, se o sujeito ficar quieto, o Estado tem que cuidar dele. Não é verdade. O Estado tem que prover um caldo de cultura para as empresas crescerem, e as empresas crescendo vão dar mais emprego, e as pessoas vão ganhar melhor.
O maior programa de distribuição de renda que existe no mundo chama-se 'Mais e Melhor Empregos', não é o cara ser cliente do Estado. Então isso é uma questão de mentalidade.
Mais uma vez, o ecossistema do Brasil atrapalha a empresa. Comparado com qualquer país do mundo, quanto tempo se demora para abrir uma empresa, qual é o custo de abrir uma empresa, de mantê-la, de gerar o produto, o custo tributário?
A primeira coisa que eu faria seria ajudar o crescimento da economia do Brasil, quebrando esses paradigmas que não são verdadeiros. Não é verdade que deve haver essa complicação burocrática imensa, porque nos outros países do mundo não existe mais. Hoje as pessoas concorrem por competitividade, por produtividade, não por fechar o seu mercado.
A segunda coisa bastante importante é a seguinte: estamos em guerra civil aqui no Brasil, um país onde 65 mil pessoas são assassinadas por ano. E não estou falando do rico, que leva um tiro por causa de um Rolex. Estou falando do cara da comunidade, cujo filho ou filha não pode voltar da escola à noite senão leva um tiro.
Estou falando das crianças que não podem, como [se fazia] na minha época, andar de patinete. A gente brincava de carrinho de rolimã na rua. O problema da segurança é gravíssimo.
E temos a base de tudo, que é o nosso sistema educacional. Temos algumas instituições de ponta, até alguns colégios públicos muito bons, como o Sesi-SP, que têm uma atuação formidável, escolas que estão aí nesse caminho, mas infelizmente a grande maioria não. Então, temos que levar educação.
Além disso, temos que trabalhar na melhora da saúde pública. Um mínimo de saúde pública básica temos que ter. Não pode faltar vacina. Não estou falando que eu que tenho condições tenho que ir a um hospital público e ter saúde pública.
Nem estou falando que o Estado tem que prover saúde pública de graça. Quem tem que prover são as empresas. Porque todo empregado devia ser bem remunerado e a empresa pagar um plano de saúde bom para ele. Isso desoneraria o Estado.
Estou falando do básico, que é uma pessoa ir a um posto de saúde para tomar uma vacina contra o H1N1 e não ter. Isso é uma vergonha.
Fico muito feliz com o engajamento cada vez maior de pessoas que não são da classe política -vou citar o João Dória, o Flávio Rocha, da Riachuelo [a entrevista foi feita antes da desistência do pré-candidato] e outros-, que saem da sua postura cômoda, não precisariam, e vão dar a cara a bater, ser alvo às vezes de críticas injustas, para tentar melhorar. E evidentemente não querem roubar, porque não precisam, porque já são ricos.
Você acabaria com o Bolsa Família?
Não acabaria com o Bolsa Família. Mas eu cresceria a economia de uma maneira que ninguém mais precisaria do Bolsa Família. Precisa do benefício do Estado aquele que não tem a quem recorrer.
Mas, mais do que esse ‘pixulé’ que o sujeito ganha, que para ele é uma salvação, se ele tivesse um emprego bom, no qual ele ganhasse cinco, seis, sete vezes mais do que isso, e pudesse ter o orgulho de dizer para o filho dele 'estou empregado, eu produzo, olha o exemplo que eu dou', isso é o mais importante.
O ex-presidente [dos EUA Ronald] Reagan disse uma frase formidável: o sucesso de um programa social não é medido pelo número de pessoas que entram nele, mas sim pelo número de pessoas que saem dele.
Vamos dizer que o Bolsa Família dê R$ 80, R$ 100, R$ 200. Se o cara ganhar R$ 2.000, é melhor. Se o filho dele se formar numa faculdade para ganhar R$ 5.000, é melhor. E ele ter o incentivo de dizer para os filhos, para os filhos dos filhos, 'olha, eu fiz isso, eu construí isso'.
Eu vejo, por exemplo, a minha cozinheira, Benê, minha parceira –eu gosto de cozinhar, então eu fico na cozinha com a minha cozinheira, minha amiga. A filha dela se formou na universidade, já está empregada. O orgulho dela é bacana. Mas é porque ela tem um bom emprego, ganha bem, mora em São Paulo, está fora dos bolsões de pobreza.
Ela conseguiu comprar seu carro, sua casa própria, dar um estudo universitário para a filha, que bom para ela. Muitos não conseguem, mas, se a economia crescesse como um todo, se as empresas ficassem mais fortes, o Brasil teria tanto o que crescer.
O Rio de Janeiro tem potencial para ser um dos dois, três maiores destinos turísticos do mundo, arrecadar bilhões e nadar em dinheiro. Mas não. Por quê? Porque vai lá o turista e é assaltado, porque podem dar um tiro no cara para levar o tênis dele ou o celular.
Cadê a solução do Rio de Janeiro? Está no turismo, é óbvio, mas não dá para ter turismo com esse grau de violência. E a solução não passa pelo Estado ser o papai que paga a conta de todos, a mamãe passarinho que dá a minhoca na boquinha dos filhotes. Não é assim. Se o Estado não atrapalhar, o Brasil cresce.
Há algum tempo você chegou a negociar com Amilcare Dallevo, presidente da RedeTV!, a compra da sua parte na empresa. Ainda abriria mão da sua parte?
Não. Isso foi em 2011. Tive duas propostas de dois grupos internacionais para comprar a minha parte, e acho que foi um mau movimento que fiz, porque deu a entender que eu não estava entusiasmado com o negócio, e isso não é verdade. Foi simplesmente a minha alma comercial que sempre vai me levar a colocar um preço em qualquer coisa. Eu gosto de negociar. Tudo.
Mas acho que passou uma mensagem muito errada. Em 2012, concomitantemente ao auge da crise, nós dois tivemos uma reunião para discutir justamente isso. Mas nunca mais se falou desse assunto, e vou aqui dizer uma coisa: eu já tive três casamentos, filhos maravilhosos, mulheres ótimas, mas eu nunca mudei de sócio, nesse período todo.
O Amilcare e eu somos pessoas absolutamente complementares. Nós temos divergências grandes, o que é muito bom, porque um convence o outro, e com argumentos. E temos qualidades, para não falar dos defeitos, complementares. Onde um é mais falho, o outro completa. Então, não, hoje não venderia a minha participação na empresa.