O CEO da Azul, John Rodgerson, diz que, assim como aconteceu com o despacho de malas, as regras sobre voos cancelados no Brasil deveriam mudar também. Segundo ele, sem a obrigação de pagar hotel e refeição nesses casos, as empresas aéreas cobrariam passagens mais baratas. Leia a seguir:
O público tem de entender que há muitas coisas fora de controle de uma empresa aérea [na definição dos preços de passagens]: impostos, combustível, câmbio.
Um desafio que nós temos é que, quando um aeroporto fecha, a responsabilidade da companhia aérea é colocar todo mundo num hotel, com táxi, comida. São muitos custos, e a empresa tem de bancar isso. Se pudermos mudar a legislação em alguns sentidos, como mudamos com a bagagem, acho que poderemos baixar ainda mais as tarifas.
Há pessoas que viajam sem bagagem agora e estão pagando tarifas mais baixas. Todo mundo é diferente e quer alguma coisa customizada. Um quer viajar sem mala, outro quer viajar no espaço Azul [poltronas mais espaçosas], alguém quer viajar na janela, na frente, ou receber mais pontos no cartão de fidelidade, outros não se importam com isso.
A melhor coisa que podemos fazer é customizar a passagem para cada um. Talvez uma pessoa planeje com 90 dias de antecedência, e ela deve ter um preço bem diferente do que o cara que não planejou.
No mundo, os preços mais baratos estão nos EUA e na Europa, porque são muito mais flexíveis.
Nos EUA, quando neva, fecha o aeroporto. Mas, se as aéreas lá tivessem que colocar todo mundo num hotel, talvez nem houvesse hotel suficiente perto do aeroporto, e o custo da passagem durante o inverno nos EUA ia subir 25%, porque o aeroporto pode fechar a qualquer momento.
Há uns anos o aeroporto de Viracopos fechou porque um cargueiro caiu na pista. Fechou meu aeroporto principal, e não posso fazer nada com aquilo. Mas o Procon chegou ao aeroporto três horas depois e me questionou sobre como eu iria tratar os passageiros que foram impactados. Não foram impactados por nós, mas por um evento que nem Deus previa. É uma coisa que temos que entender um pouco melhor.
Estou reclamando um pouco de algumas leis. Elas podem até ficar como estão, mas, se quisermos baixar mais os preços no Brasil, temos que mudar algumas dessas coisas, vai ser para o benefício de todos.
Impostos e dutos também afetam preços
Quando o ICMS está muito alto, todo mundo paga por isso, não só a pessoa naquele voo, naquele dia, mas todo mundo do sistema.
Outra coisa que os passageiros estavam reclamando era que, para voar para o interior de alguns Estados, o preço da passagem é mais alto -e é! Não há dutos para levar combustível a essas cidades. Para abastecer lá, é muito mais caro. Imagine na Amazônia!
Alguns aeroportos nem têm abastecimento, e a gente tem de voar até lá cheio, pousar e depois sair sem abastecer [o peso maior do avião cheio faz gastar mais combustível, e o preço fica mais alto]. Há muitas dessas coisas que impactam o preço da passagem.
Bagagem paga dá dinheiro para as áreas. Era o que queriam?
Não vou mentir, claro que queremos sempre ter mais receita, mas há várias coisas que entram nisso. Há mais pessoas viajando hoje por causa da bagagem do que antes. Viram que podem economizar sem levar bagagens. E há pessoas pagando um pouco mais.
Mas o que isso vai fazer? Vai trazer uma receita para que as empresas possam ser mais saudáveis e possam investir mais. Se eu estivesse colocando esse dinheiro no meu bolso, ia ser diferente, mas o que eu estou fazendo com isso? Estou comprando aeronave nova, com nova tecnologia, que vai baixar ainda mais o preço das passagens.
Se não existisse a cobrança de bagagem, ia ser muito mais difícil continuar crescendo daqui para a frente. No longo prazo, isso é muito benéfico para o Brasil. É muito importante ter empresas aéreas saudáveis. E é muito importante os aeroportos serem privatizados no Brasil agora, isso vai trazer muito dinheiro para o país.
Há dois lados da moeda. Campinas, com 180 voos por dia, opera sem um finger [ponte coberta que liga o terminal ao avião, para os passageiros entrarem e saírem]. É tudo feito em ônibus, escada, tudo muito mais difícil. Em dia de chuva, estamos lá com guarda-chuvas, tentando subir as escadas. Então, esse lado da privatização de aeroportos é muito bom, porque precisamos muito de infraestrutura.
E não só em Campinas, mas Belo Horizonte, Brasília e outros que precisavam de investimento. Mas se a privatização vira apenas uma maneira para que os novos donos de aeroportos ganhem em cima, é preocupante. Tivemos brigas -eu não vou falar em quais aeroportos. Mas quiseram cobrar muito para fazer propaganda da Azul nos aeroportos em que operamos.
O que acontece é que ninguém está fazendo propaganda dentro do aeroporto. Isso é ruim para nós, mas também ruim para eles. Às vezes, tem que usar bom senso. Com esses aeroportos privatizados, temos que agir como se fôssemos sócios. Se os custos do aeroporto aumentam, o custo das passagens tem que aumentar ou o crescimento acaba. Então, a culpa do preço não é sempre da empresa aérea.