UOL - Como vê a situação política interferindo no mundo dos negócios?
Guilherme Soárez - Em todos os países, a política interfere no mundo dos negócios. A discussão do nosso Brasil hoje deveria ser um projeto de país de forma apartidária, que a sociedade compre, engaje-se e lute para que aconteça. E um projeto de país não é de cinco anos, mas de 50 anos.
Qual o Brasil de 2050 gostaríamos de ter? Que investimentos, independentemente do partido, deveriam estar acontecendo hoje para fazermos jus a esse mercado cada vez mais sem fronteiras no qual os principais talentos estão indo para outros países?
Quais são as suas propostas para um Brasil melhor nos próximos 50 anos, então?
Para os próximos 50 anos, para o Brasil ter chance neste mercado, nós devemos olhar com a velocidade exponencial de novas tecnologias e reconhecer quais as que serão predominantes.
Vou usar um exemplo: no momento em que começou a produção de carros não faria mais sentido investir em cavalos, faria sentido investir em carros e em estradas, mesmo quando havia poucos carros nas ruas. Da mesma forma, um dos gaps que o Brasil tem hoje é de infraestrutura, então deveríamos investir em estradas?
Por que não investir nas tecnologias como machine learning, como disponibilizar internet gratuita e de qualidade para a população, como investir em novas formas de locomoção, como disponibilizar e potencializar o blockchain de forma a reduzir a burocracia brasileira?
Então é olhar quais são essas tecnologias que vão se tornar padrão no mercado e deixar de investir nas antigas. Não faz mais sentido investirmos em cabo para telefonia fixa se hoje todo mundo anda com dois ou três celulares na mão. É pensar de forma exponencial, e que o nosso governo possa ter uma visão de futuro e investir naquilo que será relevante no futuro e não no gap de hoje.
Acha que o político brasileiro está maduro para pensar dessa forma?
Não acredito que a nossa classe política esteja madura para pensar de forma exponencial, mas a classe política, na minha visão, é um reflexo das nossas escolhas como cidadão. Eu reputo mais a nossa responsabilidade, eu me torno mais protagonista desta proposta, e depende de nós.
Se a gente depositar a nossa crença no outro, a gente se torna vítima, se torna refém. O meu convite é para que nós, cidadãos brasileiros, acreditemos nesse país. Eu sou pai de quatro filhos, e a alternativa que eu escolho é a de trabalhar todos os dias por um Brasil mais justo, mais próspero e mais ético.
Eu faço isso por meio das empresas, contribuindo para que elas sejam mais prósperas, gerem mais empregos e oportunidades e criem um círculo virtuoso.
Como vê a corrupção hoje?
Nós nos deparamos com inúmeros escândalos. Muitos deles, uma parte dos empresários já tinha conhecimento que existiam, e o que está vindo à tona nada mais é do que a boa notícia de que estão sendo levados à Justiça alguns dos casos já comprovados.
E vejo o combate à corrupção com muito bons olhos. Vejo que uma geração que está surgindo, dos meus filhos, dos adolescentes, tem uma tolerância menor a comportamentos que a minha geração e uma anterior à minha achavam natural.
Eu me pergunto por que vemos que brasileiros avançam um sinal vermelho no Brasil, mas em um outro país eles não fazem isso.
Por que no Brasil nós toleramos um pouco mais? A mesma pessoa que tem um comportamento que se desvia de um comportamento ético no Brasil se mantém ético em outro país. Eu acredito que é o ambiente, o contexto.
Se você estiver em um ambiente em que a Justiça prevaleça e aquele que tem um desvio de conduta seja responsabilizado e pague as consequências, você gera um ambiente no qual a norma é seguir e cumprir as leis.
E é isso que nós precisamos fazer, de uma forma moderna, utilizando as novas tecnologias, disponibilizando a informação para todos, unificando as nossas bases de dados do governo e utilizando tecnologias como o blockchain para reduzir drasticamente a nossa burocracia e implementando isso de uma forma muito ágil.
Mas no Brasil a Justiça é criticada por suposta lentidão. Fazer uma reforma na Justiça seria um caminho?
Eu não vejo como fazer uma nova cultura de país, uma nova forma de nação sem mexer em todas as instituições do Brasil. É claro que a possibilidade de entrar com recursos infindáveis na Justiça favorece os culpados. Então, uma reforma na nossa Justiça precisa acontecer. No Executivo e no Legislativo, também precisa acontecer.
Todas precisam acontecer a serviço de um propósito de país, de nação no longo prazo. Onde o Brasil gostaria de se encaixar, qual diferenciação o Brasil quer ter nesse mercado? Se ele quer ser um provedor de commodities é um caminho, se quer ser um promotor de talentos e criatividade pode ser um outro caminho.
Como avalia a reforma trabalhista e as propostas da reforma da Previdência?
Para o Brasil reduzir os principais gaps que hoje existem, que são educação, saúde, segurança pública e infraestrutura, precisamos entrar numa nova onda de reformas. A reforma trabalhista, na minha opinião, foi um passo muito importante.
Quanto mais flexibilidade para as diversas formas de trabalho que estão surgindo e a legislação permitir, melhor para o trabalhador e melhor para a empresa. Óbvio que precisa ter órgãos que regulem e evitem abusos dos dois lados.
No mundo abundante, e isso já acontece em outros países, você tem uma cirurgia em que o paciente está num país e o cirurgião está em outro. Qual legislação trabalhista deve reger essa relação: a do país do médico ou a do paciente?
Se a legislação não conseguir tirar o atraso e acompanhar o que está acontecendo no mundo, infelizmente vamos perder relevância.
Em relação à reforma da Previdência, parece óbvio que o que era válido 50 anos atrás, com a expectativa de vida de então, não é mais válido para o mundo de hoje.
Se o Brasil busca aumentar o seu índice de poupança, de investimento reduzindo o seu déficit, eu não vejo outra opção senão enfrentar esse desafio da Previdência da mesma forma que diversos países no mundo enfrentaram.