Deusmar de Queirós, fundador e presidente do Conselho de Administração da PagueMenos, fala abaixo das dificuldades do setor, com regulações restritas e violência, e conta dos planos de expansão, que incluem até farmácia flutuante na Amazônia.
O segmento farmacêutico tem uma série de exigências a mais do que as de outros setores, e hoje em dia as autoridades sanitárias colocam muitos obstáculos. Autoridades municipais também.
Outra dificuldade é a violência. Diria que o grande problema hoje é a violência, os assaltos que acontecem.
Nós temos de 10 a 20 assaltos por noite em mil lojas, 1% ou 2% das lojas são assaltadas diariamente
Não é um prejuízo muito grande, porque nós temos um cofre boca de lobo. Quando acumula R$ 500, guardamos dentro dele. Mas, mesmo levando pouco, R$ 100 ou R$ 200, cria-se um clima de muita insegurança junto aos funcionários e aos clientes também.
Mas não é privilégio da PagueMenos. Todas as outras redes são assaltadas e todos os outros segmentos também. Essa violência que existe no Brasil hoje, e que era menor há dez anos, preocupa muito.
Tive um filho que ficou 12 dias no cativeiro. É um trauma muito grande ver a sua família sequestrada, e isso o obriga a se precaver. Ter carro blindado, escolta. É um martírio, mas é o preço que você paga pelo sucesso. Ninguém sequestra um filho de uma pessoa que não tenha posses. Faz parte
Pensa em abrir até farmácia flutuante no Amazonas
Disseram que o cearense era o judeu brasileiro, e eu acreditei. E saí abrindo loja pelo Brasil afora. Temos loja em Manacapuru, você tem ideia onde é Manacapuru? Fica entre o rio Negro e o Solimões. Está dando resultado, espetacular.
Acabamos de inaugurar uma em Tabatinga que fica na tríplice fronteira de Brasil, Colômbia e Peru, a divisa passa a dez metros da nossa rua. Temos esse espírito aventureiro, e tem dado certo. O nosso crescimento é contínuo, uma média anual de 18%, desde 2000 até hoje.
Estamos pensando seriamente em uma farmácia flutuante no Amazonas, mas o problema é que a Vigilância Sanitária ainda não autorizou. Eu teria que levar um barco, ir parando, uma semana indo, outra semana voltando, é uma ideia interessante.
Mas nós já abastecemos de barco alguns lugares. Manacapuru é uma cidade que a gente abastece de barco. Maranhão, Parintins também. Há algumas com os três modais, vai de avião até certo local, terrestre, rodoviário e depois fluvial.
No ano passado, abrimos 146 lojas, e neste ano vamos abrir 188.
Empresário tem de acreditar no país
Nós acreditamos muito na retomada do crescimento do Brasil e por isso estamos abrindo 188 lojas. Significa um investimento em instalações e reformas de prédio, algo em torno de R$ 200 milhões. Nós devemos criar entre 2.500 e 3.000 empregos. Alguns colegas dizem que sou um ponto fora da curva, porque está todo mundo desempregando, e eu digo que não acredito que se resolva a crise econômica deixando de investir.
O empresário consciente tem de continuar abrindo novas unidades produtivas, acreditando no país, porque o governo pode, mas não pode tudo. Cabe ao empresário tomar a frente dessa retomada
É isso que estamos fazendo e acreditamos muito nisso. Enquanto houver recursos e der para fazer, claro que sem comprometer a saúde financeira da empresa, nós temos que abrir lojas e gerar empregos.
Educação na cidade natal só tinha a professora Rita
Minha juventude e minha infância foram muito ricas. Meu pai era um comerciante de secos e molhados no interior, um homem muito rico, porque homem rico no interior, na década de 40, tinha cavalo, boi, vaca, uns quatro porcos, galinha, pato e um local para plantar milho, feijão, e era uma fartura imensa. Vendia tudo e não dava para comprar um apartamento na capital, porque ali é o mundo dele.
Eu tinha uma irmã já 10 anos mais velha estudando num colégio interno em Fortaleza. Ele queria que eu fosse doutor. Dizia: “esse garoto tem que ser doutor”, e na minha cidade não dava porque só tinha a professora Rita. Era a alfabetização, o abc, tudo era ela que ensinava ali.
Então, com oito anos, eu vim para a capital, e meu pai teve a sabedoria de me colocar em um dos melhores colégios de Fortaleza, o Sete de Setembro, que era caro também, particular. E aí o que aconteceu? Ele veio e montou um comércio na periferia de Fortaleza.
Vendia laranja, banana e rapadura para pagar escola
E vamos supor que a mensalidade custasse 30, e ele dizia: “você tem que ganhar um por dia. Então, você vai vender laranja, banana, rapadura, frutas de porta em porta”.
Eu ia para o colégio e, quando voltava, ia vender frutas com oito ou dez anos de idade. Depois, com 12, 13, 14 anos, assumi a mercearia e aprendi a comprar uma saca de feijão e açúcar para vender no retalho, de quilo em quilo. Isso para mim foi muito rico. E continuei estudando, fiz faculdade de economia, fui professor da universidade
Meu primeiro emprego formal foi na IBM do Brasil. Logo em seguida entrei numa companhia de crédito imobiliário, uma distribuidora de valores e, em 1976, fui convidado a montar a Bolsa de Valores do Ceará, que era uma das maiores Bolsas do mundo, porque ia do Rio Grande do Norte ao Amazonas. Grande em área geográfica. Em negócios não, era muito pouco.
Visitei as Bolsas de Minas, de São Paulo, do Rio, fiz estágio nelas para ver a qual me adaptava e claro que era a menor, a de Belo Horizonte, que ainda não era informatizada em 1977. Começou em 76 e inauguramos em janeiro de 77. Em maio de 77, fui convidado por um empresário e montei uma corretora. Logo em seguida, comprei a parte dele e fiquei controlador.
Minha infância e adolescência foi com muito trabalho. Saía às 7h e voltava às 23h. Ia dar aula e fui coordenador do curso de economia na universidade. Para mim, foi maravilhoso. Isso não me impediu de ter quatro filhos maravilhosos, que estão trabalhando comigo
Mais de mil farmácias até o fim do ano
Temos um projeto que começou em 2012, quando nós tínhamos 580 lojas. Em 2002, nós tínhamos 290, e fizemos um projeto que até 2012 chegaríamos a 580. Em 2012, nós falamos que, em 2017, íamos chegar a mil. Chegamos, vamos até ultrapassar. Provavelmente vamos terminar o ano com 1.070, 1.080 lojas.
Queremos ser uma loja de conveniência, de vizinhança. Fomos um dos primeiros a vender refrigerante, biscoitos, sorvete nas lojas, porque a legislação de 1973 diz que farmácia é para vender medicamentos, produtos de higiene e beleza, e eu nunca aceitei essa limitação. Por que não poder vender um refrigerante, um biscoito, um chocolate? Nós sempre pendemos para o modelo de drugstores americanas, que vende muitos outros produtos além de medicamentos.
Outro negócio muito forte é inovação: temos no nosso DNA fazer coisas que os outros não fazem. Um exemplo muito forte: em 1989, criamos o recebimento de conta de água, luz, telefone na farmácia.
Doze anos depois o Banco Central criou o correspondente bancário. Nós fomos o embrião de hoje: supermercados, padarias, lotéricas recebem contas. Na época, não existia, fomos nós que iniciamos isso lá em Fortaleza.
Programas sociais com mulheres, ambulâncias e detentos
Temos hoje um encontro de mulheres. Já foram realizadas 12 etapas, com 20 mil mulheres. Levamos os melhores palestrantes do Brasil para falar sobre câncer de mama, doenças inerentes às mulheres, mas também sobre beleza, como ter melhor qualidade de vida. São eventos interessantíssimos.
Batemos muito forte também na área de cidadania, dezenas de ambulâncias, milhares de cadeiras de rodas. Um trabalho muito forte na recuperação de detentos de bom comportamento. Temos um centro de ressocialização que chamamos de fábrica escola: o detento vai às 7h e fica até 17h. São 30 detentos em cada turma, e eles podem conviver com a família. Já recuperamos 180, seis turmas de detentos.
Neste ano, acabamos de fazer um circuito de corrida de rua, porque acho que a corrida é o esporte mais democrático que existe. Um par de tênis e um calção, e você ajuda na sua saúde, faz um exercício barato. Nós promovemos isso. São seis ou sete etapas por ano, já vamos para o oitavo ano.
Crescimento mesmo na crise
As farmácias associadas à Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias) [da qual Queirós é presidente] deverão crescer acima de 5%, 6% neste ano, e o mercado farmacêutico como um todo vai crescer nessa faixa acima de 6%. No ano passado, foram 12%.
Claro que estamos sentindo a crise, aumentou o desemprego e acabou aquela indenização dos seis meses, acabou o FGTS, o seguro-desemprego. Agora a coisa está pegando e, se não houver algo que influencie a retomada do crescimento econômico, não vemos como diminuir esse desemprego do Brasil, e precisa diminuir muito.
A PagueMenos espera crescer pelo menos 10% ou 12%. Normalmente, crescemos o dobro da média das outras redes de farmácia. No ano passado, crescemos 21%.