UOL – Que soluções tecnológicas já estão sendo utilizadas para fazer a diferença na vida das pessoas?
Cristina Palmaka – Fora do Brasil, temos vários casos de uso de conectividades para internet das coisas. A Under Armour, uma empresa de artigos esportivos, decidiu sensorizar [colocar sensores em] todas as roupas, calçados, todos os artigos esportivos, para poder coletar a maior quantidade de dados sobre quem está usando os seus acessórios: como está a sua frequência quando você está correndo, por quantos quilômetros aquele tênis já foi usado... Disso pode sair informação sobre um determinado montante de quilômetros percorridos e se já está na hora de trocar o calçado.
Isso começa a dar possibilidades diferentes de suporte para um melhor atendimento ao cliente, mas também na gestão da Under Armour, sobre como ela pode se posicionar de uma forma muito mais inovadora.
Você fala em roupa sensorizada, que vai pegar os dados da pessoa. Em maio deste ano entrou em vigor a regulamentação europeia de uso de dados. Como vê essa questão de segurança de dados?
Todo mundo que tenha negócio com a Europa tem de estar dentro desse guarda-chuva de privacidade. A SAP foi, de fato, uma das primeiras empresas que teve a sua certificação, por dois motivos: primeiro, por sermos uma empresa europeia, mas também porque tocamos dados muitos relevantes dos nossos clientes. Então, a segurança de dados sempre foi uma prioridade dentro do arsenal de atividades da SAP.
Segurança de dados sempre foi um tema importantíssimo, só que agora talvez tenha ficado mais visível. Nem todo mundo talvez tivesse se dado conta da relevância de saber onde estão os seus dados
O problema não está em os dados estarem em nuvem ou estarem no servidor, isso é pouco relevante, porque você pode ter um servidor dentro da sua organização, e ele ser hackeado. Não é a nuvem que é o problema, não é o servidor que é o problema. É você informar para quem quer disponibilizar.
Em muitos casos, você pode ser uma parte estatística e isso não tem nenhum impacto para você, como pessoa física. É isso o que a maioria das empresas tem feito. Essa massificação acontece, e isso não expõe a sua privacidade.
Nos casos em que se quer ter algum benefício ou melhor atendimento, você tem que dar a possibilidade para o seu fornecedor personalizar a sua experiência. Por exemplo, vamos imaginar que amanhã você tenha um problema de saúde e queira que seu médico seja informado quando a sua frequência passe um limite. Nesse momento você está abrindo os seus dados, mas de uma forma muito direcionada para obter um benefício ou até por uma questão de segurança. Então é preciso ser mais crítico e mais pontual sobre para quem você vai abrir essa informação.
Quem pode ver o dado, de que forma vai ver o dado quando você personaliza ou quando coloca como parte de uma estatística maior. Acho que essas são as novas discussões que a tecnologia vai trazer. As possibilidades são infinitas; agora o que a gente faz com isso, do ponto de vista de privacidade, do ponto de vista ético?
O segmento da saúde é um segmento que certamente tem se beneficiado e vai se beneficiar ainda mais das possibilidades tecnológicas.
Nós sensorizamos toda a UTI cardíaca do InCor [em São Paulo]. São diferentes equipamentos sensorizados, e nós entramos na parte analítica, no software que consegue processar todas essas informações e trazer melhores condições para o médico tomar uma decisão, olhando o histórico do paciente, os exames, o que vem das máquinas.
Tomar uma decisão em tempo real é muito importante quando se tem um inventário, uma loja, mas fazer isso a favor da vida foi fantástico.
Agora, há muitas discussões éticas: o que fazer com isso, como vamos começar a intervir no DNA, em que momento vamos começar a imprimir órgãos humanos? Há uma questão ética que vai até além do tema de privacidade e que nós teremos de discutir, como sociedade, de uma forma muito mais ampla.
Como você está vendo o cenário sobre proteção de dados no Brasil? [Esta entrevista foi feita antes da aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais]
Eu tenho o benefício de participar do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, e nós tocamos muito no tema da revolução digital e seus impactos.
Nós temos um modelo europeu que é bastante conservador no que tange à proteção de dados do consumidor, da pessoa física. A União Europeia colocou de uma forma bem mais conservadora do que o ponto de vista americano, mais aberto e olhando mais para a informação disponibilizada a favor dos negócios.
Então, temos dois contrapontos e temos de achar aquilo que faz sentido para o Brasil, para o nosso país.
O mais importante é trazer a discussão. Hoje, com todos os incidentes que aconteceram, as pessoas começaram a se dar conta da relevância do tema e do impacto quando a gente faz aquele “opt in”, aquele "sim, eu vou disponibilizar meus dados". [É necessário] colocar um pouquinho mais de atenção em quem você está autorizando a usar o seu dado e de que forma. Estamos num momento de aprender tudo que a tecnologia pode fazer.