UOL - De que forma o grupo Mulheres do Brasil, do qual a senhora faz parte, pode influenciar o cenário político, principalmente em um ano de eleições?
Chieko Aoki – Nós não somos partido político, mas ouvimos políticos que consideramos sérios, que têm uma proposta séria. E também não podemos pré-julgar pessoas nem grupos, queremos sempre ouvir. Mesmo na empresa, a melhor coisa é ouvir antes de decidir.
O ponto forte do Mulheres do Brasil é que são mulheres que querem ter voz ativa na sociedade. Nós não queremos só reclamar. O grupo tem alguns pontos inegociáveis, e um deles é não reclamar. Temos que ser protagonistas. Acha que há problema? O que podemos fazer para resolver isso?
Atuamos em vários comitês. Temos o comitê para combater a violência contra as mulheres, o comitê de igualdade racial –porque nós não podemos julgar as pessoas pela cor nem por nenhuma outra diferença–, temos também o ‘80 em 8’, que é fazer em oito anos o que levaria 80 anos para ser feito e ter mulheres em postos de liderança do país.
Há vários grupos fazendo ações sociais, um grupo cultural, que está valorizando a cultura brasileira. São 12 núcleos hoje que atuam nas várias frentes em que nós acreditamos que o Brasil precisa se transformar ou melhorar.
Queremos mostrar que as mulheres realmente têm esse papel importante na sociedade brasileira. Não podemos só dizer ‘eu tenho um papel importante’, temos que mostrar quais são as mudanças, que atividades temos feito: nós vamos ao Senado, onde está a questão da cota de 30% para mulheres nos conselhos das empresas [o projeto agora está sendo discutido na Câmara dos Deputados].
A Luiza Helena [Trajano, presidente do Magazine Luiza] fala um negócio muito bacana: ‘nós não podemos deixar a banda passar, temos que tocar na banda’.
Além da questão das cotas, o que mais deve ser levado em consideração para a mulher buscar posições de liderança nas empresas?
Nós temos o Vozes, que faz palestras com altas executivas, CEOs de empresas ou empreendedoras, que vão principalmente a escolas e faculdades da periferia e contam como muitas delas saíram do nada e chegaram lá.
É importante encorajarmos e inspirarmos um número maior de jovens, homens e mulheres, e mostrar que tudo pode acontecer na nossa vida quando realmente somos protagonistas, queremos, nos empenhamos, nos esforçamos para chegar a uma determinada meta.
Eu acho que é muito importante realizar ações em busca de uma nova juventude, com mais ambição, porque nós temos um momento, quando jovens, em que achamos que dinheiro cai do céu. Temos que conquistar as coisas com o nosso esforço, com a nossa educação, com o nosso trabalho.
E também ajudar aquelas que querem empreender. Ajudamos quem tem dificuldade, passamos nossa experiência e ajudamos a formar mais empreendedoras.
Como foi a sua trajetória?
Fiz direito e ia seguir essa carreira, mas casei, o meu marido tinha um hotel em sociedade, e o sócio saiu. Então, meu marido falou: ‘você fala português, vai lá e me ajuda.’
Mas o que mais me ajudou a começar a minha carreira foi ter muita vontade. Estou tendo uma oportunidade que não cai do céu todo dia, é a única que eu tenho, então vou me esforçar, vou montar uma equipe bacana e vou dar o meu melhor.
Eu tinha muita experiência em ter viajado muito pelo mundo e tinha noção do que era importante para o hóspede e o que eu poderia fazer para que a equipe se motivasse, porque sempre gostei muito de recursos humanos, de pessoas. E foi assim que comecei.
Há 20 anos montei a Blue Tree porque meu marido ficou doente e teve que vender os hotéis dele. Eu tinha uma equipe pequena, que queria continuar na hotelaria, e tinha investidores também que queriam que eu continuasse.
Como eu nunca havia sido uma boa esposa, sempre trabalhei, entre ser esposa e continuar com a carreira, escolhi a carreira. Foi assim.
A senhora disse que não foi uma boa esposa, porque estava sempre trabalhando. A senhora também não teve filhos. Existe essa questão de a mulher ficar dividida entre o trabalho e a casa. Qual é a sua visão?
Não existe o certo e o errado, isso depende muito das suas convicções e prioridades. Existe gente que diz: ‘durante dois anos eu vou me dedicar à família, mas vou continuar me atualizando para não ficar fora do mercado’. E existe gente que não se atualiza. Aí é difícil voltar.
Conheço pessoas que ficaram dois anos se dedicando aos filhos e depois voltaram, porque se atualizaram, não ficaram fora do mundo de negócios. Você pode não estar trabalhando efetivamente numa empresa, mas existem formas de se manter sempre atualizada e, para essas pessoas, a oportunidade sempre aparece.
Acho que depende muito da sua vontade, do que você é como pessoa, do que você quer para você. Um dia os filhos crescem, o marido pode morrer também ou separar, sei lá, a vida tem tantas surpresas... e no final você nasce sozinha e vai morrer sozinha.
O que você quer para você? Você quer crescer, quer sentir que deixou um legado, que criou alguma coisa ou que criou bem os filhos. É uma opção de cada um. Quem se dedica à família, eu não acho errado, também é uma excelente opção. Imagina se o mundo inteiro fosse igual, seríamos todos robôs.
Eu não sou boa esposa dentro do padrão, mas acho que para o meu marido fui uma esposa maravilhosa –pelo menos é o que ele dizia quando estava vivo. Para cada panela tem um tipo de tampa, e acho que tem que casar isso com a cultura da família, com o marido, com as prioridades.