A fundadora e presidente da Sorridents vem de uma família que não tinha dinheiro para pagar a faculdade de odontologia. Ela vendeu roupas para custear seus gastos enquanto era estudante. Saiba um pouco de sua história aqui:
A minha mãe era cabeleireira e meu pai motorista de ônibus. Eu sou de uma cidade do interior de São Paulo chamada Pitangueiras, não é no Guarujá, é para frente de Ribeirão Preto, e o meu pai tinha um salário de motorista, e minha mãe, como cabeleireira, comprou uma lojinha de roupa, pequenininha.
Uma vez, no meio das roupas, veio uma caixa de carretéis de linha. Não tinha utilidade para a minha mãe, e eu pedi para ela e disse que ia vender. Peguei uma cadeira da cozinha, mais uma bacia daquelas redondas de colocar roupa de molho, andei mais ou menos um quarteirão e coloquei a cadeira entre um supermercado e um banco.
Quando as pessoas saíam do banco ou do mercado, que era o ponto de mais movimento, eu dizia: "Vem freguesia, chucha dinheiro na bacia", e as pessoas paravam porque achavam isso engraçadinho.
E pegavam os carretéis de linha e compravam até sem precisar. E aí comprei em uma semana minha primeira Caloi Ceci cor-de-rosa. Foi assim que conquistei minha primeira bicicleta, é a primeira coisa que eu posso dizer que comprei com o dinheiro 100% meu.
Meu apelido na faculdade era camelô
O meu apelido na faculdade chegou até a ser camelô porque eu vivia com uma mochila nas costas. O desafio foi o seguinte: eu nunca sonhei em ser dentista porque era algo que estava muito longe das minhas condições financeiras. Fazia magistério para ser professora e colegial normal à noite na escola estadual.
Tenho um primo que tinha o sonho de ser dentista e já havia alguns anos estava tentando passar no vestibular de odontologia. Ele me convidou para ir a Alfenas, Minas Gerais, para prestar vestibular com ele. Eu disse: "Você está doido da cabeça? Você está no cursinho tentando passar há alguns anos, e o que eu vou fazer lá?".
Naquela época eram 65 candidatos para uma vaga. E ele falou: "Mas fazem cada festa...". E a conversa começou a me interessar. Porque no interior há poucas opções para o jovem, então falou que havia festa...
Eu vendia bijuteria, uma tia minha tinha uma lojinha, ela fornecia para mim e eu vendia na rua. Então eu tinha minhas economias. Aí eu fiz a inscrição e fui com ele de carona. Ficamos numa república de estudantes. E realmente de manhã prestava-se o vestibular e à tarde aconteciam os churrascos e as festas.
E a minha grande surpresa foi quando saiu a lista dos aprovados, e o meu nome estava lá. Eu tinha somente 16 anos. Mas aí quando cheguei com essa notícia na minha casa, superfeliz porque eu tinha passado no vestibular, minha mãe disse: "Minha filha, cai na real, material de dentista é claro, é outra cidade, você vai ter que pagar para morar, para comer, onde é que nós vamos arrumar dinheiro para isso?"
E aí eu fiz uma proposta: "A senhora me dá as roupas, eu vendo, devolvo o dinheiro do custo para a senhora e fico com o lucro para pagar todas as minhas despesas". E isso deu tão certo que eu não só pagava as minhas contas como também mandava dinheiro para a minha casa.
E como era essa jornada? Fui morar numa república com sete meninas, para as contas ficarem baratinhas. Fazia faculdade em período integral para terminar em quatro anos e não em cinco. Então eu entrava às 7h15 e saía às 18h. Mas em vez de ir para a minha casa, tomar banho, jantar, como todo mundo fazia, assistir a um pouco de televisão e rever um pouco da matéria, eu já saía da faculdade com a mochila nas costas e ia para as repúblicas vender roupas.
Sonho tem de ter prazo para acontecer
Para você que está começando, acho que uma coisa fundamental é a determinação. Não é fácil começar nada, mas muito mais difícil é manter. Todos nós encontramos obstáculos durante o nosso caminho e temos que ter força para ultrapassar essas montanhas, determinação para se manter em busca do sonho.
Eu falo muito uma coisa nas minhas palestras, que é o seguinte: sonho para mim tem que ter prazo. Todos os meus sonhos tiveram prazo, ano para acontecer. Porque senão você corre o risco de passar pela vida sem sequer realizar um único sonho.
Às vezes na palestra eu dou um exemplo assim: qual é o seu sonho? É ter uma casa na praia. Eu quero saber quando você vai ter a casa na praia. Senão eu o encontro daqui a 30 anos e pergunto: "E aí, está indo muito para a praia, curtindo com a família, com os filhos? Ah, não comprei, ainda não deu". Então, não era um sonho, era da boca para fora.
O que nos faz levantar da cama todos os dias são os nossos sonhos, e a beleza da vida está em realizar um sonho, começar outro. E assim nós vamos caminhando.
Manter o foco e a determinação, não acreditar que você não é capaz. Você é capaz, sim, desde que vá à luta. Eu fiz inúmeros sacrifícios para chegar aonde eu cheguei. Todas as vezes em que fazemos uma escolha, temos uma renúncia a ser feita, o que você tem que ver é o que é a prioridade naquele momento.
Tem cartão de crédito próprio e foi case em Harvard
No nosso modelo de negócio aqui no Brasil, quem financia os nossos pacientes somos nós mesmos, as próprias clínicas, nós temos cartão de crédito próprio. Uma das estratégias que usamos para superar a crise quando ela começou foi ter o nosso próprio cartão de crédito. Parcelamos em até 18 vezes totalmente sem juros. Isso num país que tem uma taxa de juros considerável.
A Sorridents não é baratinha, nem tem como ser, porque o baratinho não casa com qualidade, eu não consigo usar uma resina de uma marca boa, com uma longevidade imensa numa restauração, cobrando baratinho. Eu consigo, sim, cobrar um preço justo, às vezes metade do que é cobrado num consultório particular.
Como temos dentro de uma clínica várias especialidades atuando ao mesmo tempo, isso faz com que a gente diminua o custo fixo. Outro fator importante também é que compramos tudo em grande escala e conseguimos material odontológico 30%, 40% mais barato do que o mercado.
Em 2016, a Sorridents foi a primeira franquia, num setor de mais de 3.200 marcas, a ser case em Harvard. E isso começou a nos abrir muitas portas, começamos a receber muitas pessoas interessadas em levar o nosso negócio para os EUA.
Tivemos oportunidades de expandir no México, veio também oportunidade nos EUA e outros países da América Latina. Nós entendemos que não tínhamos braços, que seria muito arriscado fazer a expansão em mais de um país ao mesmo tempo, então optamos em começar a expansão internacional pelos EUA [previsão de abertura de uma unidade em Orlando (EUA) até o fim do primeiro semestre de 2018].
Eu, meu marido e meus filhos nos mudamos para lá, estamos morando nos EUA há um ano porque a gente precisava entender mais o mercado, participar e se aprofundar mais.
Hoje, o grupo Sorridents é composto de quatro companhias: a Sorridents franchising, que é a maior, tem 240 unidades de clínicas odontológicas em 17 Estados. Temos uma empresa de tecnologia, lançada em janeiro deste ano, a Docbiz, voltada a soluções tecnológicas para dentistas particulares e clínicas. Temos também a Sorriden, aberta no começo de 2016, e é a primeira operadora de convênio do Brasil voltada à prevenção. E temos o Instituto Sorridents, que é uma empresa sem fins lucrativos, é o braço social do grupo, que apoia e oferece tratamento para as pessoas gratuitamente.