Sem disciplina para estudar

Brasileiro deve mudar costume e se dedicar mais para aprender inglês de vez, diz chefe do Berlitz

Do UOL, em São Paulo
Keiny Andrade/UOL e Arte/UOL
Keiny Andrade/UOL Keiny Andrade/UOL

Muito além de the book is on the table

Segundo pesquisas, a língua inglesa é fácil para o brasileiro, mas os alunos sofrem por falta de disciplina e dedicação, avalia Arthur Bezerra, presidente do Berlitz Centro de Idiomas no Brasil, em entrevista na série UOL Líderes.

Ele diz que mesmo os jovens ainda preferem aulas presenciais às online, mas exigem uma gameficação do ensino porque têm uma concentração muito curta. Bezerra declara que tecnologias como tradução instantânea devem ser usadas pelas escolas -privadas e públicas- para melhorar os resultados.

Esse é um jeito de vencer a preguiça de fazer lição de casa. O presidente, que já foi office-boy e começou como professor no Berlitz, afirma que assistir a séries e ler HQ em inglês ajuda a melhorar a compreensão, mas é preciso estratégia.

Inglês é fácil de aprender, mas falta acesso e esforço

UOL - Há grande desistência entre alunos de cursos de línguas. Por que acontece isso?

Arthur Bezerra - O pensador Edward O. Wilson tem uma frase que adotei como mantra: estamos numa bizarra combinação de emoções pré-históricas, com crenças medievais e uma tecnologia quase divina. Estamos vivendo essa revolução digital, e esse é o contexto em que estamos com muita angústia, porque o cérebro não está conseguindo acompanhar o desenvolvimento tecnológico.

Temos o seguinte cenário no Brasil: menos de 3% dos nossos conterrâneos têm alguma proficiência no idioma inglês. Fizemos uma pesquisa que mostrou que 73% dos jovens adultos, de 18 a 35 anos, nas cinco principais cidades brasileiras, têm educação como um objeto de desejo.

São principalmente jovens de classe A a C que disseram "nosso sonho de consumo é a educação", nominalmente uma graduação e uma segunda língua, e essa segunda língua naturalmente é o inglês, que é a língua franca do mundo. E eles disseram "eu quero aprender inglês", e perguntamos como? E a resposta foi "presencialmente".

Imaginávamos que para essa faixa etária já haveria uma propensão maior para o e-learning, o autoacesso, ensino a distância. Não estamos no meio da revolução digital, e os jovens não deveriam estar completamente engajados nisso? A gente percebe que há um timing para essa transição entre uma aula totalmente presencial e uma aula totalmente a distância.

Sabemos que a revolução digital vai nos impactar a todos, mas não sabemos a velocidade exata e não sabemos como.

Essa pesquisa revelou as razões de as pessoas ainda preferirem, mesmo os jovens, a aula presencial?

Fizemos algumas perguntas exploratórias, mas posso lhe dar algumas razões embasadas não só pela nossa pesquisa, mas pela nossa vivência no Brasil em 105 anos de Berlitz, e eu na área de educação há mais de 20 anos. Acredito que o primeiro elemento seja cultural.

Independentemente do corte geracional, ainda somos criados com um padrão educacional muito tradicional. Nós temos a aula expositiva, temos ainda um professor que, no geral, sabe tudo, e o aluno fica numa posição mais passiva. Os pais esperam que o filho faça prova, que memorize, que tenha uma certa gama de conhecimentos.

Os pais dos alunos são muito tradicionais, os alunos crescem nesse sistema ainda muito tradicional. É impossível imaginar que, quando ele chegue à fase de universidade ou ingresse no mercado de trabalho, vai virar uma chave e ficar totalmente tecnológico. O cérebro não está acompanhando, e também o padrão de criação e o sistema educacional ainda são muito arcaicos.

Se olharmos uma foto de uma sala de aula no ensino tradicional atual e compararmos com uma foto de cem anos atrás, é muito parecida. Então, por que eu acho que o brasileiro sofre tanto para adquirir uma segunda língua e por que essa pesquisa confirmou que os jovens preferem uma aula tradicional?

Há um elemento cultural, o brasileiro gosta de personal trainer, gostamos de ter, quem pode, uma empregada doméstica, um personal stylist. Nós somos um povo "high touch", brasileiro gosta de contato, gosta de estar com os amigos no barzinho, na hora do almoço. Se ele puder, vai preferir ter uma aula guiada.

O segundo ponto é que não temos uma tradição do “do it yourself” [faça você mesmo], da  bricolagem. Essa questão da disciplina para o autoestudo. Para o aluno do e-learning, nós damos a guide line, a base. Se você tem esse objetivo e está nesse nível de desenvolvimento e proficiência, você tem de estudar, por exemplo, quatro horas e meia por semana. Então se organize.

Quem efetivamente, por mais modernas que sejam as ferramentas, por mais onipresentes no tablet, celular, em qualquer aparelho, quem tem essa disciplina de se organizar e fazer as quatro horas e meia por semana? Então nós temos um problema cultural, um problema de disciplina, e essas são as razões principais para esse grau de dificuldade.

E por que o adulto sofre para aprender? Vou tentar desmitificar uma coisa. Tecnicamente, o inglês é uma língua fácil de ser aprendida por um brasileiro. Linguistas comprovaram isso.

Um trabalho feito pela Unicamp mostra que, no ranking de aquisição de idiomas por parte de um brasileiro, o inglês está no nível mais fácil junto com o espanhol e o romeno.

Tecnicamente, é uma língua que deveria ser de baixa aquisição, então por que não aprendemos? Acho que uma das razões se deve ao timing, idealmente nós deveríamos estudar essa língua na infância ou na adolescência, e essa não é a realidade do Brasil porque muitos de nós não tivemos acesso a um curso de idioma ou até a um programa sólido de inglês no colégio.

Então você tem que compensar esse gap [buraco] na fase adulta. Mas na fase adulta o "HD" [o cérebro] já está sobrecarregado. Vivemos um contexto de muita angústia, de muito imediatismo, e todas essas coisas entram no jogo. Você tem um aluno que é extremamente ocupado, ele estuda e trabalha, ele é angustiado, imediatista e muitas vezes procura uma metodologia que não é adequada.

E qual a responsabilidade das escolas em melhorar isso?

As escolas precisam ter [um papel]. Se a língua é tecnicamente fácil de ser adquirida e estamos com problema de timing, metodológico, acho que as metodologias precisam estar cada vez mais disponíveis, multiplataformas, para que o aluno tenha pelo menos o complemento em qualquer lugar e qualquer tempo, e as metodologias precisam ser mais relevantes.

As escolas precisam parar de formar professores e formar comunicadores. O executivo, o jovem que ingressa no mercado de trabalho quer se comunicar, quer arrebentar numa apresentação, quer poder responder a um e-mail com clareza, quer poder participar de uma negociação. É isso que ele quer, ele precisa desempenhar.

Na escola, o nosso papel é preparar esse executivo para o mundo globalizado, ter um conteúdo relevante que esteja disponível em qualquer lugar a qualquer momento, por meio de qualquer plataforma.

Entendemos que a comunicação não passa só pela proficiência, mas também pelo entendimento cultural. Com quem você está negociando? De que país? De que região? Que tipo de corporação é? Americana, europeia ou chinesa? Como fazer negócio com esses países, qual a linguagem falada e não falada, qual a postura?

É nosso papel fazer com que ele consiga se comunicar com propriedade, mas esteja muito bem preparado para entender as nuances na parte de perguntas e respostas, quando houver uma troca mais intensa, quando as emoções ficarem mais acirradas e isso afetar a cognição dele. Como é que ele se prepara para esse momento, para que possa ser mais produtivo e tenha um desempenho à altura do cargo e da sua capacidade?

Mas onde você acha que há falhas e que precisam ser corrigidas ainda? Qual a responsabilidade do aluno e do curso?

As escolas estão tentando sair de uma metodologia na qual o aluno dispunha de muito tempo para projetos mais customizados e mais céleres. Senão o consumidor vai buscar outras alternativas ou vai continuar, infelizmente, convivendo com insucesso. Começa e para. O turn over [desistência de alunos] é muito alto.

No geral, a média de turn over no mercado é de quatro a seis meses. No Berlitz, temos uma taxa de persistência do aluno de 1,5 ano a dois anos. Então, em um ano e meio, se você pega um adulto ou um adolescente que é muito rápido no aprendizado, em um ano e meio você consegue fazer um belo desenvolvimento com esse profissional.

Por que brasileiro sofre com inglês?

Ninguém gosta de fazer lição de casa; tecnologia ajuda

UOL - Há muita concorrência hoje em dia: as escolas bilíngues de qualidade e o aprendizado em plataformas digitais, como o YouTube, por exemplo. Isso não tornaria as escolas de idioma supérfluas?

Arthur Bezerra - Vou jogar mais lenha na fogueira: com novas tecnologias, como o Google Pixel Buds [um fone de ouvido], que faz a tradução em tempo real, e outras ferramentas que muito em breve vão estar num grau de refinamento muito relevante.

Nós decidimos abraçar a tecnologia. Ela, com o tempo, baixa o custo de tudo e permite acesso a todos. Os saudosistas dizem que a tecnologia não vai funcionar, que as coisas vão voltar ao que eram antes, mas isso não vai acontecer. Essa revolução é inexorável.

Quem gosta de fazer home work, dever de casa? Você já foi aluno e eu também. Quem gosta? Precisamos tornar esse intervalo entre aulas mais interessante, mais lúdico, mais engajador, tem de ter mais a cara do aluno.

Estamos disponibilizando aparelhos como o Pixel Buds para os alunos brincarem, experimentarem. Estamos falando com alguns players de inteligência artificial.

O Brasil começa a ter um protagonismo nisso. No ano passado fizemos um processo de design thinking com a IBM e a Fundação Dom Cabral, para justamente tentar entender melhor esse momento, o que o aluno precisa ou aspira e como podemos atendê-lo melhor.

Essa falta de disciplina do brasileiro para estudar, que você mencionou, contribui para que haja necessidade da existência das escolas de idiomas?

Atuamos em 70 países há 140 anos e temos um entendimento cultural muito profundo do aluno nesses 70 países. E é nítido que muitos lugares têm um grau de disciplina maior, principalmente os asiáticos, os nórdicos, os americanos em sua grande maioria. E a disciplina tem um papel importantíssimo nesse quesito.

Por mais que a customização, a personalização e as tecnologias permitam um acesso e um enxugamento dos conteúdos, você ainda vai precisar estudar 300 ou 400 horas se você sair do zero, do básico. Enquanto não inventarmos um chip que possa ser inserido no cérebro, ainda há que se ter um comprometimento por parte do aluno.

Essa questão do compromisso é uma percepção a que o aluno chega, ele fala: ‘eu preciso desse desenvolvimento’. E isso para nós é um momento precioso, é quando o aluno entende a necessidade, formata, e aí a probabilidade de sucesso é maior.

É verdade que precisa haver uma motivação concreta, uma utilidade para aprender uma nova língua mais facilmente?

Quando eu e você nos comunicamos na nossa língua mãe, o português, 95% desse processo se dá no nível inconsciente. É um software que já foi instalado dentro de nós desde a infância, é como respirar e andar, você não racionaliza isso: ‘agora vou botar o pé direito primeiro, depois o esquerdo, ou estou esquecendo de inspirar o ar’.

Não, é um processo mecânico e inconsciente. A língua mãe é assim. Quando um adulto começa a aprender uma outra língua é como se você tentasse instalar um software diferente no HD, e o HD em princípio pergunta "para que isso?"

Por que eu tenho que comprometer três horas da minha semana para isso? A dificuldade está nessa equação que se inverte, 95% do esforço mental é consciente, por isso que depois de uma hora de aula, ou se você está viajando em um país de língua inglesa, no primeiro dia, nas primeiras reuniões, você sente um cansaço mental tremendo porque esse cérebro, esse instrumento poderoso e maravilhoso, que consome muito sangue, quando ele joga para o nível consciente, quando tem de passar a marcha, é muito cansativo.

A chave para essa motivação maior é o nível de exposição e de necessidade, claro que já tendo uma metodologia adequada e um projeto bem direcionado. Você precisa ter exposição à língua. Por isso que o filho adolescente sofre tanto quando a mãe diz que ele tem de estudar porque vai ser bom para o futuro e para a carreira.

Ele não materializou isso ainda. Ele tem de pegar um videogame pelo qual é apaixonado, uma banda de rock, uma música e querer entender a letra e ver que precisa aprender. Ou chegar a um momento em que ele veja que não será promovido, a carreira não será internacionalizada e que não vai crescer se não tiver o idioma.

A necessidade passa a ser imperativa, mas a exposição é muito importante, os jovens europeus aprendem com maior facilidade porque os países são próximos, eles viajam. A Suécia, por exemplo, é o país de língua não nativa que fala melhor o inglês.

É a proximidade, o jovem sueco, no verão, vai passar duas ou três semanas na Riviera Inglesa, fica lá estudando inglês. Tem poder aquisitivo, uma proximidade, essa é uma vantagem, e é por isso que eles aprendem, não é só por uma questão metodológica, é uma questão de exposição.

Ficar vendo TV, séries, filmes em inglês realmente ajuda?

Ajuda, recomendo sempre para os amigos e alunos: mapeie as coisas de que você gosta, de que precisa. Pega as coisas que você curta, as séries, os filmes, baby steps [engatinhar].

Não começa querendo ler um livro complexo, de inglês clássico, não vai funcionar. Começa lendo um livro mais até infantil, um gibi, um comics, uma graphic novels, começa lendo um artigo mais simples na internet, coisas que sejam palatáveis para que você não fique frustrado.

E a mesma coisa para os filmes e séries. Se você virar a chave, achar que já pode tirar a legenda, botar o áudio em inglês que vai entender tudo, você vai ficar frustrado. Depende do contexto do filme. Se você pegar um filme sobre gangues de Los Angeles nos EUA, falando várias gírias, você não vai entender nada, ou outro com diálogos muito sofisticados, você não vai entender.

Você precisa começar com séries mais leves, com músicas, mas dentro do seu paladar. Começa com a legenda em inglês, e depois que passou um ou dois níveis tira a legenda, e o seu cérebro vai se acostumando com esse novo software, e aí vai chegar um momento mágico, que geralmente se dá quando você está num nível intermediário, com 200 horas de aula, de conteúdo, que você chega à aula e conta para o professor que sonhou em inglês, ou estava num restaurante, havia uma música no fundo e de repente entendeu a letra. É um momento interessante.

Participou de uma reunião e entendeu 70%, mandou bem numa apresentação. Aí a coisa começa se retroalimentar, seu nível de motivação vai lá para cima porque você deu os passos adequados no nível certo, e a carga de conteúdo foi apropriada para aquele momento.

Inglês em escola pública e tecnologia

Aulas viram games porque atenção dos alunos é muito curta

UOL - Você é uma pessoa que gosta de cultura pop, quadrinhos, séries. Essa característica ajuda a entender um jovem aluno e ter uma relação melhor com esse público novo?

Arthur Bezerra - Esse é um tempo feliz para o nerds né? Se você olhar para o tipo de filmes, a profusão de gibis, eu sou louco por gibi também, as novelas gráficas, é uma época maravilhosa, ou seja, as referências pop são onipresentes.

Independentemente do corte geracional, sempre haverá referências pop de entretenimento, e o que nós temos feito é tentar trazê-las para o dia a dia do aluno para fazer com que os índices de engajamento e relevância subam. Usamos muito o processo de gameficação, porque o nível de atenção deles é muito curto.

Você mencionou que é preciso ter certa condição financeira e as condições ideais para um aproveitamento ainda melhor. Qual a sua avaliação do ensino de línguas na rede pública no Brasil? Como poderia ser melhorado?

O Estado precisa melhorar, e a tecnologia democratiza tudo, dá mais acesso. O Estado precisa trabalhar no nível de formação dos professores, por meio de conteúdo, sites, acessos pelo smartphone, tablets. Permitir que os professores tenham uma abundância maior de conteúdo e de formação.

Usar a tecnologia com sabedoria porque esse é um ponto crucial. A tecnologia e a concorrência fazem com que os custos sejam sensivelmente reduzidos.

Você consegue ter acesso a muito conteúdo gratuito. E se você tem uma condição financeira menos favorecida, existe muita coisa disponível que, se não vai lhe permitir ter um nível de proficiência avançado, vai lhe permitir ter um primeiro contato com o idioma.

O Estado tem de usar isso para a formação de professores e para permitir acesso aos alunos também, independentemente de estarem no semiárido do Nordeste ou no Centro-Oeste, a tecnologia permite acesso a todos. Até os índios no Alto Xingu estão tendo acesso. O Estado tem de fazer um bom uso da tecnologia.

Você disse que o Estado deve preparar melhor os professores. Você vê alguma participação da iniciativa privada nesse processo de qualificar o ensino público no Brasil?

Sim, nós precisamos comentar mais nesse nosso amado país as PPPs, as parcerias público-privadas. Um bom exemplo disso é o que o Berlitz faz na Alemanha. Fizemos uma parceria com o governo alemão para ajudar os refugiados sírios, quando houve aquela imigração em massa, mais de um milhão.

O governo alemão nos pediu ajuda, nós oferecemos as aulas a preço basicamente de custo e usamos em alguns casos até as instalações de escolas públicas na Alemanha, o governo cedeu as instalações, e nós praticamente cedemos a tecnologia, os conteúdos, materiais e professores.

E esse é um belo exemplo do que gostaríamos de aplicar mais no Brasil, mas sabemos que precisamos ter uma clareza melhor na regulação de como vai ser essa PPP, especialmente no momento sensível em que vivemos. Queremos ajudar, há vontade, temos geração de conteúdo e tecnologia, mas precisamos ter certeza de que as coisas vão ser feitas com muita transparência.

Alguma coisa em vista, alguma ideia de como fazer isso?

Estamos neste momento em conversações com o Instituto Ayrton Senna e uma outra instituição, Aliança Futuro da Criança, e tentando desenhar um modelo e um parceiro correto para nos engajarmos mais nesse sentido aqui no Brasil.

Você mencionou o problema de relação com o governo. Gostaria que falasse, de maneira geral, como a corrupção no país atrapalha o ambiente de negócios.

Temos contratos com entidades públicas no Brasil e, graças a Deus, nunca tivemos nenhum constrangimento, outrossim nem participaríamos. O Berlitz é a favor de estabelecer relações com os segmentos mais distintos do ambiente, sejam eles do terceiro setor, em geral privados, mas também com a área pública.

Temos 105 anos de Brasil e já vimos muitas crises Temos a plena certeza de que o Brasil é uma jovem democracia, de que isso faz parte do nosso desenvolvimento, o Brasil é maior do que tudo isso, e nós vamos sair bem do outro lado. Acho que faz parte do nosso crescimento.

Conversando com uma colega francesa com experiência pelo mundo, ela me disse o seguinte: ‘Já trabalhei em vários países, o último país antes de vir para o Brasil, com todo o respeito, foi a Rússia. O grau de corrupção lá é maior do que o Brasil. Me causa muita estranheza, vocês parecem um adolescente, extremamente crítico consigo mesmo, vocês só olham as coisas negativas’.

Ela me falou que tudo vai ficar bem porque nós somos uma jovem democracia. E como todo adolescente, a gente tem variações de humor muito fortes. Hoje está tudo horrível, o nosso sentimento é de que o país está perdido e não tem salvação. Mas no outro dia vem uma nova disposição e vem um exemplo ou vem um evento, e aí passamos a acreditar que tudo vai dar certo e vai ser melhor.

Esse é um sentimento de jovem, em que um dia está tudo horrível e no outro tudo é possível. Acho que ela expressou bem esse estado de país que está em desenvolvimento. Nós somos jovens, vamos passar por isso. Acho que um lado positivo também é que tudo está sendo feito, no geral, sem violência extrema, como vemos em revoluções em outros países. Faz parte, estamos limpando a casa.

Precisa ser professor nativo?

O Berlitz Centro de Idiomas é assim

  • Fundação

    No mundo, 1878 (140 anos); no Brasil (1912, Rio de Janeiro)

  • Funcionários

    300 no Brasil, 20 mil no mundo

  • Alunos

    No Brasil, atualmente 7.500 (desde a fundação: cerca de 250 mil); no mundo, 300 mil em 70 países (desde a fundação: mais de 5 milhões)

  • Escolas

    No Brasil, 14 (+ 2 previstas neste ano); no mundo, 500

  • Participação do Brasil

    O país representa cerca de 3% dos resultados globais da empresa

  • Principais concorrentes

    Cel Lep, Alumni e Cultura Inglesa no presencial, EnglishLive e Open English no online

Para ter sucesso, saiba quem você é, o que quer e se prepare

Você começou como professor. Na sua avaliação, um bom professor de inglês precisa ser nativo? Ou precisa ter morado no exterior?

Arthur Bezerra - Se pensarmos de uma forma mais racional, os alunos em geral não precisam adquirir um nível ultra-avançado, nem precisam ter a pronúncia cristalina de uma Kate Middleton, a princesa inglesa. As pessoas, no fundo, precisam tem uma comunicação funcional, um inglês básico que permita que elas se comuniquem com clareza.

Muitas vezes esse é um problema do brasileiro, muitas vezes as pessoas esperam adquirir um nível de perfeição tão alto que elas não se comunicam, e um conselho meu simples é que você se expresse. Comece falando, obviamente não numa sala de reuniões para um conselho, mas no dia a dia, se você tem algum colega do exterior com você, exponha-se, cometa erros e dê a cara para bater porque você tem de praticar. A prática é soberana, tem de treinar.

Agora, honestamente falando, se você é um alto executivo e precisa de um grau de perfeição maior, uma sofisticação maior da comunicação, talvez chegue um momento em que você realmente precise de uma exposição mais precisa, de uma sintonia fina melhor, especialmente para entender sotaques, expressões idiomáticas, contexto. Se temos um aluno que está sendo preparado para uma expatriação para uma rede do Texas ou o sul dos EUA, é de bom tom até buscar professores que sejam nativos ou que tenham vivido nessa região para que ele tenha uma agilidade cultural maior além da proficiência.

Você começou como professor e hoje é presidente do Berlitz no Brasil. Que dicas de carreira você daria para um jovem profissional que está começando?

Você precisa saber quem você é. Não use como justificativa o “sou muito jovem, terei muitos caminhos e muitas possibilidades”. Conhece-te a ti mesmo, há de se ter um autoconhecimento cada vez mais profundo.

O profissional que vai ter sucesso hoje e sempre tem de ter um senso de consciência muito forte, de quem ele é. ‘O que eu quero, que coisas eu faço bem, onde posso agregar mais valor?’. Porque posso ser bom em muitas coisas, mas não ser em coisas pelas quais as pessoas estejam dispostas a pagar.

Acho que, se o jovem tem essa clareza de quem ele é e o que quer, ele já sai na frente, numa diferença muito grande. Você vê muitos jovens perdidos, que não sabem o que querem, não sabem se jogam futebol ou entram numa grande corporação. Precisa ter clareza.

Gosto muito quando Maquiavel falou que sucesso é uma combinação de virtude e fortuna [sorte]. Maquiavel dizia que seria uma combinação das suas virtudes, da sua preparação, da sua formação, e você fazendo o seu melhor, preparando-se para esse objetivo que você escolheu.

E fortuna. Nessa minha transição, eu comecei como office-boy, e algumas coisas foram aparecendo, as oportunidades vão aparecendo e você tem de estar preparado para elas.

Alguém já disse que a oportunidade favorece os mais preparados. Então lembra que a vida, talvez o sucesso, seja uma combinação entre a sua capacidade, a sua preparação e a fortuna.

Fortuna você pode entender como sorte, destino, favor divino, que é no que eu acredito. Independentemente da sua crença, que você esteja preparado para as oportunidades. Pelo menos aos 49 anos esse é um pouco do aprendizado que eu tenho tido: ter uma clareza de quem você é e de para onde você quer ir, preparar-se e estar pronto para agarrar as oportunidades que surgem.

E a proficiência, falar bem inglês é uma parte importante disso. Muitas pessoas me perguntam se devem aprender uma terceira língua, o alemão ou o francês. A minha pergunta é: você fala bem inglês? Entenda-se por falar bem se você consegue mandar bem numa apresentação, numa negociação, escrever um e-mail com clareza. Você consegue? ‘Ah não’. Então cumpra essa etapa primeiro, fale bem inglês e depois pensa num outro idioma.

Senão você vai falar três línguas no básico, e isso não vai levá-lo a lugar nenhum.

Eu fecho com uma frase do filósofo Wittgenstein: ‘Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo’. Amplie os seus limites de mundo por meio de uma excelente comunicação, seja no inglês, no francês e no português também. Amplie os seus limites.

E seus próximos passos?

Tendo cumprido com êxito, e junto com a equipe, essa missão dada há três anos, preparo-me para outro desafio dentro no grupo, que revelarei em breve, e conduzo minha sucessão agora.

Keiny Andrade/UOL e Arte/UOL

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