O fundador e presidente da Cacau Show, Alexandre Costa, conta que o começo da empresa foi com uma senhora que fazia ovos de Páscoa caseiros, revela a influência da moda nos chocolates, comenta sua participação em programas de culinária na TV e dá dicas para empresários: não aceite "não" como resposta. Leia a seguir:
Minha mãe começou esse negócio. Eu tinha 14 anos. Ela desistiu porque vendeu muito chocolate, e o fabricante não conseguiu entregar –ela tinha também outras linhas de produtos, a Cacau Show era só um dos catálogos dela. Havia lingeries, roupas de frio, utensílios domésticos etc.
Depois de três anos, eu fui recomeçar. Fui vender ovos de Páscoa. Procurei um fabricante nas páginas amarelas –o avô do Google–, fiz os preços, coloquei as revendedoras para vender os chocolates. E cometi um erro no de 50 gramas, porque eu coloquei no catálogo, na tabela de preços. Vi que o ovo de meio quilo era a metade do preço do de 1 kg do fabricante, e pensei: o de 50 gramas deve ser uma proporção.
No dia de fazer o pedido, o fabricante falou que não tinha. E como é que eu não ia entregar os ovos de 50 gramas? Eu me virei e encontrei a dona Cleuza [Trentin, que fazia ovos de Páscoa caseiros].
Eu tinha 17 anos, peguei um motorista da empresa dos meus pais e fui procurar de atacado em atacado quem pudesse me vender, me ajudar com os 2.000 ovos, porque eu não queria que meu primeiro empreendimento não desse certo, até porque eu era o mais novinho da família, tinha essa coisa de querer fazer direito.
Encontrei a dona Cleuza, e ela me ajudou. Falou: "Filho, compra as barras, as embalagens". Fui pedir dinheiro para o tio Valdir, US$ 500, troquei pelo dinheiro da época, peguei o chocolate, fui para casa da dona Cleusa e, em dois dias e uma noite, fizemos os chocolates, entreguei tudo e aprendi uma profissão.
Foi aí que eu falei: "Espera aí. Por que o chocolate fino é 30 vezes mais caro do que um chocolate normal? E se vender só por três vezes mais, será que não dá?" E foi aí que encontrei o segmento, que é o segmento de acesso, com qualidade artesanal, feito com carinho, e isso que realmente tem sido a felicidade e a construção toda dessa minha vida, da minha família.
Até tendência de moda é observada para lançar chocolate
Temos investido não só em chocolate, mas, de uma forma mais ampla, em gastronomia e também até em moda. Lançamos o Choco Street, que é uma barra de chocolate com cores e sabores distintos, muito inspirada nessa nossa relação com o [grafiteiro Eduardo] Kobra, com a street art, isso tem muito a ver também com as tendências de moda.
As cores da nova coleção das embalagens foram inspiradas no que a gente está vendo que vão ser as cores na próxima moda. O design da embalagem é algo muito importante para o nosso negócio: hoje, praticamente metade do que a gente vende são presentes e metade, para consumo.
O presente precisa ter esse valor agregado, e a arte e a moda realmente nos ajudam a agregar mais valor para a marca.
Presença constante em programas de culinária
Já fui convidado para apresentar programa de TV, mas realmente não existe agenda disponível. Eu tenho que tocar uma empresa de 10 mil pessoas –são 2.000 nas nossas fábricas e 8.000 no varejo. Estes não são nossos funcionários, são funcionários dos nossos franqueados, mas a gente costuma dizer que são funcionários do sistema. Então, definitivamente, não há agenda para isso.
Agora, em todos os programas de que tenho participado, sou convidado para dar aula sobre chocolate. E é muito interessante. A chocolateria é uma arte, é algo realmente bastante delicado e complexo. Trabalhar com chocolate, a precisão de temperatura, a precisão de tempo, é diferente de trabalhar com a confeitaria normal e também diferente de trabalhar com a gastronomia como um todo. Tem sido uma delícia participar, é muito bom ver chefs renomados, os próprios apresentadores, que, no intervalo, vêm me perguntar coisas.
As pessoas têm cada vez mais reconhecido a Cacau Show como uma especialista de chocolates desde o cacau –e nós temos fazendas de cacau, e muitas pessoas não sabem de onde vem o chocolate, nunca viram sequer um fruto do cacau. É uma delícia para mim poder ensinar, falar sobre todo esse processo, seja para um telespectador que não conhece muito, seja até para chefs renomados que também não têm muita profundidade nesse tema.
Dica para empresário: não aceite "não" como resposta
Há muita gente que só sabe fazer as coisas contratando consultores. Ok, nada contra, acho que é bom ter consultores, mas você também tem que procurar. O primeiro contrato da Cacau Show de franquia, nós procuramos na internet, encontramos lá um modelo e fizemos. Não tínhamos dinheiro para pagar um ótimo advogado.
É delicioso você ter problema. Eu digo que uma empresa é um jogo de adulto. Você tem o mercado, os seus recursos, tem que ver como é que você atende o desejo, como encanta o consumidor. O papel de um empresário é satisfazer vários "stakeholders" [participantes, parceiros]. Não adianta mais pensar só no acionista, porque se o acionista estiver feliz e o cliente não estiver feliz, amanhã o acionista vai estar infeliz, porque o negócio não vai crescer.
Não adianta deixar o cliente feliz e o funcionário não feliz, o colaborador não feliz, porque ele não vai ficar lá. Ou fazer tudo isso e degradar o meio ambiente, ou não ser justo com a sociedade, com os impostos. A gente tem que tentar fazer tudo isso de uma forma muito equilibrada. Esse é o trabalho do empreendedor: fazer todos esses "stakeholders" satisfeitos.
Está difícil para todo mundo, cada um tem que encontrar seu caminho. E a boa notícia é que existem caminhos, só que a gente tem que começar não aceitando o não como resposta.