TV, som, lâmpadas são produtos associados imediatamente à Philips. Mas a empresa está mudando isso. Desfez-se de marcas e está focada em saúde e bem-estar. O CEO da empresa no Brasil, Renato Garcia Carvalho, fala sobre esse processo:
A Philips ficou muito conhecida no Brasil por diversos produtos. Fizemos discos, depois TV e áudio. Em 2011 mais ou menos, houve decisão estratégica de mudar o foco. Vendemos a unidade de televisores em 2011. Na época, no Brasil, era mais de 50% do faturamento da empresa.
Depois, vendemos a unidade de áudio e vídeo e recentemente a gente fez a separação da empresa de iluminação. Fizemos um IPO [abertura de capital na Bolsa] no ano passado, em vez de só vender para um grande concorrente. Desde o ano passado, já vendemos cerca de 45% das ações dessa empresa de iluminação. Então, na verdade, falta pouco para a gente perder a maioria das ações. E a tendência é essa. Fizemos um acordo de deixar a marca Philips, assim como também ainda tem na TV e em equipamentos de som, cada qual respeitando determinado acordo que foi feito, mas a marca está lá.
Fritadeira de batata sem óleo é saúde
A Philips agora é uma empresa 100% focada em saúde. Tudo que a gente faz, de alguma forma, tem que contribuir para a melhoria da saúde. Seja em prevenção, em que podemos fabricar um produto como uma Airfryer, fritar sem óleo para melhorar a saúde, seja diagnóstico, tratamento, home care (tratamento médico em casa).
Não que seja um demérito fazer um produto A ou B, mas a gente entendeu que produzir uma televisão não estava necessariamente contribuindo para o bem-estar da população. A gente achou menos estratégico isso, ou um rádio. E começamos a diversificar
Parceria público-privada na Bahia
Temos uma parceria público-privada (PPP) na Bahia de que nos orgulhamos. Conseguimos mudar o sistema de saúde para aquelas pessoas.
É difícil mudar a saúde no Brasil, porque ela ainda está separada em silos. É difícil quebrar esses silos porque existem interesses econômicos. Todo mundo está olhando só o seu
Dá para fazer, só que a gente tem que olhar o sistema como um todo, a indústria se colocar como parte do desafio. Se a indústria só quiser vender equipamento com mais alta tecnologia, não vai dar certo. Se o hospital não quiser colaborar com outros hospitais porque vai querer proteger seu paciente e sua marca, também não vai dar certo. Se a operadora de saúde só quiser olhar só o lado dela, não vai dar certo.
Para quebrar isso, a gente teve de oferecer na PPP uma solução completa. Foi um trabalho de anos.
Hoje você tem acesso a equipamentos e a tecnologias no interior da Bahia como se estive no hospital Albert Einstein em São Paulo. E fazendo dinheiro, não é uma doação, não é uma caridade
Existe muito desperdício. Se conseguir no começo, meio e fim baixar esse desperdício, todo mundo ainda consegue ter os retornos esperados, e a gente provê uma saúde melhor para o paciente. Só que essa fase é difícil. Temos de sair do modo de discussão e realmente começar a implementar isso.
Estamos analisando projetos em que possamos ser sócios em hospitais no futuro próximo. Porque só assim se consegue quebrar isso.
Estamos falando de acesso à tecnologia. Hoje você pede um café no celular. Você liga, e o cara já sabe toda sua vida, ele tem um histórico de seu consumo. Se você tiver um problema de saúde, qual o seu tipo sanguíneo? Não tem em nenhum lugar.
Há informações de tudo sobre nós, quanto você tirou de dinheiro, o que você fez, para onde você foi, quais são suas viagens, as fotos estão no mapa, reconhece a face, esse é seu amigo e esse não é, você gosta de comprar esse tipo de roupa.
Mas não dá para saber o seu tipo sanguíneo. Você tem um problema, vai a um hospital na zona sul e se trata. Passou uma semana você teve o mesmo problema, mas você está na zona norte. O médico lá não sabe nada o que aconteceu na zona sul. E isso gera desperdício.
Tudo se modernizou, mas no hospital é tudo antigo. O cara que está a ponto de ter um infarto ainda vai ao hospital, senta naquela fila, pega uma senha e fica esperando do lado do outro que teve uma dor de cabeça. Esse é o nosso sistema, é óbvio que está errado
Como a revolução de tecnologia ajudou a saúde? Ela ainda não trouxe o impacto que teve em redes sociais, em bancos. A gente precisa ajudar a usar a tecnologia da informação em benefício da saúde. Você tem barreiras políticas, regulatórias, não é só um desafio do Brasil, mas isso é inevitável. Assim como a reforma da Previdência, é um negócio que você tem que encarar porque uma hora a gente vai pagar essa conta.
A saúde não é sustentável. Ou a gente começa a usar isso de uma forma eficaz, com todos os recursos que existem, ou a gente vai continuar vendo pessoas morrendo em porta de hospital. E isso não é culpa de um ou de dois, é o sistema que não funciona
Existem exemplos positivos entre empresas. Mas na sua grande maioria você tem o plano de saúde tentando aumentar o preço porque quer ganhar mais. O hospital tem um reembolso desse plano de saúde quando ele presta um serviço, e a forma como o reembolso é feito não necessariamente está ajudando o sistema como um todo. Se você olhar a quantidade de exame de ressonância magnética que é feita versus os casos que de fato precisavam de ressonância, é assustador.
O sistema está fazendo isso, e aí se gasta muito dinheiro onde não se precisa. Por outro lado, em saúde básica, a gente não consegue fazer o que tem que ser feito. Por isso falamos muito em prevenção, em vida saudável. Você tem que evitar que o cara vá ao hospital, tem de desospitalizar rapidamente.