A Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 causaram a abertura de hotéis além da necessidade atual do país. Mas, mesmo assim, o Brasil está abaixo da média mundial de oferta de quartos e, com uma boa estrutura, deve crescer muito, avalia Patrick Mendes.
Há uma guerra de preços, com concorrência forte. Tivemos dois eventos grandes nos últimos cinco anos que aumentaram significativamente a oferta hoteleira. Entre a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, chegaram muitos hotéis ao Brasil. Uma oferta superior à demanda. Hoje a demanda está retomando pouco a pouco, mas vai demorar um tempo ainda para haver uma demanda adequada à oferta."
Segundo ele, na Europa, há 12 ou 13 apartamentos de hotel por mil habitantes. Nos EUA, 16, 18 apartamentos por mil habitantes. No Brasil, menos de 3. "Então, há muito potencial no país de crescimento no turismo corporativo, de eventos e de lazer em resorts, praias e turismo cultural. Mas para isso não basta fazer um hotel sozinho."
Para o turismo crescer, você precisa de infraestrutura, de aeroportos, de voos, de trem, de estrutura rodoviária, de promoção do turismo
Riquezas do Brasil têm de ser mais conhecidas
O CEO da Accor diz que as riquezas do país precisam ser mais mostradas para o mundo.
"Eu não sou brasileiro, mas virei um brasileiro defensor do Brasil, e muita gente me questiona: 'mas o que você, como francês, está fazendo aqui no Brasil?'. Eu adoro o Brasil, acho que aqui tem muito potencial, tem muito para fazer, e as riquezas do Brasil, tanto a corporativa como o lazer, praias, cultura, Amazônia, tudo o que existe permitiria haver muito mais turistas de negócio e de lazer."
Ele cita vários pontos turísticos de que gosta. "Viajei pelo Brasil muito mais do que muitos brasileiros. Primeiro porque temos 250 hotéis, e eu tento visitar quase todos. O Pantanal me impressionou, a Amazônia, Foz do Iguaçu, Rio, Aparados da Serra, Gramado, Lençóis Maranhenses, São Miguel dos Milagres, Trancoso, Chapada dos Guimarães. São vários locais que visitei e achei fantásticos."
O Brasil tem um potencial enorme, um acolhimento enorme, pessoas dedicadas que nós devemos estruturar e promover para realmente fazer deste país uma riqueza mais conhecida no resto do mundo.
Conscientização de autoridades
Mendes diz que a Accor está trabalhando com o Ministério do Turismo e com prefeituras para promover cidades importantes dentro e fora do Brasil. "Isso são elementos positivos, há uma conscientização dos órgãos públicos de que turismo é uma indústria importante, que pode gerar emprego e trazer grande resultado para o futuro."
Outro ponto que está sendo melhorado é a qualidade da infraestrutura, na sua visão. "A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos ajudaram muito. O Rio é impressionante. Tem transportes rodoviários, aeroportos e hotéis de grande qualidade. São Paulo também."
Para o CEO, os dois grandes eventos também ajudaram a melhorar a imagem do país, apesar dos casos de violência. "Copa e Jogos Olímpicos mostraram que o Brasil consegue fazer coisas maravilhosas. Agora temos que capitalizar sobre isso."
Crise, segurança e burocracia
Patrick Mendes aponta também problemas que seguram o crescimento do turismo brasileiro. A crise econômica é o destaque.
"A hotelaria sofre há três anos problemas muito críticos. Viagem e hotéis é um dos gastos que você elimina logo no início. Temos menos viagem de turismo, viagem de negócio e viagem de evento. A primeira coisa que devemos melhorar é a atividade econômica do Brasil."
Em segundo lugar, vem a segurança. "Segurança, para hotéis, para turismo, é fundamental. E aqui ainda é um problema sério para nós. Quando estou lá fora, as pessoas questionam ainda, apesar de muitas melhorias, muitas cidades fizeram um esforço grande, ainda temos problemas de segurança e não foram comunicados ao resto do mercado os esforços feitos."
A terceira coisa a melhorar no Brasil são os processos administrativos, diz Mendes. "A burocracia complica fazer negócio no país. Isso é um elemento que também dificulta. Nós temos que resolver esses assuntos para facilitar negócios de fora, facilitar novas empresas que vão criar produção, serviços, empregos."