Os carros são caros no Brasil porque falta competitividade, e isso acontece por causa das regras trabalhistas atuais e pelo excesso de impostos. Essa é a visão do presidente da General Motors Mercosul (que inclui Brasil e Argentina), Carlos Zarlenga. Ele espera que a reforma trabalhista proposta pelo governo melhore isso.
A reforma trabalhista que o governo está fazendo agora vai gerar um enorme impacto de competitividade. Não só pela parte de maior eficiência na mão de obra, mas também num marco jurídico que dê mais tranquilidade. Isso impacta muito o custo, vai ajudar muito
Zarlenga não diz exatamente em quanto isso iria diminuir o preço dos carros. "Vai variar muito, mas vai ser um componente bem importante. Hoje, num carro, 40% a 50% do custo é mão de obra. A reforma vai gerar grande eficiência nisso, e não necessariamente vai reduzir salário, mas vai gerar mais eficiência no processo e vai eliminar perdas."
Ele vê a reforma como positiva principalmente porque dá aos acordos coletivos força de lei e segurança jurídica. "Você sabe o que vai acontecer. Isso é muito importante porque tem um custo grande para a indústria, não só automotiva, em geral no Brasil, que enfrenta essa insegurança. Esse é um ponto muito, muito importante."
O executivo também afirma que nossos vizinhos argentinos precisam de algo parecido. "A Argentina está precisando também de uma reforma desse tipo para levar os custos para baixo. Depois, tudo o que é infraestrutura, logística, portos, rodovias."
Impostos de 57%
O carro no Brasil tem uma carga de 54% a 57% de impostos. Na Argentina é praticamente igual, 55%, diz o presidente da GM .
Em comparação com outros países, é muito diferente. Isso faz uma diferença muito grande no preço dos carros. Para sermos competitivos globalmente, precisamos de 20% a 30% de redução do custo total do produto
Ele diz que os impostos em outros países chegam a ser metade do que é cobrado no Brasil. "Não vou falar sobre estratégia de tributação do governo, prefiro não falar nada. O que eu estou dizendo é que frente à pergunta de que por que os carros estão nesse nível de preço, eu diria que as duas razões principais são: o tipo de tributação e a competitividade."
Setor precisa de competitividade, e não incentivos
Para Zarlenga, a indústria de carros não precisa de incentivos fiscais (reduções de impostos) eventuais para se sustentar, como aconteceu nos últimos anos.
É melhor ganhar eficiência, o que daria um boom nas exportações. Brasil e Argentina têm capacidade de produzir muito: fora da crise, chega a 5 milhões de carros por ano. "Essa escala é suficiente para ser competitivo globalmente, comparável com México, Coreia, Alemanha, Espanha."
Como a gente não consegue exportar para o resto do mundo? A resposta é: falta competitividade. Temos falado muito para os governos na Argentina e no Brasil: o mais importante não é procurar incentivos fiscais, mas competitividade
Ele defende que regras em Brasil e Argentina sejam unificadas. "Precisamos fazer uma convergência total ainda das regras nos dois países. Há diferenças de segurança, emissões, combustíveis, todo tipo de regulação que faz com que você não consiga gerar eficiência. Circulação de mercadorias ainda não é eficiente, as alfândegas têm que trabalhar muito para acelerar os processos."