Nova lei, carro mais barato?

Chefe da GM defende reforma trabalhista, diz que 50% do custo do carro é mão de obra e preços podem cair

Armando Pereira Filho Do UOL, em São Paulo
Simon Plestenjak/UOL
Simon Plestenjak/UOL Simon Plestenjak/UOL

O argentino Carlos Zarlenga, presidente da General Motors Mercosul, unidade que inclui Brasil e Argentina, diz que a reforma trabalhista é necessária e vai dar competitividade à indústria e ajudar a diminuir o custo dos carros no país.

Dono de um Camaro e piloto de corridas, diz que o brasileiro é apaixonado por carros, acha que no futuro de veículos compartilhados, a GM também vai ganhar com aluguel de frota. Em entrevista da série UOL Líderes, diz que vê o Brasil promissor no combate à corrupção.

Reforma trabalhista vai dar competitividade ao Brasil

Os carros são caros no Brasil porque falta competitividade, e isso acontece por causa das regras trabalhistas atuais e pelo excesso de impostos. Essa é a visão do presidente da General Motors Mercosul (que inclui Brasil e Argentina), Carlos Zarlenga. Ele espera que a reforma trabalhista proposta pelo governo melhore isso.

A reforma trabalhista que o governo está fazendo agora vai gerar um enorme impacto de competitividade. Não só pela parte de maior eficiência na mão de obra, mas também num marco jurídico que dê mais tranquilidade. Isso impacta muito o custo, vai ajudar muito

Zarlenga não diz exatamente em quanto isso iria diminuir o preço dos carros. "Vai variar muito, mas vai ser um componente bem importante. Hoje, num carro, 40% a 50% do custo é mão de obra. A reforma vai gerar grande eficiência nisso, e não necessariamente vai reduzir salário, mas vai gerar mais eficiência no processo e vai eliminar perdas."

Ele vê a reforma como positiva principalmente porque dá aos acordos coletivos força de lei e segurança jurídica. "Você sabe o que vai acontecer. Isso é muito importante porque tem um custo grande para a indústria, não só automotiva, em geral no Brasil, que enfrenta essa insegurança. Esse é um ponto muito, muito importante."

O executivo também afirma que nossos vizinhos argentinos precisam de algo parecido. "A Argentina está precisando também de uma reforma desse tipo para levar os custos para baixo. Depois, tudo o que é infraestrutura, logística, portos, rodovias."

Impostos de 57%

O carro no Brasil tem uma carga de 54% a 57% de impostos. Na Argentina é praticamente igual, 55%, diz o presidente da GM .

Em comparação com outros países, é muito diferente. Isso faz uma diferença muito grande no preço dos carros. Para sermos competitivos globalmente, precisamos de 20% a 30% de redução do custo total do produto

Ele diz que os impostos em outros países chegam a ser metade do que é cobrado no Brasil. "Não vou falar sobre estratégia de tributação do governo, prefiro não falar nada. O que eu estou dizendo é que frente à pergunta de que por que os carros estão nesse nível de preço, eu diria que as duas razões principais são: o tipo de tributação e a competitividade."

Setor precisa de competitividade, e não incentivos

Para Zarlenga, a indústria de carros não precisa de incentivos fiscais (reduções de impostos) eventuais para se sustentar, como aconteceu nos últimos anos.

É melhor ganhar eficiência, o que daria um boom nas exportações. Brasil e Argentina têm capacidade de produzir muito: fora da crise, chega a 5 milhões de carros por ano. "Essa escala é suficiente para ser competitivo globalmente, comparável com México, Coreia, Alemanha, Espanha."

Como a gente não consegue exportar para o resto do mundo? A resposta é: falta competitividade. Temos falado muito para os governos na Argentina e no Brasil: o mais importante não é procurar incentivos fiscais, mas competitividade

Ele defende que regras em Brasil e Argentina sejam unificadas. "Precisamos fazer uma convergência total ainda das regras nos dois países. Há diferenças de segurança, emissões, combustíveis, todo tipo de regulação que faz com que você não consiga gerar eficiência. Circulação de mercadorias ainda não é eficiente, as alfândegas têm que trabalhar muito para acelerar os processos."

A reforma trabalhista e o preço do seu carro

Montadoras devem alugar carro compartilhado no futuro

A GM vê a tendência de uso de carros compartilhados no futuro como uma oportunidade de negócio. O presidente da empresa no Brasil e Argentina, Carlos Zarlenga, diz que os serviços de compartilhamento devem gerar muita receita.

"Hoje nós participamos nas unidades vendidas. No futuro, vamos participar nos quilômetros rodados [cobrando pelo compartilhamento]. Hoje não é todo mundo que tem acesso ao veículo. Na economia compartilhada, vai haver muito mais acesso. Vamos ter uma oportunidade de receita enorme."

Segundo ele, a ideia é explorar serviços de transporte.

Para nós, o que chamamos de 'transportation as a service' (serviço de transporte compartilhado e cobrado) provavelmente é uma das maiores oportunidades que teremos desde o começo da nossa indústria.

Questionado se a GM deixaria de ser só uma fábrica no futuro e passaria a alugar carros também, ele disse que está tudo em aberto.

"Acho que esse espaço vai ficar menos claro. Você vai ter todo tipo de interações nesse sentido. Mas o principal é que a receita é muito maior e o negócio é muito maior quando você pensa em termos de 'transportation as a service' e pensa em termos de quilômetros rodados. E nesse sentido vai ter muito mais oportunidade para todo mundo."

Carros elétricos x ronco de um motor V12

Zarlenga diz que é "quase inacreditável" a velocidade das mudanças tecnológica na indústria automobilística, com relação a conectividade, carros autônomos e veículos elétricos.

"Os carros elétricos vão chegar ao Brasil mais rápido do que a gente espera. Na GM, não tenho nada para anunciar nesse momento, mas vão chegar." 

Mesmo com essas mudanças, ele, que gosta de carrões esportivos e tem como hobby as corridas, diz que o charme dos veículos a combustão não vai desaparecer.

Quando há uma paixão que desperta o consumidor, sempre há espaço para aquela tecnologia antiga, como acontece com relógios suíços. O carro é um elemento de paixão. Um motor V12, com o som que ele tem, vai continuar despertando paixão por muito tempo mais

GM saiu da Europa, mas fica na América do Sul

O presidente da GM Mercosul nega que a empresa possa sair da América do Sul, como fez na Europa, ao vender a Opel. "A GM tinha um market share pequeno (com a Opel na Europa), número 6 ou número 7 no mercado. E esse é um mercado no qual se você não é número 1 ou número 2 é difícil de criar escala e ganhar."

"Estamos muito interessados em participar naqueles mercados onde a gente pode ganhar, onde nosso investimento vai ter o retorno que estamos procurando. Temos três unidades de negócio na região e somos número um. A América do Sul é uma área de absoluta importância, estratégica, quase fundamental para a GM."

Brasileiro é apaixonado por carro

Já trabalhei em quase 20 países do mundo, e a coisa aqui é interessante. O brasileiro tem paixão pelo carro, realmente é  uma relação muito importante com o seu carro. É uma paixão que vai para os dois lados também. Quando a coisa não funciona, fica difícil

Segundo o presidente da GM, o brasileiro valoriza quatro itens num carro: design; dirigibilidade (velocidade, aceleração, sensação ao volante); tecnologia; e conectividade.

Fábricas podem ser locadoras também

Corrupção afeta emergentes, mas futuro do Brasil está mudando

O pior efeito da crise política é o abatimento do consumidor, diz Zarlenga. "Para mim e para a nossa indústria, o principal impacto que a política tem é a geração de confiança. O carro é, depois da sua casa, o bem de maior custo econômico que você vai comprar. É um produto que exige um compromisso importante do consumidor. Se não tem confiança, as pessoas vão adiar esse consumo."

"As dificuldades políticas que o Brasil teve nos últimos períodos acentuaram a crise econômica, e atingiram nosso setor ainda de forma mais forte com essa queda de confiança no futuro. A partir da metade do ano passado, começamos a ver um crescimento da confiança do consumidor."

A crise política é forte, mas do jeito que está sendo resolvida faz a GM confiar no processo democrático, segundo seu presidente.

A mudança que aconteceu no Brasil está sendo sempre no marco democrático. Então a gente continua investindo porque não vemos uma grande crise política de governabilidade no futuro do país

Ele prevê que o crescimento econômico seja retomado neste ano.

Corrupção é problema nos países emergentes

Segundo Zarlenga, a corrupção é um problema difícil na maioria das economias emergentes, mas ela está sendo combatida no pais.

O importante é a redução da corrupção. O processo que você vê no Brasil hoje é algo que realmente muda a perspectiva do futuro. É o Brasil começando a mudar o Brasil. Nós olhamos isso de forma muito positiva e é uma das razões pelas quais vamos continuar investindo aqui

 

O Brasil está começando a mudar o Brasil

A General Motors é assim

  • Ano de fundação no país

    1925

    Imagem: Arte/UOL
  • Funcionários

    19 mil

    Imagem: Arte/UOL
  • Venda de carros em 2016

    445.642

    Imagem: Arte/UOL
  • Total de fábricas no país

    6

    Imagem: Arte/UOL
  • Porcentagem de mercado

    16,9% de market share

    Imagem: Arte/UOL
  • Produto de destaque

    Chevrolet Onix foi o carro mais vendido pelo terceiro ano seguido em 2016

    Imagem: Arte/UOL
Shutterstock Shutterstock

Rede social conquista clientes fiéis

Carlos Zarlenga, presidente da GM Mercosul, prevê que o futuro para a indústria automobilística, tanto quanto para as outras, será mobile. "A rede de lojas é fundamental, mas cada vez menos o consumidor vai em concessionária antes de tomar a decisão de comprar um carro. Por quê? Ele 'mora' no celular, mora em mobile. Aí tem muito para evoluir, para melhorar o serviço de venda, pós-venda, a interação que o cliente tem com a marca. Essa é uma grande oportunidade que estamos abraçando em tempo integral na GM." Temos uma área bem grande que faz social listening, acompanhando posts nas redes sociais que relatam problemas. Estamos indo diretamente na pessoa, mesmo se ela não contatou a gente. Quem teve um problema, e a gente resolve, acaba virando um cliente ainda com mais lealdade do que aquele que nunca teve um problema

Getty Images/iStockphoto Getty Images/iStockphoto

Na carreira, pegue sua mala e seja global

Com o mundo globalizado, se você quer fazer uma carreira como executivo bem-sucedido, tem de se desprender e trabalhar em qualquer lugar. Veja as dicas do presidente da GM para um jovem profissional: "Tudo começa com a perseverança. Você tem que realmente querer fazer isso. Aí você vai conseguir trabalhar muito e não vai sentir que foi trabalho, você vai gostar. Mas sem a perseverança e sem muito esforço nada realmente acontece." "O segundo ponto é olhar para o mundo. O mundo é um lugar grande, os negócios são globais. E você também tem que ser, você tem que pegar a mala e ir aonde a oportunidade esteja." "E terceiro é procurar mentores, procurar pessoas em quem você confie e acha que tem coisas para te ensinar e ficar perto delas ao longo da sua carreira. Perseverar, aprender, errar, corrigir, fazer de novo e continuar crescendo. Mais importante de tudo: tem que gostar, tem que desfrutar do caminho porque ninguém quer chegar à meta final. A meta final é ruim, o divertido é o caminho."

Divulgação Divulgação

Ele é piloto de corrida e tem um Camaro

O que o presidente da GM faz para se divertir? Pilotar carros, é claro. "Tenho experiência como piloto de corrida, gosto de carros esportivos, rápidos. Dos nossos, eu tenho um Camaro, que é sensacional, e quando eu o levo para a pista, para Interlagos ou outras pistas, é uma sensação inacreditável. Enquanto estiver vivo vou continuar comprando carros como o Camaro, isso sempre vai me atrair."

Simon Plestenjak/UOL e Arte UOL

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