
Pagamentos por crédito ou débito representaram 28,5% do consumo das famílias brasileiras no primeiro semestre de 2016, contra 27,5% no mesmo período de 2015.*
Com tantas ofertas no mercado, não adianta você se filiar a vários programas se não houver planejamento para aproveitar os benefícios deles. A seguir, veja como se organizar e usar os pontos a seu favor.
Esse é um dos principais conselhos dos especialistas para aproveitar bem o programa: não acumular apenas por acumular. Para a planejadora financeira Myrian Lund, da Lund Finanças, fica mais fácil ter clareza desses objetivos e ser fiel a eles se você os coloca no papel. "Fazer uma lista aciona a razão e ajuda a manter o foco no que quer, sem cair em armadilhas", diz a especialista.
As armadilhas apontadas por Myrian incluem até as promoções dos programas de fidelidade. É preciso usar a cabeça e não a emoção para avaliar se uma compra vale a pena. Quase nunca é bom sair do programado, ou seja, adiar a conquista do objetivo inicial para adquirir necessidades menores que aparecem aqui e ali. Antes de fazer a compra do que parece ser uma ótima oferta, pergunte-se se realmente precisa daquilo. Ficou na dúvida? Aguarde um ou dois dias, assim a tendência é tomar uma decisão mais racional. "A emoção é rápida e a razão é lenta", afirma.
A pressa é inimiga do bom resgate de pontos. No caso das milhas aéreas, o preço aumenta se feito em cima da hora. Para outros produtos, se o resgate é apressado, acaba sendo feito sem pesquisa, o que aumenta o risco de um mau negócio. E é sempre bom ter em mente que a compra não costuma ser imediata, ou seja, depois de feito o resgate, leva alguns dias para que o produto escolhido chegue às mãos do comprador.
Antes de fazer a compra pelo programa de pontos, informe-se sobre o valor do produto. Dependendo do preço e das condições que encontrar, avalie se vale mesmo a pena empregar aquela quantidade de pontos. Também é bom comparar com o valor em pontos de outros produtos. Algumas vezes, a economia está em guardar o que acumulou para uma compra com melhor relação custo/benefício.
Pode soar chato, mas empregar alguns minutos lendo as regras do programa de pontos ajuda a ter clareza de como fazer o melhor uso dos benefícios. Em geral, o regulamento informa que estabelecimentos participam do programa, se há maneiras de dobrar ou multiplicar os pontos e quando eles vencem.
"A quantidade de pontos que a pessoa precisa acumular deve casar com o vencimento deles", alerta Marcos Melo, professor de Finanças do Ibmec/DF e diretor da Valorum Gestão Empresarial. Não adianta planejar comprar uma viagem que vai demandar anos de acumulação, período em que muitos pontos devem vencer. Escolhidos os produtos que deseja, é preciso calcular quanto tempo levará, com seu gasto mensal médio, para juntá-los. E aí, verificar se é possível alcançar o objetivo.
O usuário pode verificar online quantos pontos acumulou ou, em alguns casos, deve apenas ficar atento aos e-mails que recebe, pois algumas empresas enviam o saldo periodicamente. Tudo isso para não deixar os pontos se perderem. "Às vezes, você junta, junta, junta e esquece", diz Myrian Lund, "com esse acompanhamento, a pessoa não corre o risco de fazer o esforço e não usufruir".
"Pode parecer óbvio, mas não se deve fazer compras só para acumular pontos. Cartão de crédito não é para pagar com o salário que virá, mas com o dinheiro que está na conta corrente agora", diz Marcos Melo, do IBMEC/DF. Atrasar ou parcelar o pagamento da fatura é um péssimo negócio. "Quem usa o cartão deve ter a capacidade de pagar a fatura e pagá-la inteira, porque senão começam a incidir juros sobre as dívidas, a pessoa continua comprando e perde totalmente o controle", alerta Flavius Vasconcelos, professor de Economia Brasileira da PUC Minas.
Programas de recompensa oferecem mais do que viagens: há uma grande variedade de produtos disponíveis, graças a parcerias com lojas de ramos diversos. Porém, pouca gente sabe disso ou sabe aproveitar essa vantagem. Segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF), 70,6% dos resgates no segundo trimestre de 2016 foram para passagens aéreas e 29,4% para outros prêmios.
Resgatar produtos como eletrodomésticos requer o mesmo planejamento que a troca por passagens aéreas. Por isso, ter objetivos claros, de preferência listados, diminui os riscos de "acabar antecipando uma compra ou adquirindo algo de que não precisa simplesmente porque tem os pontos para usar", diz Marcos Melo, professor de Finanças do Ibmec/DF e diretor da Valorum Gestão. A seguir, conheça alguns produtos que podem ser adquiridos com pontos e sair, finalmente, da sua lista de sonhos – ou de supermercado.
Entre as ofertas para aumentar a biblioteca, há livros infantis e adultos, de autores consagrados como Gabriel García Márquez e Milan Kundera, e de temas variados, que vão da autoajuda ao Direito.
Imagem: ShutterstockSofás, poltronas e cômodas vão exigir mais tempo para acumular, mas podem ser um bom negócio. Se o caso é mobiliar o imóvel, é possível encontrar até uma cozinha inteira para resgatar. Para quem se planejou para adquirir objetos que empenhem menos pontos, há enfeites e almofadas e, já que o fim do ano se aproxima, bolas de Natal.
Imagem: ShutterstockPensou em iniciar um negócio ou melhorar o que já tem com um equipamento novo, mas está sem dinheiro? Vale pesquisar entre as ofertas do programa de pontos também. Ali há materiais úteis em diversas atividades, como máquinas de solda elétrica.
Imagem: ShutterstockA ideia é suar só no exercício - e não para pagar os aparelhos. É possível usar os pontos para resgatar esteiras, bicicletas e acessórios, como elásticos e tornozeleiras.
Imagem: ShutterstockPara aniversários ou mesmo o Natal vale a pena explorar a lista do programa de pontos para encontrar um presente infantil. Há ofertas de diversos brinquedos, inclusive aqueles bem procurados, como a boneca da Peppa Pig.
Imagem: ShutterstockEsses podem ser uma alternativa para quem quer fazer resgates com poucos pontos. Adquirir xampus ou escovas de dente ajuda a encurtar a lista de supermercado, o tipo de economia que se sente imediatamente.
Imagem: ShutterstockPara quem vai ter um filho ou pretende presentear um recém-nascido, há ofertas que vão de um simples babador a um conjunto de saída de maternidade.
Imagem: ShutterstockUma boa opção entre resgates com menos de mil pontos e que ajuda a eliminar mais um item dos gastos semanais ou mensais.
Imagem: ShutterstockEm época de crise, para quem tem muitos pontos e não está precisando de nada em casa, vale a pena até resgatar um produto para revender
Usar pontos com inteligência é questão de planejamento e atenção. Quem ensina é a empresária Ligia Moreira Vaccari, de 37 anos, de São Paulo. Ela se cadastrou em um programa de recompensa há cerca de cinco anos, depois que ela e o marido perceberam que estavam perdendo uma oportunidade. "Vimos que gastávamos muito no cartão e decidimos aproveitar", diz.
Ligia calcula ter adquirido com pontos "entre dez e quinze" itens, como uma limpadora a vapor, jogos de videogame, um HD externo e dois secadores de cabelo – um para ela e outro que deu como presente de Natal. Através do programa de recompensa, Ligia comprou também três e-readers Kindle, da Amazon.
Apesar de terem cartões de bancos diferentes, ela e o marido sempre transferem pontos para o mesmo programa. Além disso, eles decidiram concentrar os gastos no crédito. "Tudo que a gente compra é no cartão, mesmo se custar R$ 10. São valores pequenos que, juntos, somam um montante legal para virar recompensa", diz.
A empresária também dá preferência a lojas parceiras de seu programa de fidelidade. Assim, ganha duas vezes: uma por usar o cartão de crédito e outra por comprar com um parceiro. Estar sempre atenta às promoções é outra estratégia de Ligia. "Às vezes, eles dão bônus para transferências feitas em determinado período, então se você passar dez mil pontos, recebe doze mil", exemplifica.
Outro ponto importante é que Ligia só faz negócio depois de verificar se o resgate é mesmo vantajoso. "Pesquiso quanto o produto custa em reais. Se, por exemplo, o preço no programa é 10 mil pontos, calculo quanto teria que gastar para juntar novamente esse valor", diz. Então, ela avalia se a compra com pontos é mesmo a melhor opção. Foi seguindo esses passos que Ligia conseguiu comprar uma máquina de costura que incorporou a sua empresa de papelaria personalizada, arte em feltro e acessórios.
É comum surgir a dúvida na hora de comprar. Para solucioná-la, o melhor é negociar com o vendedor. “Você deve ter um bom desconto à vista para pagar com débito. Se não tiver, o crédito é preferível”, diz Haroldo Monteiro, professor de Finanças e Coordenador da pós-graduação em Gestão Estratégica no Varejo no Ibmec/RJ.
Um bom desconto, em geral, é aquele que é maior que o rendimento do seu dinheiro caso estivesse aplicado e só fosse retirado quando a fatura do cartão chegasse. Porém, é preciso ter alguns cuidados para usar o cartão de crédito.
Antes de decidir qual cartão de crédito terá ou se vale a pena pedir um novo, pesquise as operadoras que oferecem benefícios adequados ao seu perfil. Algumas dão descontos em programas de lazer como cinemas e parques, ou oferecem de graça pequenos serviços em casa, por exemplo. Assim você terá acesso a outras vantagens, além dos pontos e da facilidade de pagamento. Também inclua na sua pesquisa a anuidade, que deverá ser tratada como um gasto fixo.
Não adianta juntar pontos se não monitorar o prazo de validade deles: perdê-los por falta de uso é jogar dinheiro fora. Atenção aos e-mails enviados pelas operadoras: geralmente eles trazem os pontos que estão prestes a expirar. Se não tem tempo para isso, crie uma rotina. Terça sim, terça não, por exemplo, entre no site do programa de recompensas e confira seu saldo.
Não como um novo tipo de renda: utilize o cartão de crédito para fazer as compras que já fazia antes. Aumentar os gastos para acumular mais pontos não tem sentido. "O cartão de crédito não é um dinheiro extra, não é para ser pago com salário do próximo mês, mas com o salário deste", diz Marcos Melo, professor de Finanças do Ibmec/DF e diretor da Valorum Gestão Empresarial. "Usando assim, de forma racional, a pessoa ganha várias vezes: tem o produto antes, se tiver dinheiro aplicado tem os juros e ainda ganha os pontos", completa.
Jamais divida o pagamento da fatura do cartão. "Pagar os juros do cartão de crédito nunca vale a pena. Não há aplicação financeira que possa render mais que essas taxas", alerta o professor Haroldo Monteiro. Já o parcelamento das compras com crédito pode ser uma alternativa para quem não tem o valor total do produto disponível no momento da compra. Porém, para fazer essa opção é preciso planejar e anotar os gastos. Caso contrário, a fatura pode acabar sendo uma surpresa desagradável, com a soma de parcelas de pequeno valor que se acumulam.
Uma alternativa para quem se descontrolou e acabou recebendo uma fatura que não consegue pagar é buscar uma fonte de financiamento mais barato. Alguns bancos oferecem crédito consignado por juros mais em conta que aqueles dos cartões de crédito. "Parcelar a fatura é uma bola de neve que vai explodir lá na frente", diz o professor Haroldo Monteiro.
Pagamentos por crédito ou débito representaram 28,5% do consumo das famílias brasileiras no primeiro semestre de 2016, contra 27,5% no mesmo período de 2015.*
O volume movimentado pelos cartões de débito e crédito cresceu 258% nos últimos oito anos. No mesmo período, o valor transacionado por cheques caiu 16%.*
Cartões de crédito são a terceira maior modalidade de crédito do Brasil, atrás do crédito imobiliário e do pessoal, segundo dados da Abecs (Associação das Empresas de Cartões).
85% das pessoas pagam o valor integral da fatura de cartão de crédito. Apenas 5% pagam o valor mínimo, 3% pagam outro valor e 7% optam pelo parcelamento da fatura.**
E assim, perder pontos, porque não foram creditados devidamente ou mesmo porque venceram. Escolha um dia da semana para monitorar o programa de recompensas e esteja atento às mensagens enviadas pelas operadoras. Em geral, elas trazem o saldo e os pontos próximos do vencimento. Algumas empresas permitem uma reativação mediante pagamento. Mas é preciso checar o prazo desses pontos e, mais uma vez, se serão de fato usados. "A pessoa faz a reativação e os pontos só valem seis meses, mas ela está esperando poder usá-los após dois anos ou mais, e acaba perdendo de novo", diz Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em gestão financeira da FGV-Rio. "Reativar e não usar é duplo prejuízo."
Tem pontos quase vencendo? Trate-os como prioridade. Abrir mão deles sem tentar usá-los é jogar dinheiro fora. "Se vai perder os pontos, qualquer coisa que faça com eles é vantajosa", afirma Ricardo Teixeira. Vale fazer um resgate menor de algo para si, para a casa ou para presentear, ou transferir os pontos para alguém querido, como um presente ou mesmo como um produto, pelo qual receberá em dinheiro. "Outra alternativa é passar para alguém com mais pontos e comprar algo junto com essa pessoa ou mesmo fazer uma doação."
Com o preço dos produtos em pontos, às vezes é difícil saber se um resgate vale ou não a pena. Para ter certeza do bom negócio, é necessário pesquisar e fazer cálculos. "Eu geralmente faço duas comparações: do preço do produto na loja e do quanto eu gastaria para comprar uma passagem aérea. Não compensa gastar dez mil pontos, ou dez mil milhas, com algo que custa em torno de cem reais", diz o ator Osvaldo Marques, de 34 anos, um exemplo de acumulador de pontos.
Saber o que quer é essencial para não gastar pontos com objetos desnecessários. Se tem objetivos demais, o risco é a pessoa não conseguir focar naquilo que realmente deseja e ficar sem isso. "É preciso priorizar o que quer, a médio e a longo prazo. O ideal é fazer uma lista e pendurar em um local bem visível, para não se distrair", sugere a planejadora financeira Mirian Lund, da Lund Finanças.
A chance de gastar pontos com algo desnecessário ou mesmo fazer um mau negócio aumenta se o tempo estiver pressionando a compra. Trate um resgate como uma compra comum, ou seja, faça com planejamento e, na dúvida, prefira dar um ou dois dias de prazo para si antes de se decidir. E tenha em mente que os produtos demoram um tempo para chegar a sua casa. Se estiver comprando um presente ou mesmo um produto de que necessite muito, leve o prazo em consideração.
Esse é um dos maiores erros porque pode comprometer seriamente o orçamento doméstico. Os especialistas são unânimes em dizer: nunca vale a pena fazer compras extras com o cartão para conseguir mais pontos. "A ideia é acumular os pontos sem gastar. Caso contrário, dificilmente é bom negócio", alerta Ricardo Teixeira, da FGV-RIO.