Rebeldes com causa

Quem diria que as 'isentonas' Suécia e Suíça seriam as primeiras a comprar briga na Copa?

Arthur Sandes e Emanuel Colombari
Arte UOL

Onde a neutralidade não tem vez

O duelo de oitavas de final das 11 horas (de Brasília) desta terça-feira (3) opõe dois países avessos a polêmicas, mas que assumiram papel de ativistas nesta Copa do Mundo. Os suíços defenderam a independência do Kosovo, enquanto a Suécia levantou-se contra as ofensas racistas direcionadas a um de seus jogadores. As histórias repercutiram bastante e ganharam apoio, mas só uma das seleções levará sua bandeira adiante na próxima fase.

O meia-atacante Xherdan Shaqiri foi o primeiro a se posicionar quanto ao conflito geopolítico envolvendo o Kosovo, onde nasceu. O país não tem a sua independência reconhecida pela Sérvia, apesar de tê-la declarado em 2008. Daí que Shaqiri resolveu chamar a atenção para a causa e tem usado a bandeira kosovar na chuteira. Nas comemorações de gol, o simbolismo é ainda maior: ele e Granit Xhaka fazem com as mãos a águia negra de duas cabeças, figura presente na bandeira da Albânia.

Na Suécia, o motivo da manifestação foi outro. Após cometer a falta que resultaria em gol alemão e derrota na fase de grupos, o meio-campista Jimmy Durmaz virou alvo de ofensas racistas e xenófobas de alguns torcedores — ele tem ascendência turca. O elenco rebateu de forma conjunta, com um inconfundível "f...-se o racismo". Em Estocolmo, centenas de pessoas participaram de ato em apoio a Durmaz.

Em campo, na bola, Suécia e Suíça não são nada polêmicas. Têm sido burocráticas, inclusive. Os suecos chegam à segunda fase entre trombadas e bolas jogadas na área, com vitórias sobre Coreia do Sul e México. Já a Suíça mantém invencibilidade com dois empates (contra Brasil e Costa Rica) e uma vitória (sobre a Sérvia).

Como elas jogam

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Na força

A Suécia mostrou muita potência nesta Copa do Mundo, mas pouco futebol. Classificou-se às oitavas de final com duas vitórias construídas justamente na força física, e mesmo na derrota que sofreu foi vigorosa. É um time corpulento, com todas as consequências que isso implica: dominante nas divididas, mas sem tanta habilidade com a bola. As características são refletidas claramente na estratégia de jogo: muitas bolas longas e cruzamentos para os atacantes brigarem pelo alto.

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No jeito

Na comparação com as demais seleções europeias coadjuvantes, a Suíça se destaca por ter estilo mais solto, ágil pelas pontas. Só que não conseguiu ser tão envolvente nesta Copa do Mundo. Desde a estreia contra o Brasil o time não consegue desenvolver tudo o que sabe, precisando de um arroubo de criatividade que resolva as partidas. No duelo contra os suecos, deve assumir o papel de "time grande" e ter mais tempo com a bola; mas precisa abrir os olhos com os contra-ataques rivais.

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Dean Mouhtaropoulos/Getty Images Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

Grandalhão aniversariante

Ola Toivonen completa 32 anos justamente nesta terça, quando mais uma vez tem a missão de se virar no ataque sueco. No alto de seu 1,92m, ele é o principal alvo dos lançamentos frequentes de sua seleção e vai bem de costas para o gol. Já marcou nesta Copa (contra a Alemanha) e tem funcionado melhor do que o discreto parceiro Marcus Berg, que tem acertado pouco.

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Baixinho invocado

Shaqiri se destaca na seleção suíça logo pelo biotipo. Pequeno e musculoso, ele dá trabalho na velocidade e é difícil de ser desarmado. Tem sido o principal nome da Suíça nesta Copa do Mundo, com um gol e uma assistência na fase de grupos. Tudo isso dentro de campo, porque o ponta direita ainda comprou briga política envolvendo a Sérvia e o Kosovo, assim como o parceiro Xhaka.

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Sem Ibra, sem problema

Os quinze anos de Zlatan Ibrahimovic na seleção sueca terminaram em 2016, e a equipe parece ter melhor sorte sem ele. Na primeira competição com o atacante ausente, a Suécia já pode superar todas as campanhas em que teve Ibra: em quatro Eurocopas e dois Mundiais, só sobreviveu aos grupos uma vez (queda na segunda fase da Euro-2004). Historicamente os suecos têm peso na Copa, duas vezes no terceiro lugar e um vice-campeonato quando foi sede, em 1958.

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Para se provar

Após dominar a arte de defender, a Suíça agora está disposta a dar um passo a mais. Sob comando do técnico Vladimir Petkovic, a seleção deixou para trás a imagem de ferrolho e passou a jogar mais. Neste Mundial o time teve média de 57% de posse de bola nos jogos da fase de grupos, tomando a iniciativa principalmente contra Sérvia e Costa Rica. No sexto lugar do ranking da Fifa, os suíços querem mostrar na Copa do Mundo que já não são coadjuvantes.

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Frases

Não podemos esperar para jogar. A Suécia é uma grande equipe, mas queremos jogar o nosso jogo e passar de fase.

Granit Xhaka

Granit Xhaka, camisa 10 da seleção suíça

Não temos o futebol mais atraente de se ver, os jornalistas ingleses dizem que somos entediantes, mas não me incomoda o que as pessoas acham. Felizmente, nenhum jogo é decidido por troca de passes curtos e movimentação.

Albin Ekdal

Albin Ekdal, meia da seleção sueca

Nós nos colocamos em situações desconfortáveis nos três jogos. Contra a Suécia, queremos controlar o jogo desde o começo. Estaremos famintos assim como nossos torcedores que viajaram para cá

Vladimir Petkovic

Vladimir Petkovic, técnico da seleção suíça

Blogueiros opinam

Equilíbrio total. A Suécia foi bem até na derrota para a Alemanha, tem jogo físico mas também técnico no ritmo do meia Forsberg. Para a Suiça, a referência deve ser a bela atuação, liderada por Xhaka e Shaqiri, na virada sobre a Sérvia, de estilo parecido com o adversário das oitavas.

André Rocha

André Rocha

Apesar de ter um time mais talentoso e com jogadores mais bem posicionados no cenário internacional, a Suíça tem de ficar de olho bem aberto no seu adversário das oitavas. O que falta de talento à Suécia sobra em força física, disposição e disciplina tática. Não à toa foi primeira colocada do seu grupo e ajudou a eliminar a Alemanha.

Rafael Reis

Rafael Reis

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