Caminho (nem tão) livre

Inglaterra gostou de pegar "lado fraco" da Copa, mas começa mata-mata com parada dura

Arte UOL

Valerá a pena ter ficado em segundo?

A Inglaterra não "entregou" para a Bélgica na primeira fase, mas também não ficou nada triste com a derrota por 1 a 0 e o consequente segundo lugar no grupo G. A classificação dessa maneira significou uma chave teoricamente mais fácil no mata-mata, com adversários de menos peso no caminho até a final. É verdade que do outro lado estão times do quilate de Brasil, França e Uruguai. Mas antes de pensar na rota a seguir, os ingleses têm que passar pela Colômbia.

A expectativa pelo título que não vem desde 1966, quando a Copa foi disputada em casa, está alta na Inglaterra. O técnico Gareth Southgate revigorou o time, que hoje joga um futebol mais atualizado, agradável e ofensivo, mas sem perder as virtudes tradicionais do estilo britânico. "It's coming home", cantam os torcedores – "Ela está voltando para casa", em uma referência à taça de campeão mundial e seu possível retorno ao país que inventou o esporte.

Mas a Colômbia não está muito interessada em ser apenas um degrau na escada inglesa até a decisão. Após uma classificação sofrida no grupo H, em campanha que começou com derrota para o Japão, o time chega às oitavas embalado por duas vitórias e um futebol que busca ser envolvente e, acima de tudo, alegre. Não só nas comemorações dançantes, mas também no estilo sul-americano de valorizar a técnica e ir para cima.

O caminho até as oitavas

Como elas chegam

Clive Brunskill/Getty Images Clive Brunskill/Getty Images

A velha Inglaterra, com um "quê" de Guardiola

Southgate virou técnico da Inglaterra "por acaso", após o antecessor Sam Allardyce se envolver em caso de corrupção e ser demitido. Mas o interino acabou acertando a Inglaterra e se manteve no cargo. Ele admitiu ter pegado emprestado alguns elementos do Manchester City de Guardiola, que dominou o Campeonato Inglês na temporada: a saída de bola, por exemplo, é feita de pé em pé, com três zagueiros de qualidade técnica, e sempre há dois jogadores bem abertos no campo para "esticar" a marcação adversária. As velhas virtudes inglesas, porém, ainda estão bem presentes, e seis dos oito gols até aqui nasceram da bola parada.

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Espírito sul-americano, mas com "ajustes"

A Colômbia é uma das seleções mais agradáveis de ver jogar, e isso tem muito a ver com a fé nos valores tipicamente sul-americanos do ataque. O técnico José Pekerman ousou para conseguir encaixar na equipe dois armadores de muito talento, James Rodríguez e Juan Quintero. Alguns ajustes foram necessários: James tem a missão de defender o lado esquerdo sem a bola, mas com ela, circula livremente e abre o corredor para as subidas do lateral Mojica. Some a isso a ousadia dos dribles de Cuadrado pela ponta direita e o faro de gol de Falcao García na área, e o jogo ofensivo colombiano não é assim tão diferente de um time dos anos 90.

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Herói da classificação, Mina tem teste de fogo

O primeiro semestre de Yerry Mina no futebol europeu foi para se esquecer. Nas poucas oportunidades que teve no Barcelona, já com o título espanhol garantido, o zagueiro teve atuações muito criticadas, especialmente pela dificuldade em ajustar seu posicionamento. Mas enquanto o time catalão faz planos de emprestá-lo na próxima temporada, Mina responde na Copa do Mundo com jogos espetaculares e gols decisivos, sempre comemorados com dancinhas.

Na seleção, o ex-palmeirense joga como gosta: com liberdade para sair da área e "caçar" os atacantes rivais. Assim, é um dos destaques do time. Além disso, foi o herói da classificação colombiana ao fazer de cabeça o gol da vitória sobre Senegal, e já havia aberto o caminho para os 3 a 0 sobre a Polônia da mesma forma. O fortíssimo jogo aéreo de Mina enfrentará um teste de fogo contra uma Inglaterra que tem nas jogadas ensaiadas de bola parada um de seus pontos fortes.

O novo e o velho artilheiro

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Kane: pouco brilho, muita eficiência

Capitão e talismã da Inglaterra aos 24 anos, Harry Kane já soma cinco gols na Copa do Mundo. Mas, curiosamente, ele tem fugido de suas características até aqui. O artilheiro do Tottenham começou a carreira como meia e gosta de dizer que seu jogo vai muito além dos gols, mas apareceu bem pouco nos jogos contra Tunísia e Panamá quando não estava botando a bola na rede. Foram dois gols de oportunismo em cobranças de escanteio, dois de pênalti e um "sem querer", desviando um chute de Loftus-Cheek. Contra a Colômbia, é a oportunidade de participar mais contra um adversário de mais qualidade. E se balançar a rede de novo, melhor ainda.

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Falcao: o goleador se reinventou

Falcao García sabe que não está mais no auge de seu jogo. No melhor momento da carreira, uma lesão o privou da chance de disputar a Copa de 2014. Mas o ídolo colombiano lutou para recuperar a boa forma e, aos 32 anos, enfim disputa seu primeiro Mundial. Se não tem mais o arranque explosivo que o consagrou como um dos maiores artilheiros do mundo há quatro anos, compensa com um jogo mais coletivo, muitas vezes servindo de apoio para os companheiros brilharem. Isso não quer dizer que o senso de colocação e o faro de gol não sigam apurados. Mas gol na Copa, até agora, só teve um, contra a Polônia. Falcao pode não ser o mesmo de antes, mas ainda é crucial para as pretensões da Colômbia.

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Inglaterra tem seu "10" de volta. A Colômbia terá?

Dele Alli veste a camisa 20, mas na prática é o "10" da Inglaterra. O meia do Tottenham ficou de fora do segundo jogo, contra o Panamá, por uma lesão muscular, e foi poupado diante da Bélgica, mas deverá retornar à equipe titular para encarar a Colômbia. Com ele, a Inglaterra volta a ter mais um jogador capaz de decidir na frente da área, seja com passes, finalizações ou infiltrações.

Já a Colômbia vive no seu camisa 10 o seu principal drama. James Rodríguez, que saiu do jogo com Senegal com um edema na panturrilha, terá condições de jogo? Pekerman deve esperar até o último momento para saber se poderá contar com seu atleta mais talentoso, mas dificilmente ele estará 100% fisicamente. Se não jogar, a tendência é entrar um jogador de mais força e velocidade pelo corredor esquerdo, como Muriel.

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Frases

Eu sinto como se nós começássemos a conectar o time com o público novamente. Como se nós criássemos exaltação, como se jogássemos com um estilo que realmente mostra do que os jovens jogadores ingleses são capazes

Gareth Southgate

Gareth Southgate, técnico da Inglaterra, sobre o momento do time na Copa

Ele (Mina) entrou em um momento difícil. Me parecem injustas as opiniões. Vinha de uma temporada com continuidade, chegou em um lugar onde não jogava tanto, sempre os mesmos estão em campo. Entrou em uma equipe sem encaixe

José Pekerman

José Pekerman, técnico da Colômbia, sobre o semestre ruim de Mina no Barcelona

Opinião dos blogueiros

Se os ingleses não fizeram muita questão da liderança do grupo G pensando em cruzamentos menos complicados nas quartas, podem se complicar contra uma Colômbia que valoriza a técnica com Quintero e James Rodríguez, mas é forte no jogo aéreo com o zagueiro Mina. É o grande teste até aqui para Harry Kane e uma seleção que quase sempre entrega menos que promete em Copas do Mundo

André Rocha

André Rocha

O duelo tem tudo para ser definido na bola aérea. Os colombianos contam com Mina, um dos melhores cabeceadores do planeta. Os ingleses não ficam atrás: Harry Kane e Stones também são monstruosos pelo alto. O conselho para as duas defesas é: evitem os escanteios e faltas laterais

Rafael Reis

Rafael Reis

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