Um novo G3 para o futebol?

Real, Barcelona e Bayern dominaram a Europa na última década, mas CR7 e Copa apontam novos caminhos

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Campeão da Liga dos Campeões e maior artilheiro da história do Real Madrid, Cristiano Ronaldo surpreendeu o mundo ao se transferir para a Juventus depois da Copa de 2018. Aos 33 anos, sem dar sinais de diminuir o ritmo, o português realiza uma transferência na contramão da tendência do futebol europeu nos últimos dez anos. 

Desde meados da década de 1990, o futebol italiano perdeu seu status de uma das melhores ligas europeias. Cristiano, que custará à Juve 100 milhões de euros, é o único caso da lista de dez maiores transferências da história do futebol que tem a Itália como destino. Pior, ele sai do Real Madrid, que tem dominado a Liga dos Campeões ao lado de Barcelona e Bayern de Munique desde 2010.  

Essa predominância dos três gigantes, que ganharam seis dos oito títulos distribuídos no período e estiveram em todas as finais, foi vista também nas últimas Copas do Mundo, que premiaram Espanha, Alemanha e várias das estrelas do trio. Na Rússia tem sido diferente. Com exceção da Croácia, liderada por Modric e Rakitic, as seleções que foram mais longe falam outras línguas. 

Sinal dos tempos?

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Juventus no ataque é desafio à ordem do futebol europeu

A ida de Cristiano Ronaldo à Juventus surpreende por diversos fatores. Nas dez maiores transferências da história do futebol, sem contar a de Cristiano, apenas uma, de Higuain para a Juventus, tem como destino um clube italiano. Há, entretanto, um fator importante: o argentino já atuava na Itália, defendendo o Napoli.

Não necessariamente por questões financeiras, a Série A italiana não vinha sendo um destino preferido por jogadores do primeiro escalão do futebol Mundial. Principal polo do esporte no mundo até meados da década de 1990, a Itália acabou ultrapassada por Inglaterra, Alemanha e Espanha como foco do interesse global. No Brasil, por exemplo, sequer tem um detentor definido de direitos de transmissão no momento, pouco atrativa após sete anos de domínio da Juventus. 

A aquisição de Cristiano é parte de um projeto ambicioso do clube, que envolve o salto para o escalão máximo do futebol europeu, dominado por Barcelona, Real Madrid e Bayern. “Um grande projeto de remodelar o futebol europeu”, disse o presidente Andrea Agnelli, ao Guardian, em maio. O mandatário também é líder Associação de Clubes da Europa, e defende um projeto com menos partidas domésticas e foco maior em competições continentais.

O avanço coloca pressão sobre as superpotências. O Barcelona acaba de perder Iniesta, que se transferiu, no ocaso da carreira, para o Japão. Messi já não é mais jovem, assim como Robben, estrela maior de um Bayern que vem caindo ao longo dos anos. O Real, por último, precisa lidar com a saída do ponto central de seu ataque e maior artilheiro de sua história. O futuro do futebol europeu passa pela resolução dessa equação que se apresenta. 

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Copa do Mundo muda seus protagonistas

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Bélgica busca força na Premier League

A Bélgica tem suas principais armas no futebol inglês. De lá vêm os três principais jogadores do time que eliminou o Brasil: Hazard, do Chelsea, De Bruyne, do Manchester City, e Lukaku, do Manchester United. Fora do trio ofensivo, há outros destaques, como Courtois, Fellaini, Kompany e Vertoghen. Só um jogador belga atua em um dos três clubes que dominaram o futebol europeu nos últimos nove anos: o reserva Vermaelen, zagueiro do Barcelona.

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França traz misto de vizinhos e futebol local

A França, ao contrário da Bélgica, tem em seu elenco Umtiti e Dembelé, do Barcelona, e Varane, do Real Madrid. As principais armas ofensivas de Didier Deschamps, entretanto, vêm de outros clubes.O principal atacante, Mbappé, é prata da casa. Griezmann vem da Espanha, mas do Atlético de Madri. Pogba, o maior articulador do meio de campo, atua no Manchester United, da Inglaterra.Outro titular que vem do futebol inglês é o goleiro Lloris, do Tottenham.

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Croácia destoa e é liderada por craque do Real

Dentre os semifinalistas, a Croácia é quem destoa. Seu principal craque, Modric, carrega a camisa do Real Madrid. Rakitic, seu companheiro de meio de campo, é do Barcelona. O restante da equipe é uma verdadeira mistura, com jogadores que atuam na França, Turquia, Alemanha, Itália e na própria Croácia. Referência do ataque, Mandzukic já passou pelo Bayern, mas atualmente defende a Juventus.

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Inglaterra se orgulha: é 100% "prata da casa"

A seleção inglesa mantém a tradição e tem todos os seus jogadores no futebol local. O comandante do ataque, Harry Kane, vem do Tottenham, assim como Dele Alli e Kieran Trippier. A equipe londrina é, ao lado do Manchester City, o clube que mais tem titulares na equipe de Gareth Southgate, com três. Manchester United, Arsenal e Liverpool têm representantes no time inglês.

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Copa 2010 sinalizou nova ordem. 2014 confirmou

Os anos que antecederam a Copa de 2010, na África do Sul, foram de demonstrações de força do futebol inglês na Europa. Nas três edições da Liga dos Campeões anteriores ao ano do Mundial, foram nove clubes da Inglaterra em semifinais da competição – sempre três ingleses, com um clube de fora completando o quarteto final. O cenário começou a mudar em 2010, com Barcelona, Bayern, Lyon e Inter de Milão. Aí veio a Copa. A Holanda comandada por Robben (Bayern), a Alemanha com sete atletas do Bayern (e 23 atuando no país de origem) e a Espanha com 12 nomes de Real Madrid ou Barcelona fizeram semifinais completadas pelo Uruguai, que tinha convocados espalhados por toda a Europa.

O Mundial da África sinalizou uma mudança geopolítica que entraria em prática nos anos seguintes. A Copa de 2014 representou o auge da hegemonia dos três clubes que se tornaram os maiores do mundo. Nas semifinais, o Brasil liderado por Neymar, do Barcelona, a Argentina de Messi, a Holanda de Robben, e, mais uma vez, uma Alemanha recheada de destaques do Bayern. O Real Madrid também estava representado com coadjuvantes importantes em todos os semifinalistas, com exceção da Holanda.

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