Sob a sombra de 1998

Croácia e Dinamarca duelam por chance de repetir campanhas marcantes de 20 anos atrás

Leandro Miranda Do UOL, em São Paulo

O sonho de superar uma geração de ouro

Croácia x Dinamarca pode não ser o duelo mais esperado das oitavas de final, mas as duas seleções chegam embaladas pela esperança de colocar seu nome na história. Vinte anos depois de os dois países se tornarem sensações da Copa de 1998, na França, novas gerações têm uma grande chance de marcar época novamente e repetir as trajetórias de nomes lendários.

Do lado croata, a expectativa do país é a mais alta desde que Suker, Boban, Prosinecki e companhia levaram a seleção ao terceiro lugar em 1998. A qualidade da equipe atual, liderada pelo craque Modric e contando com nomes importantes do futebol mundial, como Rakitic, Perisic e Mandzukic, já desperta debates sobre qual time é melhor. Para ser maior, porém, a Croácia de 2018 ainda tem uma longa caminhada pela frente.

O primeiro passo para isso é superar uma Dinamarca (campeã europeia em 1992) que, se não encantou como a adversária na primeira fase, também vislumbra a possibilidade de repetir os passos de uma equipe marcante. Em 1998, com o gigante Schmeichel no gol e os irmãos Laudrup liderando o ataque, a seleção eliminou nas oitavas uma das equipes mais elogiadas do Mundial, a Nigéria, com uma goleada por 4 a 1. Nas quartas, perdeu do Brasil por 3 a 2 em um jogaço.

Como elas chegam?

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A sensação da Copa?

A Croácia não tomou conhecimento dos adversários da primeira fase. Venceu confortavelmente a Nigéria, atropelou a Argentina e, com time reserva, bateu também a Islândia para fechar com 100% de aproveitamento no grupo D. A qualidade do meio-campo, o jogo ofensivo veloz pelas pontas e uma defesa sólida fazem com que a equipe seja apontada como uma das grandes sensações da Copa da Rússia. Contra a Dinamarca, os croatas são claros favoritos, mesmo que o discurso seja de manter a humildade e os pés no chão.

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Não empolgou, mas chegou

Talvez a Dinamarca seja o time classificado às oitavas de final que menos convenceu na primeira fase. No primeiro jogo, uma grande atuação do goleiro Schmeichel foi necessária para o time se safar com uma vitória por 1 a 0 sobre um Peru que dominou a partida, mas perdeu um pênalti com Cueva. Depois, dois empates modorrentos contra Austrália e França bastaram. Organização defensiva, força coletiva e eficiência nas poucas chances que aparecem na frente são os ingredientes do jogo dinamarquês. Pode não ser bonito de ver, mas tem funcionado.

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Tal pai, tal filho: Schmeichel fecha o gol, mas odeia comparações

Para a Dinamarca, os paralelos com 1998 vão além da possibilidade de eliminar um dos times mais empolgantes da Copa nas oitavas. A herança daquela geração está literalmente no sangue. Kasper Schmeichel, filho do mítico Peter Schmeichel, é o guardião da meta da seleção e para muitos o melhor goleiro do Mundial até aqui. Só o mexicano Ochoa fez mais defesas que ele (17 contra 14), mas o dinamarquês tem um aproveitamento melhor (pegou 93,3% das bolas chutadas em seu gol, contra 81% do rival).

Quando a defesa falhou, Schmeichel apareceu para salvar. Diante do poder ofensivo croata, a Dinamarca vai contar com o brilho de seu goleiro para manter uma invencibilidade que já dura 18 jogos. A comparação com o protagonismo do pai é inevitável, mas Kasper detesta que ela aconteça. "Não tem nenhuma ajuda na minha carreira. Tem sido completamente o oposto. Ainda me veem como o filho de alguém", disse ele ao jornal britânico Daily Mail.

Esperança nos camisas 10

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Modric: o melhor da história?

"Se ele não fosse croata, certamente já teria sido eleito o melhor do mundo". Essa é a opinião do zagueiro Lovren sobre Luka Modric, líder técnico não só da seleção, mas também do meio-campo do Real Madrid tricampeão europeu. Que o camisa 10 da Croácia é um craque, capaz de elevar sozinho o nível de um time, poucos questionam. A discussão sobe ele já está em outro nível: é o melhor jogador da história do país? O time de 1998 tinha talentos como o atacante Suker e os meias Boban e Prosinecki. Na opinião deste último, Modric já ocupa esse posto. "Mesmo se deixarmos de lado os troféus, a forma como ele domina o jogo é impressionante", disse.

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Eriksen: craque tem que correr

Olhando o jogo da Dinamarca, Christian Eriksen pode parecer um ponto fora da curva à primeira vista. Em meio a jogadores fortes fisicamente e que atacam de forma simples e direta, o meia do Tottenham é a pausa e, tecnicamente, o melhor do time com larga distância. Mas também sabe se adequar ao contexto: é um dos jogadores com mais quilômetros percorridos da Copa, sempre se movimentando para estar perto da jogada e ajudando defensivamente. O time não joga para Eriksen, mas ele joga para o time. Mesmo ainda não tendo brilhado como Modric, ele ganhou elogios do rival: "É um dos melhores do mundo", disse o croata Rakitic sobre ele.

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"Atacantes-problema" lá e cá

A Dinamarca terá o retorno do atacante Yussuf Poulsen, que volta de suspensão. Ele fez o gol da vitória sobre o Peru na estreia, mas também chamou atenção negativamente: além de ter tomado dois cartões amarelos em dois jogos, também fez um pênalti em cada partida que jogou! Derrubou Cueva contra os peruanos e botou a mão na bola contra os australianos.

Do outro lado, a Croácia também teve seu "atacante-problema". Não, não é Mandzukic, famoso pelo pavio curto, mas que por enquanto está tranquilo na Copa. É Nikola Kalinic, que se revoltou por ser chamado para entrar em campo só nos minutos finais da estreia contra a Nigéria, recusou-se a jogar e acabou sendo mandado de volta para casa. Agora os croatas têm só 22 jogadores.

Frases

Seremos bem diferentes desta vez. A Croácia tem excelente jogadores, mas buscaremos o ataque, progressivamente, com atitude, trabalhando com inteligência durante os 90 ou mesmo os 120 minutos e sendo muito mais fortes se formos para a prorrogação

Age Hareide

Age Hareide, técnico da Dinamarca

Na fase de grupos jogamos bem, mas não significa nada se não confirmarmos isso amanhã

Zlatko Dalic

Zlatko Dalic, técnico da Croácia

Blogueiros opinam

A Croácia é a sensação da Copa e seu principal jogador, Modric, foi o grande nome da primeira fase. Apesar do talento de Eriksen, o time da Dinamarca dificilmente será páreo para seleção do uniforme quadriculado. Qualquer outro resultado diferente da vitória croata será uma grande zebra.

Rafael Reis

Rafael Reis

A atuação nos 3 a 0 sobre a Argentina credencia a seleção de Rakitic, Modric, Perisic, Mandzukic e uma geração madura e de qualidade até a pensar em disputa de título. Mas antes deve pensar em superar a Dinamarca que pode dar trabalho pela solidez defensiva e se o meia Eriksen estiver inspirado e encontrar espaços às costas dos meio-campistas croatas.

André Rocha

André Rocha

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