Brasil 1 x 0 Croácia – Terça-feira, 13 de junho de 2006, 16h
Chefe nos libera às 14h.
Almoço rápido, leve e apimentado no tailandês. (Não queremos nada indigesto.)
“Bendito Kaká!”
Na cama redonda, último capítulo do seriado favorito com laptop no colo: “Jack se sacrificou para salvar a Sydney, que lindo!”
Beijo devagar e demorado na varanda, as ondas batendo lá embaixo.
“Um só gol nem é vantagem. E se a Croácia vira no segundo tempo?”
No telefone: “Meu anjo, ainda estou aqui, acredita? Não liberaram a gente! Mal dá pra se concentrar no trabalho, só penso no jogo! Esse Brasil tá batendo um bolão!”
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Brasil 4 x 1 Japão – Quinta-feira, 22 de junho de 2006, 16h
Direto pra minha casa.
Bolo de nozes, margaritas e húmus: açúcar pra energia, álcool pra relaxar, proteína pra força.
“Caralho, Dida! Vai tomar gol do Jáspion?!”
Tentamos vestir as roupas de látex, mas o tesão estava demais e o talco de menos.
“Deixa eu ver o jogo! Se o Brasil perde do Japão, desisto dessa Copa!”
No caminho até o quarto, tropeçamos, caímos, ficamos no sofá da sala, como adolescentes de hormônios borbulhantes.
“Êê, Ronaldo, demorô! Vamo, vamo, tem que fazer mais um!”
Lambidas longas, loucas, lúdicas, lânguidas.
“Juninhôôôô! Graças a Deus! Pronto, pronto, agora relaxei.”
Chupadas curtas, circulares, sinceras, suadas.
“Santo Ronaldo! Quatro a um!!”
No telefone: “Estou acompanhando pela internet, fazer o quê, né? Emprego escroto. Mas que goleada linda, né, amor?! Estou aí do seu lado de coração.”
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Brasil 3 x 0 Gana – Terça-feira, 26 de junho de 2006, meio-dia
A empresa nos dá a tarde inteira livre.
Almoço romântico no japonês, na mesa do fundo, para celebrar a vitória no jogo anterior: “Chupa, Japão.”
Em um shopping afastado, experimentamos sapatos e compramos livros, bebemos cachaça e tomamos sorvete.
“Não quer nem dar uma olhadinha no jogo?”
Em casa, sessão de fotografia: sombrinha refletora e fundo desfocado, látex e couro, óleos e incensos.
“Pô, Gana? Vai ser o maior passeio.”
Depilamos nossas virilhas, deitamos entre abraços. Gozamos uma, duas, três.
No telefone: “Isso é negócio de multinacional burra. Não entendem a importância do futebol! Se fossem daqui, aposto que liberavam todo mundo!”
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No sábado, a França eliminou o Brasil e nossos planos para as semifinais foram abortados. Nunca mais nos vimos. Sempre teremos aquela Copa.
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Nota: para preservar a identidade das pessoas envolvidas, os gêneros das personagens foram trocados.