Fofo com cara de mau

Não há birra com a CBF que resista ao Canarinho Pistola, a mascote mais querida do Brasil

Divulgação/CBF

Para a CBF, ele é “enfezado”. Para os torcedores, o amor à primeira vista passou pelo apelido: Canarinho Pistola. A mascote da seleção brasileira é um sucesso por onde passa. Apenas neste ano, já posou ao lado da estátua dos Beatles em Liverpool, conquistou as crianças (e as austríacas) nas ruas de Viena e fez embaixadinhas na Praça Vermelha, um dos pontos turísticos de Moscou.

Lançado no fim de 2016 com o propósito de tornar a CBF mais próxima do torcedor – ou com menos rejeição pública, após o envolvimento dos últimos três presidentes da entidade em esquemas de corrupção no futebol –, o Canarinho descolou-se da figura de seu criador em pouco tempo. O jeito irreverente, a simpatia por onde passa e a mistura de fofura com cara de mau cativaram o torcedor. A empatia só aumentou à medida que o Brasil, sob o comando de Tite, recuperou o bom futebol.

Nem o veto na Copa do Mundo abalou essa relação. Proibido de acessar o ambiente Fifa por questões comerciais da entidade, que quer prioridade à mascote oficial da competição, o Canarinho Pistola virou alvo de campanha em redes sociais: #FreeCanarinho, postaram brasileiros órfãos de seu pássaro favorito. Autorizado a seguir a seleção em treinos não-oficiais e nos bastidores, o personagem promete dividir, com Tite e Neymar, o protagonismo na busca pelo hexa. 

Quem influenciou o Canarinho Pistola?

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Benny, the Bull

Mascote do Chicago Bulls, da NBA, o touro vermelho corre como louco pelo ginásio, atira pipoca nos torcedores, provoca os rivais... Embora não tenha a cara de mau do Canarinho, tem o "espírito Pistola". A CBF admite que bebeu dessa fonte, com um personagem mais invocado, para criar a sua versão do pássaro em 2016, no auge de sua crise.

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Angry Birds

Para David Scott, diretor da Rainbow Productions, estúdio baseado em Londres especializado em mascotes, o Canarinho tem um quê de Angry Birds, franquia de sucesso mundial entre as crianças. "Parece que ele tem atitude. E ele é facilmente reconhecido. Se é popular no Brasil, então, de fato, é um sucesso", explica.

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Fuleco

"O Fuleco, apesar de algumas críticas no começo, fez muito sucesso na Copa do Mundo [de 2014]. Ele interagia com o público, divertia as crianças, foi uma atração à parte. Eu diria que o Canarinho é um legado da Copa". Quem diz é Pedro Lima, sócio da CSM Golden Goal, empresa especializada em profissionalização de mascotes.

Acolhido pela seleção, Canarinho Pistola ganhou carinho dos atletas

O Canarinho Pistola, ao que tudo indica, não deve parar na Copa. Ciente do tamanho de seu sucesso, a CBF trata o personagem com zelo e se esforça, por exemplo, para não revelar a identidade do homem por trás da fantasia. Funcionário da EA, empresa de promoção e marketing que trabalha com a seleção, ele se aproximou dos jogadores, que o tratam com carinho, e deve rodar o Brasil depois da Copa como parte do projeto do departamento de marketing da confederação.

Os reflexos do sucesso não passam apenas pelo Canarinho. Você pode até não saber, mas existe um mercado de mascotes no Brasil, e o sucesso do “Pistola” turbina o setor, com clubes cada vez mais atentos ao potencial de personagens capazes de trazer ganhos financeiros e de imagem.

O próximo a seguir os passos da CBF é o Flamengo, que tem intenção de dar mais espaço ao Urubu Rei, a mascote recém-remodelada do clube. A atual diretoria chegou a consultar empresas para construir o projeto, mas a eleição presidencial que está por vir atrasará, ao menos por enquanto, qualquer plano de “Urubu Pistola”.

Dia de mascotes tem paixão e muito cuidado com a saúde

Lucas Figueiredo/CBF Lucas Figueiredo/CBF

Mascotes estão em grupo de WhatsApp e sofrem com regra da Conmebol

O Canarinho Pistola é o topo da pirâmide, mas não faltam mascotes espalhados pelo país. Com praticamente um personagem em ação em cada clube, os responsáveis por fantasias, brincadeiras e piruetas em campo são organizados. Hoje têm mais de 80 profissionais dos mais variados esportes trocando experiências e brincadeiras em um grupo de WhatsApp criado por Léo, o leão que é mascote do Sport.

“É uma resenha louca! Tem futebol de salão, basquete, Série A, Série D. Falamos sobre punições e estudamos muito sobre o trabalho, porque no Brasil ainda não é uma ferramenta de marketing, mas só de fidelização. A gente sabe que as mascotes ajudam a plantar a sementinha, a atrair as crianças”, diz Gabriel Lagos, o Saci e assistente administrativo de relacionamento social do Internacional – entre os grandes do país, ele é só um dos quatro formalmente contratados pelos clubes.

Para uma mascote da elite do futebol nacional, até ter autorização para entrar em campo pode ser um problema. A CBF, aberta à prática, exige apenas uma autorização prévia para a presença dos personagens. A Conmebol, ao contrário, segue a Fifa e veta qualquer mascote até mesmo fora dos gramados.

Dançarinos, goleiros e amuletos. As mascotes que bombaram

  • Baleião & Baleinha

    As dancinhas de Neymar, Robinho e companhia em 2010 contaminaram todo o Santos. Inclusive as mascotes, que se tornaram reconhecidos bailarinos na Vila Belmiro. A dupla arrisca passos ousados mesmo com as limitações da fantasia inflável.

    Imagem: Divulgação/SantosFC
  • Perdendo a cabeça

    Em fevereiro de 2010, o agora comentarista Roger Flores estreava pelo Cruzeiro justamente em clássico contra o Atlético-MG. O meia marcou um gol e, na comemoração, arrancou a cabeça do Raposão para ir aos braços da torcida celeste.

    Imagem: Pedro Silveira/O Tempo/AE
  • Mascote ou goleiro?

    Ceará e Fortaleza se enfrentavam em 2017 quando o alvinegro Douglas Baggio chutou da entrada da área e mandou a bola por cima. A jogada, porém, continuou fora de campo. O Vozão, mascote cearense, defendeu com uma linda ponte.

    Imagem: Christian Alekson/cearasc.com
  • Sacis não podem torcer

    Na segunda divisão do Brasileirão feminino deste ano, o Saci do Internacional foi expulso durante jogo contra o América-MG. O árbitro alegou que ele estava torcendo demais. O personagem acabou sendo usado para motivar as coloradas para a vitória.

    Imagem: Marcio Komesu/UOL Esporte
Divulgação Divulgação

Personagens ainda são ignoradas como fonte de renda

O UOL Esporte pesquisou em lojas oficiais de 12 clubes da Série A. Entre elas, apenas cinco ofereciam algum tipo de item cujo tema era a mascote: Atlético-MG, Botafogo, Flamengo, Grêmio e Palmeiras. O Tricolor Gaúcho era o que tinha maior variedade de produtos com o Mosqueteiro – pelúcia, garrafa plástica, roupas para bebês, entre outros.

A pelúcia de uma mascote é um dos souvenires mais procurados por espectadores e turistas em Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. De um modo amplo, mas para ilustrar a força desse mercado, produtos licenciados do evento geraram mais de 100 milhões de libras (cerca de R$ 495 milhões) à organização da Olimpíada de Londres, em 2012.

"Uma mascote precisa estar envolvida com o público e ser capaz de ser replicado também em camisetas e outros produtos licenciados e, acima de tudo, em brinquedos. A pelúcia é sempre o item mais vendido em eventos esportivos. A aparência da mascote irá desenvolver uma afinidade com a equipe ou o torneio, mas também ajudará nas vendas", explica David Scott, diretor da Rainbow Productions, conceituado estúdio inglês especializado em mascotes.

Contos de Santo Paulo: sofreu com polícia e foi preso no interior

LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO

Pato quis ser mascote

Enquanto esteve emprestado pelo Corinthians ao São Paulo, Alexandre Pato não podia enfrentar o time alvinegro. Era uma frustração para o atacante, que um dia tentou se aproximar do clássico para defender o Tricolor. Pato vestiu a roupa da mascote do clube antes de um Majestoso, em março de 2015, e chegou a gravar um vídeo para o canal são-paulino no YouTube, mas não foi liberado para interpretar o Santo Paulo durante a partida.

Paulo Whitaker/Reuters Paulo Whitaker/Reuters

Santo perseguido por Ceni

O principal "vilão" do Santo Paulo era Rogério Ceni. O goleiro-artilheiro gostava de perseguir a mascote quando dava volta olímpica nos títulos do Tricolor e tentava roubar a cabeça do santo para jogar para a torcida. "Em um dos campeonatos que ganhamos, levei mais quatro mascotes para o campo e fiquei escondido. O Rogério corria até eles, arrancava a cabeça e ficava louco me procurando", conta Severino.

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