Nada é mais contraditório que uma lei tão cruel com as mulheres ser “patrocinada” por duas mulheres. Yelena Mizulina e Olga Batalina (foto) foram as responsáveis pela aprovação da legislação ao convencer membros da Duma, o congresso russo, a votar a favor da descriminalização. No Senado, só um político, o deputado Anton Milyukov, alertou as mulheres deputadas sobre o tamanho do problema. Ninguém deu ouvidos.
A norma passou muito rápido pela Duma. Apenas três votos foram contrários. Todos de homens. Em um congresso que tem 16% de representatividade feminina, número maior que no Brasil, é impressionante.
Mizulina representa o setor mais conservador da sociedade e tem o apoio da Igreja Ortodoxa. Ela é a autora do polêmico projeto de lei que proíbe a propaganda gay na Rússia. Anos atrás, ela defendia a igualdade de gênero e aprovava a implementação de cotas para mulheres na participação política, especialmente na Duma.
De uns tempos para cá, adotou um perfil mais conservador. O posicionamento é tendência na Rússia. Diante da intensificação dos conflitos com o Ocidente, especialmente desde a anexação da Crimeia, o país teve um retorno dos valores tradicionais como forma de saudar o nacionalismo e ir contra a sociedade ocidental.
Não queremos que as pessoas sejam presas por dois anos e rotuladas como criminosas para o resto das vidas por uma bofetada”.
Yelena Mizulina, que defende que o Estado não deve intervir em assuntos familiares.
Para defender a lei, ela diz que as estatísticas são deturpadas e que as entidades de defesa da mulher têm interesse em promover números alarmantes para arrecadar fundos.
“Elas também têm um interesse mercantil em promover essa agenda. Os países ocidentais têm programas de subsídios para ONGs que combatem a violência doméstica. Por causa disso, muitos tópicos estão sendo incluídos na agenda política. As ONGs inflacionam a importância deste tema para aumentar os fundos globais destinados a combater o problema”, disse Mizulina em entrevista à RT (emissora russa).
Olga Batalina, a outra deputada defensora da lei, segue o mesmo perfil: “Para nós, é extremamente importante proteger a família como uma instituição”.