Irina Izotova é criadora do "FemFest", o mais importante evento de feminismo da Rússia. Ela ficou surpresa com a repercussão que os vídeos machistas ganharam no Brasil. Para ela, a sociedade brasileira está mais madura para discutir as questões de igualdade de gênero do que os anfitriões da Copa do Mundo. Ela espera que o episódio possa afetar positivamente a sociedade russa, marcada pelo conservadorismo.
“As russas acharam que é uma piada estúpida”, diz Irina, admitindo que não houve indignação entre as suas compatriotas comparável ao barulho do Brasil. “A sociedade não consegue pensar do outro jeito. As pessoas não conseguem ver a situação do outro lado. Às vezes, nem percebem a seriedade da situação. O feminismo ajuda a pessoa a ver a situação de um jeito mais amplo. Eu acho que as discussões que vocês estão tendo no Brasil agora vão afetar a sociedade russa. Isso vai ajudar porque vai mostrar a situação de um jeito diferente. A gente vai entender que isso não é apenas uma piada, mas é um problema cultural. A gente tem que reconsiderar isso”.
Irina conta que o movimento feminista é recente no país. Segundo ela, não é comum nem que veículos abordem esse tipo de pauta. “Não temos os jornalistas com interesse neste assunto. Isso significa que vocês estão prontos para discutir, vocês estão mais abertos a isso. Acontece, provavelmente, porque o seu país tem uma história mais longa do feminismo. O feminismo aqui começou nos anos 2000-2010, ou seja, a discussão existe há apenas 10 anos. Claro que tinha algumas discussões antes, mas o movimento oficial começou recentemente”.
Irina lamenta que os assuntos não sejam tratados da mesma forma na Rússia e que o próprio governo não dê atenção a casos de assédio e violência contra a mulher. “Claro que é uma discussão grande, é discutido no nível do governo. Na Rússia, temos os casos de assédio, mas, normalmente, quando você denuncia, não tem nenhuma reação do lado do governo ou da Duma (o Parlamento russo). Eles normalmente falam que o problema não está tão grave. A nossa sociedade tem a atitude mais tradicional e por causa disso falam que está tudo bem”.
Para a feminista, há uma explicação para mais casos estarem vindo à tona em 2018 do que no Mundial realizado no Brasil, quatro anos atrás. "Tudo começa com pequenas coisas. Se a gente não tratar, fica mais sério e pode crescer", analisa. "Os torcedores representam o país. Para o brasileiro, a imagem que ele passa é importante. Se o torcedor faz isso, o que vão pensar dos outros brasileiros? Se esse movimento não parar, o Brasil vai passar a ser visto como exemplo de sexismo. Para onde vai parar o orgulho do país?", comenta.